"Senhor
Sendim, era pra cortar o cabelo se faz favor."
É
barbeiro desde que se lembra. Aprendeu com o mestre da arte, o seu pai, num
tempo em que os pagamentos eram feitos em alqueires de trigo. “O meu pai
trabalhava de pedreiro e à noite vinha prá qui prá barbearia a trabalhar, a
ganhar mais algum dinheirinho (...) fui prá escola tinha 11 anos e o meu pai
obrigava-me a vir prá qui pró pé dele, ele depois regressava do trabalho, às
cinco horas eu tinha que lhe ter a porta aberta, (...), os meus colegas a
brincar eu estava com aquela vontade de ir prá brincadeira mas ele não me
deixava [não filho tens que estar aqui que é pra ires aprendendo a arte prá
amanhã ou depois te arranjares com ela pra ganhares dinheiro como eu] ”.
Ernesto
Sendim não foi só barbeiro, na escola andava como que “incomodado com os
estudos” e queria era trabalhar, quis ser trolha. Aos 13 anos já trabalhava na
construção e aos 18 começou por conta própria. Nunca deixou de ajudar o pai na
barbearia até que ingressou no serviço militar, “fiquei apurado depois fui
tirar a recruta ao R12 n
a cidade da Guarda, Regimento de Infantaria 12 e depois
cada vez que vinha cá de licença lá vinha a ajudar o velhote porque eu antes de
ir já sabia trabalhar, já fazia umas barbitas , uns cabelitos e tal e ele
quando eu vinha cá de licença um fim de semana ou assim dava-me a cadeira pra
eu trabalhar”. Na barbearia ainda mantém a primeira cadeira de trabalho que o
seu pai teve.
Depois
de ter sido mobilizado para a Guiné regressou a Freixo, o seu pai entretanto
falecera e Ernesto voltou para a construção porque o dinheiro da barbearia era
pouco, “continuava a trabalhar na construção porque isto aqui não dava eu não
podia estar aqui todo o dia a trabalhar porque eu não tirava sequer ao menos
pra pagar a luz”. A pequena empresa de construção que tinha é que lhe permitia
ter uma vida menos desafogada onde essencialmente trabalhava na construção das
casas dos emigrantes. Porém o trabalho na construção começou a faltar “não havia
obras e então fui trabalhar e ainda andei lá 4 ou 5 dias ali ao ferro e pá, a
bacelar, as mãos rebentaram-me todas porque não estava habituado, a minha vida
não era aquela mas tinha que me sujeitar pra poder ganhar algum era mesmo
assim”. Em pouco tempo, com a ajuda de um irmão seu estabelece-se
definitivamente na barbearia, “ tinha um irmão Padre que estava no Oriente, em
Singapura, a fotografia dele até está além e foi ele que conversou comigo, veio
cá [oh Ernesto tu já vais caminhando prá idade vê lá ver se tens outras ideias,
eu ajudo-te, ficas aqui a trabalhar, ganhes 5, ganhes 10 ,ganhes o que ganhares
tu é que és o patrão]”. Começou a ser patrão no início dos anos 80 assumindo-se
como barbeiro de profissão e já depois de reformado nunca largou a arte.
Na
“Barbearia Sendim”, um dos estabelecimentos comerciais mais antigos de Freixo
de Espada à Cinta, o senhor Ernesto continua a trabalhar, agora mais contido,
mas fazendo perdurar a importância da existência do comércio tradicional.
Gabinete
de Comunicação da CM de Freixo de Espada à Cinta
Joana
Vargas
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