Sinopse: Canta, Amigo, Canta – Nova Canção
Portuguesa (1960-1974) vem preencher uma lacuna existente na reduzida
bibliografia musical do nosso país. Pela primeira vez, e ao longo de 240
páginas coloridas e profusamente ilustradas, surge reunida num mesmo trabalho a
obra discográfica de cerca de 100 artistas que contribuíram decisivamente para
uma série de mudanças na música portuguesa nos últimos anos do Estado Novo.
Organizado alfabeticamente, neste livro
juntam-se os nomes mais conhecidos da chamada canção de protesto, como José
Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Luís Cília, José Mário Branco, Manuel
Freire, Fausto, Francisco Fanhais, José Jorge Letria, Carlos Alberto Moniz ou
Sérgio Godinho, e os renovadores da canção ligeira, como Paulo de Carvalho,
Fernando Tordo ou Carlos Mendes, passando por uma série de cantores e grupos
hoje menos divulgados mas que foram importantes na época. Partindo de um
trabalho de investigação inédito, pretende-se aqui dar a conhecer um período
chave da nossa história, visto pelo prisma musical.
Os músicos e discos incluídos nesta obra são a
materialização dos movimentos e das tendências musicais e culturais da época.
São percursos que aguardam serem lembrados e reconhecidos por quem se interessa
de forma apaixonada pela nossa música. Aqui fica, assim, o percurso da nova
canção portuguesa antes de Abril, de modo a que se possa compreender de forma
cabal como se chegou a todo o percurso musical posterior.
O autor: João Carlos Callixto nasceu em Lisboa
em 1977. A música portuguesa tem sido a sua paixão desde a segunda metade dos
anos 90 do século XX, mas o período sobre o qual mais se tem debruçado é aquele
que medeia entre o advento do vinil no nosso país, em meados dos anos 50, e o
denominado boom do rock português, em inícios dos anos 80.
Em 2005, publicou o livro Na Terra dos Sonhos,
uma recolha da obra poética de Jorge Palma, complementada pela discografia
detalhada deste músico, e em 2013 escreveu textos para o livro Portugal
Eléctrico, uma história ilustrada das primeiras décadas do rock em Portugal.
Colaborador de diversas editoras musicais, tem
coordenado e/ou escrito as notas para reedições de vários discos portugueses.
Em 2010, colaborou na Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX, obra em
4 volumes em que foi também responsável pela pesquisa discográfica.
Entre 2011 e 2012, foi um dos autores da série
documental em 26 episódios «Estranha Forma de Vida – Uma História da Música
Popular Portuguesa», transmitida na RTP e nomeada para o Prémio Autores 2012,
da SPA.
Actualmente, é autor do programa de música
«Passado ao Presente», transmitido semanalmente na RDP Internacional. O
presente livro é fruto da sua paixão pela obra de uma série de cantores e
grupos que transformaram o Portugal da época, com reflexos bem presentes até ao
dia de hoje.
Nasci em pleno apogeu do salazarismo, venho de
uma família de republicanos, com um avô da “Carbonária”, que esteve preso, que
fugiu, e com um pai muito próximo do Partido Comunista; cedo me foi dada a
oportunidade de conviver em reuniões de grande secretismo e com qualquer coisa
de “subversivo”, apenas para ouvir música que vinha de França, de Cuba, do
Brasil, dos Estados Unidos... tudo música proibida! A música, como outras
formas de arte, era censurada, não podiam ser vendidos os discos em Portugal,
passados na rádio, ou mesmo cantaroladas “certas músicas”...
Aos 16 anos, através desse núcleo que se
reunia para ouvir as músicas que pelo mundo fora eram cantadas como se de armas
se tratassem, conheci o Zeca e nasceu a nossa parceria, que se havia de
prolongar durante seis anos e meio. O fado de Coimbra, ao qual desde os meus
tempos de liceu estava ligado, levou-me a casa do António Portugal, ao convívio
com a família Alegre. Aí vivo intensamente o exílio do Manuel Alegre e as
“manobras” da D. Manuela e da Teresa Alegre para a publicação do livro Praça da
Canção, obra que vai inspirar o António Portugal a fazer as “trovas” para o
Adriano, em cujas gravações colaboro.
Percorro o país com o Zeca e com o Adriano
afrontando a censura prévia dos coronéis, enfrentando autorizações negadas
pelos governadores civis, gravando discos que são proibidos à nascença...
fugindo da Polícia que invadia saraus, temendo as madrugadoras visitas da
PIDE... Tudo porque a canção incomodava...
Entretanto, juntavam-se a nós outros
companheiros, uns lá fora e outros cá dentro, o Zé Mário, o Sérgio Godinho, o
Cília, o Fanhais, mais tarde os irmãos Salomé, etc., etc.
O movimento era imparável; a música em
Portugal nunca mais viria a ser a mesma coisa... A música trazia mensagens,
falava de liberdade, falava da guerra colonial, falava da opressão... A música
incomodava... mas não era suficiente...
Ouviam-se estas canções nas casernas, nos
acampamentos militares, nas colónias, nas reuniões estudantis, nas associações
operárias, nos cineclubes, nos clubes de campismo...
Outros poetas e músicos se juntaram... Veio o
Ary, o Tordo, o Paulo de Carvalho e até a Amália. Era imparável...
São precisamente algumas das transformações
musicais desses anos que este livro do João Carlos Callixto retrata, mostrando
quer os percursos dos nomes que hoje todos conhecem quer os de outros que
acabaram por ficar mais esquecidos. De certa forma, é uma obra que nos ajuda a
conhecer melhor quem fomos e somos, tal como a música que fizemos ajudou o
Portugal de então a conhecer-se melhor.
Acima de tudo, ajudou a que muitos homens e
mulheres, numa manhã de Abril, tenham vindo todos, cantando as nossas cantigas,
fazer a revolução e acabar com a ditadura...
Sim... cantar não é suficiente... mas cantar
incomoda muita gente...
Rui Pato
Músico amador, Médico
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