segunda-feira, 10 de outubro de 2016

CASA TRANSMONTANA

Foto Alto Trás- os -Montes
Brian Juan O´Neil escreveu a obra «Proprietários, lavradores e jornaleiras» publicada pela Dom Quixote na colecção “Portugal de Perto”. Descreveu nesse livro a vivência dos habitantes de uma pequena aldeia serrana chamada Fontelas, do concelho de Bragança. Numas das passagens descreve as casas típicas da aldeia desta forma:

«As casas antigas são construídas de pedra, sendo os interiores sombrios. As paredes e os tectos das cozinhas são normalmente escuras como breu.As lareiras estão acesas grande parte do ano para cozinhar e aquecer e, de Novembro até Março, penduram-se por cima da lareira grandes quantidades de porco salgado e enchidos para serem fumados.As casas estão tão juntas que se perde a privacidade; com o simples abrir das portas da frente mostram-se imediatamente a qualquer passante as cozinhas e as salas.Os aposentos ficam no andar de cima e em baixo os estábulos, as arrumações de produtos agrícolas ou a adega».
http://www.cm-mirandela.pt/index.php?oid=4011

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4 comentários:

  1. Em Maio de 1986 a Câmara Municipal de Mirandela colabora com a Escola Secundária de Mirandela na organização da Semana Cultural. Daí surgiu a publicação de uma obra intitulada «Casa Transmontana», com textos de Silvério B. Pires e fotografias de Paulo Martins.
    Os objectivos traçados foram os seguintes:
    - Divulgar a Casa Típica Transmontana;
    - Sensibilizar o meio e o poder local para a sua preservação;
    - Arquivar e divulgar um Caderno Cultural com os dados Etnográfico-Históricos da Casa Transmontana.
    A Casa Transmontana primitiva era térrea e formada por um único compartimento e uma única porta que rolava sobre a soleira. Num canto acendia-se o lume, noutro dormia a família, geralmente numerosa, e noutro salgava-se o porco.

    Desde muito cedo o homem se rodeou de animais para seu benefício. Por isso precisou de lhe dar espaço próprio e alojou-o no rés-do-chão, em terra batida.
    A montanha ofereceu ao homem transmontano a rocha, alvenaria de xisto ou granito, que foi desde sempre a matéria-prima nobre e farta de que se serviu para construir a mais modesta casa rural mas também os solares sumptuosos e apalaçados.

    Subia-se ao primeiro andar pelas escaleiras exteriores de granito, ligadas à rua apoiando-se no corrimão. A casa do lavrador mais abastado era rodeada pelo espaço curral. Neste espaço, que rodeava a casa situava-se o cabanal, onde se guardava a lenha retirada do sequeiro, já partida e livre da chuva, e as alfaias agrícolas.
    Era ainda o curral o lugar do recreio dos animais. Tinha uma grande fachada ou porta carral, de pelo menos três metros de altura para passarem livremente os carros de lenha ou de feno. É este amplo espaço que o lavrador chama os roussios.
    O espaço que ficava em falso sob as escaleiras, era aproveitado para o galinheiro. Ficava um buraco na parede para as galinhas entrarem, ao qual tinham acesso por uma tábua. Daqui surgiu a expressão popular de, todos os dias ao pôr-do-sol “ir fechar o buraco das pitas”.
    Toda a parte superior da casa assentava sobre grossas traves.
    CONTINUA

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  2. Do cimo das escaleiras, passava-se à varanda de madeira, rodeada por um corrimão e situada geralmente a sul ou a nascente. É o espaço característico da casa que está a desaparecer nas novas construções. Ajudava a varanda a defesa dos ventos agrestes e regelados e do calor escaldante. Nela se secava a roupa estendida numa cana, se apanhava o sol, se expunham os cacos das malvas, craveiros e manjericos, e nas canículas se podia descansar a sesta e cerar ao fresco. Por isso, era larga para caber a mesa e os bancos, e a camarada de segadores, e coberta com a continuação do telhado.
    No bordo, o seu pé direito não chegava, ás vezes, a dois metros de altura, para melhor resguardo.
    Os beirais muito salientes, interiormente forrados com tábuas, são apoiados em pilares de madeira, espaçados. Há os balaústres de pedra trabalhada, ou simplesmente lisos, com tabuinhas cruzadas, num reticulado horizontal e vertical, sobreposto obliquamente, formando losangos, de grande efeito decorativo.
    A porta da entrada dava para a cozinha. Tinha mais um postigo (abertura móvel, na parte superior da porta para deixar sair o fumo e evitar a entrada do frio).
    A cozinha é o aposento maior e principal da casa. É necessário que seja grande e espaçosa para receber os “obreiros”, e toda a família na festa de Natal e na matança do porco.

