O maior grupo produtor mundial de castanha, o
American Lorain, de capitais chineses mas cotado na bolsa de Nova Iorque, vai
apostar no Nordeste Transmontano para abastecer sobretudo o mercado francês,
mas também o alemão e o holandês. O grupo adquiriu, recentemente, uma
participação maioritária (51 por cento) da luso-francesa Conserverie Minerve,
que já detinha uma unidade de produção em Vinhais, a Cacovin, que será agora
recuperada depois de encerrada há dois anos após ter sido vendida pela
autarquia.
“Até hoje, a Minerve adquiria castanha
portuguesa mas através de outros concorrentes locais. Na altura, quando se
pensou em adquirir uma unidade aqui, seria para servir, numa primeira fase, os
interesses e as necessidades da Minerve e, numa segunda fase, para tentarmos
colocar o produto de Vinhais no território português e noutros países como
Espanha, Alemanha, Holanda e no mercado do fresco em França, através do mercado
de Paris”, explicou ao PÚBLICO Filipe Pessanha, representante do accionista
português, o Grupo Branco.
A unidade está a ultimar os preparativos para
retomar a laboração nos próximos dias, a tempo da nova época de apanha de
castanha, que começa agora a estar disponível nos soutos. De acordo com Filipe
Pessanha, serão criados, numa primeira fase, 14 postos de trabalho, mas o
objetivo é fazer “um investimento interessante para a região” de forma a que
não seja apenas um trabalho sazonal. “Quem tem uma unidade destas não pode ter
o investimento parado nos restantes seis meses do ano. Estamos à procura de
alternativas, que provavelmente passarão pelo aproveitamento de produtos
locais, como os frutos vermelhos”, acrescentou.
Depois dos problemas sentidos em Itália com a
vespa da galha, que dizimou grande parte da produção de castanha sativa
(europeia) nos últimos três anos, Portugal passou a abastecer grande parte do
mercado europeu e o preço pago ao produtor tem subido para perto dos dois euros
por quilo.
Só dos concelhos de Bragança e Vinhais sai,
todos os anos, cerca de 75% da produção de castanha em Portugal. Na região
produzem-se, actualmente, cerca de 15 mil toneladas mas o número de soutos
plantados cresceu bastante nos últimos anos pelo que a autarquia de Vinhais
estima que o valor bruto possa chegar brevemente aos 26 milhões de euros.
Apesar de ser conhecido essencialmente pelo
fumeiro, o concelho de Vinhais tem na castanha uma das principais actividades
económicas, que anima a região nesta altura do ano. De tal forma que, em 2006,
foi mesmo criada propositadamente uma feira para a promoção e venda da
castanha, a Rural Castanea (24 a 26 de Outubro), que a autarquia pretende vir a
tornar num evento semelhante à Feira do Fumeiro (que se realiza em Fevereiro).
Mas, apesar de concentrar grande parte da
produção nacional, o Nordeste Transmontano carece de unidades transformadoras.
A Cacovin, que agora será revitalizada pelo grupo chinês, era detida pela
autarquia mas foi vendida há três anos ao grupo francês Minerve.
Filipe Pessanha espera agora que esta unidade
industrial seja capaz de, “pelo menos, assegurar as necessidades anuais da
empresa”, que se cifram nas mil toneladas.
Sobre o interesse chinês nesta área, o
representante do grupo explica que não é diferente do interesse na EDP ou na
Fidelidade. “São negócios obviamente rentáveis mas a American Lorain tem mais
facilidade em escoar os seus produtos no mercado europeu. Por outro lado, os
produtos europeus são muitíssimo valorizados no Oriente, incluindo a China.
Entre um produto europeu e um produto chinês, a maioria dos chinesas que tem
possibilidade de pagar vai sempre preferir o produto europeu. Essa é, também, a
razão que os leva a investir noutros países da Europa”, conclui.
Fonte: http://www.publico.pt/local/noticia/grupo-chines-investe-na-castanha-transmontana-e-compra-fabrica-em-vinhais-1673291
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