segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Memórias Orais de Freixo de Espada à Cinta - Júlio Alves


“A minha infância foi bastante difícil mesmo porque depois meu pai saiu da cadeia de ser carcereiro e teve que se agarrar à agricultura e ainda éramos 5 filhos em casa e era um tempo difícil onde nós recebíamos senhas de ração para ir buscar o açúcar, o macarrão, o pão, um quarto de pão para cada filho e tínhamos bastantes dificuldades e depois tivemos um azar grande foi quando a minha mãe faleceu e que passamos muitas dificuldades”. 


Júlio Alves é natural de Freixo de Espada à Cinta mas foi por outros “mares” que fez a sua vida. De cedo teve vários ofícios mas acabou por ingressar na Marinha onde fez várias missões na Índia e no Continente Africano. “Estive sete meses num campo de concentração na Índia, aí comíamos pessimamente, formávamos 2 e 3 vezes por dia para fazer contagem, houve uns poucos que tentaram fugir foram logo bem castigados, isto é, foram mal tratados; Davam-nos água, era difícil, havia um Capelão que nos aconselhava a pôr-mos a lata da água ao sol porque bebendo quente a água matava-nos mais a sede e eu cheguei a fazer isso. E depois dormíamos no chão, lá tínhamos uma roupita, em cima do cimento, lá arranjávamos umas tábuas, não tínhamos camas e havia pessoas que disseram cá que fomos bem tratados mas eu chamo-lhe eu hipocrisia”. 



É a bordo do “Pátria” que regressa a Portugal e ingressa num curso de fuzileiros especiais. Começa por ser destacado para Angola quando começa a Guerra das Colónias e haveria de cumprir diversas missões em Moçambique e na Guiné. As marcas da Guerra ficarão sempre para lá dos estilhaços. Júlio viu morrer muita gente, “muitos dos seus”, e as conversas derivam sempre num tempo mais à frente para não lembrar. 



Ainda fez o curso de Sargento e é nesta profissão que se reforma. Já vai para mais de vinte anos. Dos apontamentos dos seus diários fez um livro onde (d)escreve ao pormenor as faces da vida militar. Agora os dias também os dedica à companheira de todas as horas que “foi mulher, esposa, mãe e pai dos seus filhos” como sempre a evoca.


Joana Vargas

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