    A lareira é rodeada de grandes e enegrecidos escanos de castanho, que lhes dão o aconchego e bem-estar, à volta do lume nos medonhos serões de Inverno.
    Sobre o trasfogueiro caem grossos troncos, em combustão viva e estaladiça.
    Os potes de ferro, a caldeira de cobre e a borralheira, o badil e as tenazes são elementos presenciais. A saída do fumo era facilitada por um pequeno cabanal, erguido no declive do telhado.
    Na trave do fumeiro penduram-se os presuntos para se ultimar a cura ao fumo.
    O almário ou louceiro era enfeitado com os jornais rebicados e colados com o miolo do pão.
    Era o ostentatório das peças artesanais de uso diário, na cozinha.

    Por detrás da lareira, muitas vezes, surgia a boca do forno, para se cozer o pão e a borralheira que armazenava a cinza a utilizar, depois na barrela.
    O colmo ou a telha vã, fabricada artesanalmente na vizinhança, cobriam a casa.
    As janelas eram encaixadas com o “espigão” na parede, seguras com a tranca, e com um banco de pedra no interior para as pessoas se sentarem às janelas, e exterior para se colocar o caco do craveiro ou do manjerico.

    O alçapão facilitava a penetração nos baixos da casa, sem sair à rua, ou era a entrada da tulha.

    Na velha arca de castanho, no canto da cozinha, guardava—se a carne de porco cozida, o pão centeio da mesa... e às vezes servia de mesa, para as refeições familiares.
    É de tal modo importante a problemática relacionada com a habitação, que a cultura popular lhe consagra alguns dos seus muitos adágios:

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  3. A casa arruinada e a bolsa vazia dão esperteza, mas tardia.

    A casa, com lar; a mulher, a fiar.

    A casa da tua tia, não vás dia a dia.

    A casa de amigo rico não vás sem ser requerido, mas à casa do necessitado vai sem ser chamado.

    A casa do amigo querido vai sempre que puderes, és sempre bem-vindo.

    A casa do mentiroso está em cinzas, e ninguém acredita que ela ardesse.

    A casa do teu irmão, não vás a cada razão.

    A casa do teu irmão, não vás em cada serão.

    A casa é a sepultura da vida.

    A casa, é Deus quem a guarda.

    A casa e o ninho, o mais pequenino.

    A casa não importa ser pequena, importa que tenha alegria.

    A casa nova, portas novas.

    A casa que lhe sobra uma quarta é uma casa farta.

    A casa que não tem gatos tem muitos ratos.

    A casa queimada, todos trazem água.

    A casa sem mulher é corpo sem alma.

    A casa velha, portas novas.

    Casa a vivos e sepultura a mortos nunca faltou.

    Casa adquirida, amizade perdida.

    Casa alheira, brasa no meio.

    Casa amiga, boa casa.

    Casa ao pé de grota ou ribeira, ou ventosa ou ratoeira.

    Casa caída, filha casada.

    Casa com a filha do rei que as pazes eu farei.

    Casas arrombadas, trancas à porta.

    Casa com curral, paraíso terreal.

    Casa com duas portas é má de guardar.

    Casa com o teu vizinho e limpa-lhe o focinho.

    Casa de beato, unhas de gato.

    Casa de canto, ou morte ou descanso.

    Casa de duque nunca pediu.

    Casa de esquina, grande tormenta e grande ruína.

    Casa de ferreiro, espeto de pau.

    Casa de ferreiro, espeto de salgueiro.

    Casa de má hora, quem lá vai não torna.

    Casa de muita gente nem de água são fartos.

    Casa de mulher feia não precisa de tramela.

    Casa de pobre, tacho de cobre.

    Casa de pombos, casa de pombos.

    Casa de terra, cavalo de erva, amigo ou palavra, tudo é nada.

    Casa derrubada é meio edificada.

    Casa dividida é casa perdida.

    Casa em que a dona preguiça, toda a gente perde missa.

    Casa em que o homem não manda, desanda.

    Casa em que todos ralham e ninguém obedece, tudo fenece.

    Casa emprestada é casa estragada.

