Regiões menos conhecidas, hotéis diferentes, o regresso à
simplicidade e à genuinidade. Este é o novo conceito de luxo
Portugal está na moda para fazer turismo. A frase tem sido
dita e repetida nos últimos tempos. Mas se é verdade que o turismo português
está na moda, não é menos verdade que as modas do turismo estão a mudar. Se
antes os turistas rumavam em massa ao Algarve para aproveitar o sol e as
praias, agora procuram cada vez mais novas regiões e novas ofertas.
Do Douro ao Alentejo, de Óbidos à Comporta, as novas
tendências saltaram à vista no World Travel Market, uma das maiores feiras de
turismo do mundo, que decorreu em Londres entre 2 e 5 de novembro. Portugal
esteve representado com 50 empresas e várias regiões turísticas, e muitos foram
os operadores que visitaram o stand nacional.
“Estamos à procura de novas localizações no Algarve e também
em Lisboa”, explicou Christopher Yianni, da Saga Holidays. A empresa já oferece
pacotes para vários destinos portugueses aos turistas ingleses, e garante que a
procura é cada vez mais diversa.
“Notámos um aumento significativo no nosso negócio para o
Norte de Portugal, para o Douro, e também Lisboa, que é muito popular e muito
‘chic’ neste momento”.
Também Anna Waterman encaminha turistas para Portugal,
sobretudo britânicos e espanhóis. Atualmente, a Holiday Rental Portugal
trabalha com 75 propriedades na zona de Peniche e da Praia d’El Rey, em Óbidos.
“São muito populares entre os nossos hóspedes. No último
Verão notámos um aumento incrível na procura pela região da Costa da Prata,
acho que as pessoas estão a começar a olhar para zonas que não reparavam antes”.
Para Anna, as vantagens são óbvias.
“É muito melhor para famílias. Não é tão quente como o
Algarve, as crianças conseguem dormir confortáveis à noite, as praias são
maravilhosas e ótimas para o surf, há cultura, a cidade é linda! Cidades como
Óbidos não se encontram em mais lado nenhum!”
A Holiday Rental Portugal está à procura de novos destinos
para oferecer aos clientes e considera quem, ao contrário do que acontece com o
Algarve, “os operadores britânicos não têm muito conhecimento das outras regiões.
Mas nós achamos que há imenso potencial para regiões à volta de Troia,
Comporta, Cascais, a Costa de Lisboa…”.
A Thomas Cook, um dos maiores operadores do Reino Unido,
ainda aposta forte no Algarve, mas reconhece que há outros destinos que começam
a ser uma tendência.
“Lisboa é um destino cada vez mais procurado para
city-breaks, a Costa de Lisboa é um destino que estamos a tentar trabalhar e na
Madeira também temos registado um grande aumento. Há também o Porto, mas ainda
não chegámos lá”, revela à TVI Gary Brown, o representante para Portugal.
A crescente procura entre os britânicos fez com que a
própria transportadora aérea British Airways tenha aumentado as frequências de
Londres para Lisboa e Faro. Mas não só. “Em maio também começámos a voar para a
Madeira e a partir de fevereiro do ano que vem passamos a voar para o Porto.
Isso é reflexo precisamente do maior interesse do mercado britânico, explicou
Lucie Weasley, gestora da companhia para o aeroporto londrino de Gatwick.
Portugal nas bocas do mundo
“Não é à toa que Portugal está na moda. É porque os
portugueses têm conseguido distinguir-se, fazendo diferente dos outros,
inovando, mas respeitando a essência do que é português. E fizeram-no sem
imitar os outros, com bom gosto, e com criatividade”.
João Cotrim de Figueiredo, o presidente do Turismo de
Portugal, explica assim o reacender da paixão dos turistas por Portugal.
O esforço tem sido recompensado. Inúmeras unidades
hoteleiras têm sido distinguidas com prémios internacionais e o nome de
Portugal é presença frequente em prestigiados media estrangeiros. Nesta feira
em Londres, a TVI encontrou dois bons exemplos.
Um deles é o The Vine Hotel. Situado na Madeira, uma das
regiões onde o turismo mais tem crescido nos últimos anos, foi distinguido por
três anos consecutivos o melhor hotel de design da Europa nos World Travel
Awords. A administradora, Teresa Gonçalves, não esconde a satisfação:
“Estes prémios têm muita visibilidade. Isto espalha-se nas
redes sociais, as pessoas passam a palavra e este prémio traz muitas vantagens
em termos de notoriedade, não só ao hotel mas a toda a Madeira. Este tipo de
coisa chama a atenção. Parecendo que não, as pessoas ouvem constantemente nos
media o nome da Madeira, o nome de Portugal, e isto tem efeitos
multiplicadores”.
Quem também tem beneficiado desta cobertura noticiosa é o
Torre de Palma Wine Hotel, no coração do Alentejo, perto de Monforte. Esta
unidade abriu portas há ano e meio, e cedo se viu debaixo dos holofotes.
