SEC não reconduz João Mota e convida Tiago Rodrigues para
o cargo. Honrado abandona empresa que gere equipamentos culturais de Lisboa.
Tiago Rodrigues só entra em funções em Dezembro |
O encenador, dramaturgo e actor Tiago Rodrigues foi nomeado
pela Secretaria de Estado da Cultura como o novo director artístico do Teatro
Nacional D. Maria II, em Lisboa, substituindo assim João Mota, encenador e
fundador do teatro A Comuna, à frente deste teatro desde Novembro de 2011 e
cujo contrato termina no próximo mês. Tiago Rodrigues diz-se pronto “para fazer
das tripas coração” e tornar o D. Maria II “no motor da criação artística”.
Em comunicado, a Secretaria de Estado da Cultura (SEC)
anunciou ainda que Miguel Honrado, desde 2007 presidente da EGEAC, a empresa
que gere os equipamentos culturais da Câmara de Lisboa, será o novo presidente do
conselho de admnistração do mesmo teatro, substituindo assim Carlos Vargas.
Miguel Honrado, que volta ao D. Maria, onde em 1994
desenvolveu a programação internacional na área do teatro, no âmbito de Lisboa
94 – Capital Cultural da Europa, ficará em funções na empresa
camarária até Janeiro, segundo Rita Castel-Branco, directora de comunicação da
EGEAC. Contactado pelo PÚBLICO, Miguel Honrado não quis para já prestar
declarações.
Tiago Rodrigues, nascido em 1977, é actor, dramaturgo,
produtor, encenador e ainda director artístico do Mundo Perfeito, estrutura que
criou em 2003 com Magda Bizarro. É com esta companhia que tem vindo a
desenvolver o seu trabalho, tendo apresentado cerca de três dezenas de
espectáculos.
“É uma honra muito grande suceder a João Mota, que é um
artista por quem tenho uma grande admiração e amizade”, reage ao PÚBLICO Tiago
Rodrigues, mostrando-se muito “entusiasmado” com o convite que recebeu com
“especial carinho” por se tratar do D. Maria II. “É um teatro de missão,
compreendida na lei e que é muito clara, cabe-me agora interpretar essa
missão”, diz, explicando ter pela frente “muitas frentes de combate”.
Com Tiago Rodrigues no D. Maria haverá espaço para a dramaturgia
portuguesa, mas também para a universal, para a educação e para a formação de
públicos. “É para continuar o trabalho de um teatro que está em muito bom
estado”, prossegue, garantindo que a actual programação, anunciada por João
Mota em Setembro, “será cumprida e subscrita” por si.
Quando apresentou a programação para a temporada de 2014/2015,
João Mota confessou até já ter projectos para a rentrée de
2015 – se se confirmasse a sua recondução na direcção artística do D. Maria II.
O seu contrato termina a meados de Novembro, pelo que Tiago Rodrigues só deverá
entrar em funções em Dezembro. Os dois já falaram, conta Tiago Rodrigues,
explicando que ainda trabalhará com Mota até ao final do ano para compreender o
trabalho que vinha a desenvolver no teatro. Em Janeiro, assumirá as funções em
pleno.
João Mota foi convidado em Novembro de 2011 pelo então
secretário de Estado da Cultura Francisco José Viegas, depois de este ter
decidido não reconduzir Diogo Infante como director artístico. Na altura, Diogo
Infante cancelou a programação devido aos cortes financeiros – Tiago Rodrigues
chegou a manifestar-se publicamente a favor de Infante.
Sabe que tem um “grande desafio” pela frente, mas garante
que trabalhará na leitura de um teatro de missão com base naquele que tem sido
o seu trabalho até aqui. “O primeiro passo a dar será reflectir, imaginar
e dialogar”, diz, afirmando-se “cheio de energia para fazer das tripas
coração”. Tiago Rodrigues não quer que o D. Maria II seja apenas o espelho da
criação artística nacional: “Quero que seja o motor da criação artística.”
Apesar de não ter experiência na direcção de um teatro, Tiago
Rodrigues é um nome conhecido no meio. Como actor, esteve recentemente no
São Luiz, em Lisboa, e no Teatro Carlos Alberto, no Porto, com Albertine,
O Continente Celeste, peça de Gonçalo Waddington que protagonizou ao lado
de Carla Maciel.
Como encenador, o agora novo director artístico do D. Maria
II apresentou no âmbito do Alkantara Festival, em Lisboa, Bovary,
espectáculo que está em digressão. O Mundo Perfeito tem, aliás, mais sete peças
em digressão, entre as quais estão o espectáculo de 2012, Três Dedos
abaixo do Joelho, e By Heart, peça do ano passado.
Uma carreira preenchida e diversificada que passa também
pela escrita para jornais, pela participação em importantes festivais europeus
e por colaborações com o colectivo teatral belga Tg Stan, com que trabalha
desde 1998, ou a escola de dança contemporânea PARTS, de Bruxelas,
dirigida por Anne Teresa de Keersmaeker, uma das maiores coreógrafas da
actualidade.
Para Mark Deputter, director artístico do Teatro Municipal
Maria Matos, “esta é a escolha acertada em décadas”. “Já há cerca de dois anos
que penso no Tiago Rodrigues como uma opção, fico muito contente que tenha
acontecido agora, é uma óptima escolha, faz todo o sentido”, diz. “O Tiago é um
encenador que já demonstrou não só que tem um trabalho que é muito relevante,
como tem um alcance de público muito alargado, não é um nome menor
comparativamente com os outros directores do D. Maria”, explica o belga,
recentemente reconduzido na direcção artística do Maria Matos. Para Deputter, o
encenador terá agora de “encontrar o seu próprio estilo, o seu próprio
caminho”. “É bom que se tenha escolhido alguém no auge da sua carreira e que tem
força de trabalho, capaz de fazer mexer as coisas, nestes tempos difíceis para
a cultura, precisamos disso.”
Fonte: http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/d-maria-ii-1674288
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