    Casa fechada, casa arruinada.

    Casa feita, a deixa.

    Casa feita, bolsa desfeita.

    Casa feita, morte à espreita.

    Casa feita, mulher por fazer.

    Casa feita, sepultura aberta.

    Casa grande, trabalhos grandes.

    Casa hospedada, bem comida e pouco honrada.

    Casa juncada, noite longa.

    Casa mal guardada, depressa será roubada.

    Casa na praça ombreiras tem de prata.

    Casa nova, vida nova.

    Casa o asno com a égua pelo dinheiro que tem.

    Casa o teu filho quando quiseres e a tua filha quando puderes.

    Casa onde a mulher anda, mal anda.

    Casa onde caibas, roupa quanta vistas, terra quanta avistas.

    Casa onde comem dois, comem três.

    Casa onde entra o sol não entra o médico.

    Casa onde estejas e terra quantas vejas.

    Casa onde eu não cabo, ali mora o diabo.

    Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.

    Casa onde só uns têm barrigão, de nada serve lutar, porque não há solução.

    Casa onde vivas, terra a que vires.

    Casa rica cheira a queijo.

    Casa sem criancinhas, gaiola sem passarinhos.

    Casa sem filhos é colmeia sem abelhas.

    Casa sem homem nem a candeia dá luz.

    Casa varrida, cinco à porta.

    Casa varrida e mesa posta hóspedes espera.

    Casa varrida e mulher pentada, parece bem e não custa nada.

    Casa vazia, ninho de ratos.

    Casa velha tem baratas.

    Casa, vinho e potro, façam-nos outro.

    Quem casa, quer casa.

    De casa do gato, não sai farto o rato.

    De casa que tem defunto não se fecha a porta.

    De casa vai quem te manda.

    De casa vai Santa Maria para a igreja.

    Depois da casa feita, a deixa.

    Depois da casa feita se conhecem os defeitos.

    Em casa alheia asinha se prepara a ceia.

    Em casa alheia brasa no seio.

    Em casa bem regrada, ao meio-dia a olha, e à noite a salada.

    Em casa cheia depressa se faz a ceia.

    Em casa de abade, sempre há abundância.

    Em casa de cabreiro não falta o dinheiro.

    Em casa de cavaleiro, vaca e carneiro.

    Em casa de doente, o lugar não se aquente.

    Em casa de enforcado, não fales em corda.

    Em casa de enforcado não nomeies o baraço.

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  4. Em casa de ferreiro, o pior apeiro.

    Em casa de gente honesta, não há porta com tramela nem moça na janela.

    Em casa de letrado nunca faltam razões.

    Em casa de letrado, tanto se paga de pé como sentado.

    Em casa de mesquinho mais pode a mulher que o marido.

    Em casa de mulher rica, ela manda sempre e nunca.

    Em casa de mulher rica, fala o marido e ela grita.

    Em casa de músico, até os gatos miam por solfa.

    Em casa de músico, todos dançam.

    Em casa de parida ou doente o lugar que se aguente.

    Em casa de pau a mulher é espeto.

    Em casa do diabo, não se pode ser santo.

    Em casa do sisudo se faz o pão a miúdo.

    Em casa escura não entra alegria.

    Em casa não tens sardinha, na alheia pedes galinha.

    Em casa nem fumo, nem goteira, nem mulher trameleira.

    Em casa o homem teima e a mulher governa.

    Em casa onde não há dinheiro, não deve haver mais que um caixeiro.

    Em casa onde não há farinha, tudo é moinha.

    Em casa vazia, bem poupa Maria.

    Em casa vazia, Maria depressa se avia.

    Não há boa casa sem gado nem coroa.

    Não há casa farta onde a roca não ande.

    Não há casa sem Maria.

    Quando a casa está a arder, chega-se-lhe o fogo.

    Quando a casa está acabada, é que deveria ser começada.

    Uma casa sem livros é como um corpo sem alma.

    Uma casa de fome rapa outra de fartura.

    Casa onde caibas e leira que não saibas.

    Em nossa casa até a cinza fria aquece.

    Casa que não é ralhada não é bem governada.

    Quem tem telhado de vidro não pode atirar com pedras ao telhado do vizinho.

    Bem fica a fogaça alheia na casa cheia.


    Em Trás-os-Montes quando alguém chama, surge logo, em pronta receptividade, a porta escancarada e a resposta:

    “Entre quem é”.

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