“Os nossos principais hóspedes estrangeiros são os
americanos, e nós nem sequer começámos a trabalhar com operadores dos Estados
Unidos. Mas achamos que há uma explicação para isso: o New York Times
mencionou-nos num artigo sobre enoturismo no Alentejo e a National Geographic
também publicou um artigo sobre o enoturismo a região. Então nós, o nosso jovem
projeto de enoturismo, ganhámos muito com isso”.
É a única explicação encontrada por Ana Isabel Rebelo, que
gere esta unidade juntamente com o marido.
Novas ofertas, a hospitalidade de sempre
Ana Isabel Rebelo explica o que atrai os turistas à herdade
Torre de Palma e ao Alentejo. O Torre de Palma Wine Hotel oferece mais do que
enoturismo: há aulas de equitação e passeios equestres com cavalos lusitanos,
workshops de agricultura, vindimas, e apanha da fruta, visitas a monumentos e
património histórico, passeios em balões de ar quente, canoagem, BTT, falcoaria,
observação de aves, loja e restaurante com produtos locais, e muito mais.
“Ali as pessoas encontram a genuinidade, a simplicidade dos
locais, os sabores regionais, a história… o luxo hoje é isso”.
Mesmo as principais cadeias hoteleiras nacionais, estão a
fazer por isso. É o caso da Vila Galé Hotéis, explica Gonçalo Rebelo de
Almeida, administrador do grupo. “A
nossa aposta vai por aí, temos tentado diversificar… já tínhamos aberto uma
unidade em Coimbra, também já tínhamos uma no Alentejo, agora abrimos outra em
Évora e fomos para o Douro, onde ainda não estávamos”.
Mesmo nos hotéis de praia, a palavra de ordem é tentar fazer
diferente. “Abrimos o Pestana Alvor South Beach, inspirado no conceito de South
Beach em Miami, em agosto, em plena época alta, e esgotou de imediato a
ocupação, e foi atirado instantaneamente para os rankings do Trip Advisor”,
congratula-se Nuno Ferreira Pires, administrador do grupo Pestana. “Porquê? O
que era assim tão diferente? Tudo: a abordagem em termos de decoração, o modelo
de operação totalmente novo, a restauração, com um conceito diferenciador,
tudo”, resume.
João Cotrim de Figueiredo elogia a postura de quem trabalha
no setor.
"Portugal é visto cada vez mais como o país que melhor
recebe, e onde toda a gente se sente em casa. O que nos distingue, o que temos
de diferente, são as pessoas. E isso não vai mudar. No essencial, temos tudo o
que é preciso para que esta onda de interesse por Portugal se mantenha por
muito tempo, desde que continuemos a trabalhar e a adaptar a nossa oferta à
realidade da procura, que vai sempre mudando”.
Um cartão-de-visita da gastronomia portuguesa em Londres
A viver em Londres há mais de seis anos, o chef Nuno Mendes
tem sido testemunha desta nova onda de interesse por Portugal, e decidiu
aproveitá-la. Em maio passado abriu a Taberna do Mercado, uma espécie de
cartão-de-visita da gastronomia portuguesa na capital inglesa.
Ali serve só comida inspirada nos pratos tradicionais
portugueses, confecionada com produtos típicos portugueses. “Aqui temos os
enchidos, os vinhos, o azeite, o peixe, as conservas… temos os sabores
tradicionais. E assim as pessoas vão conhecendo um pouco da nossa história, da
nossa maneira, da nossa tradição, aos poucos vão-se apaixonando por Portugal,
ficam a saber mais sobre regiões como o Douro, o Alentejo, a Bairrada, etc. e
ficam com vontade de visitar o país e descobrir mais”, explica.
Mais turistas mas ainda mais dinheiro
Desde o fundo da crise, em 2012, o turismo português já
recuperou cerca de 30% em volume e 40% em valor. “Quer isto dizer que temos
conseguido aumentar as receitas a um ritmo superior ao do número de turistas,
ou seja, estamos a retirar mais valor de cada visita”, aplaude o presidente do
Turismo de Portugal.
Outra forma de colocar a questão é esta: os turistas gastam
mais dinheiro quando visitam Portugal. “Há uma maior valorização do destino
Portugal e dos produtos portugueses. E é altura para aproveitar esta onda de
interesse e rentabilizá-la. Notamos que há um segmento cada vez maior, disposto
a pagar mais pelo conforto, pelo que é diferente, e nós apostamos cada vez mais
nessa diferenciação e nesse público”, admite o administrador dos Hotéis Tivoli.
Os turistas estrangeiros gastam, por dia, 31 milhões de
euros em Portugal. O setor representa já 10% da economia nacional.
Fonte: http://www.tvi24.iol.pt/economia/turistas/o-turismo-em-portugal-esta-a-mudar-estas-sao-as-novas-tendencias
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