sexta-feira, 15 de abril de 2016

Estátua de Monsenhor Júlio Augusto Martins - Ligares



Estátua de Monsenhor Júlio Augusto Martins - Ligares

“Sabem a razão por ele estar com o chapéu na mão? Uma das vezes que nos veio visitar dizia assim “estes homens de Ligares andam sempre com o chapéu tão roto, tão roto”. Depois foi a Moncorvo a uma chapelaria, a “Chapelaria Silva”  e disse “arranje maneira de embalar estes chapéus todos, que eu compro-lhos todos” e o homem ficou sem um único chapéu. Chegou a Ligares e pôs um chapéu na mão daqueles que não tinham e substituiu os chapéus velhos pelos novos que tinha comprado. Antigamente os homens trabalhavam todos na lavoura e traziam os chapéus todos sujos, era a miséria. E então o meu tio “limpou” a Chapelaria do Silva” para dar os chapéus novos aos homens”.

Pequena história contada por duas sobrinhas de Monsenhor Júlio Augusto Martins

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Memórias Orais - Maria Margarida Morgado



“A nossa vila era uma vila com muita falta de água E depois um senhor, Almirante Sarmento Rodrigues, é que nos meteu a água cá em Freixo. Deus queira que a alminha dele esteja em descanso pelo bem que fez à vila, se não fosse ele não tínhamos a fartura da água”.

Podia ter sido corista. Era na Igreja onde melhor se sentia a cantar. Depois de casar essa vida parou, diz. “Quando passava na Praça olhava prá Igreja, chegavam-me aquelas saudades porque já não podia ir. Tinha outra vida já não podia ir, e depois olhava prá Igreja até se me soltavam as lágrimas”. O peso da dificuldade dos tempos poucas vezes deixava chegar aos sonhos e os caminhos eram por onde se pudesse ganhar “algum” para pôr comida na mesa e ver os filhos criados. Eram estes os dias, aos quais a maioria não podia fugir.

Maria Morgado é dos tempos difíceis. De não existir água e ainda assim ter que fazer todas as lides da casa.  “Naquele tempo de Inverno eram as geadas, a água gelava-se no ribeiro, tinha que a gente andar a bater pra desfazer o gelo, pra podermos lavar”. As dificuldades que lhe ficaram daquela época não deixam que se esqueça, nunca, do Senhor Almirante Sarmento Rodrigues como um grande benemérito “que trouxe a água para a sua terra”.

Hoje, aos 80 anos, as saudades de cantar são as mesmas e para que não esqueça vai dizendo umas recitas:

Meu pai, minha mãe
eu já não sou pequenina
vou à escola tão bem
porque há lá muita menina

Vamos contentes
Vamos estudar
Vamos à escola
A aprender a falar

Vamos que o dia
Nasceu mesmo agora
E pra lá chegar
É mais de uma hora

Diz com algum aperto que “antigamente não havia nada e hoje há tudo”. As distrações do trabalho eram livres, sem amarras. “Subíamos à torre, sem medo e eram assim as nossas brincadeiras”. Hoje vê que as mocidades são diferentes. Mas da sua nunca se esqueceu e diz que sempre que “o coração lhe puxar” irá continuar a cantar. 

Abril de 2015

Joana Vargas


Memórias Orais - Maria Margarida Morgado