N.Senhora do Castelo.Fotografia de José Rodrigues |
No antigo castelo de Adeganha [concelho de Moncorvo] existia
uma passagem
subterrânea que depois foi tapada. Lá dentro ficou uma jovem
moira que os cristãos
haviam raptado e ali encerraram. Era tecedeira e tecia fios
de ouro. Pelo tempo fora, a
moura ali ficou encantada.
Um dia, um pastor andava por ali, guardando as cabras. Subiu
ao cimo das
ruínas do castelo e espreitou por um buraco. Viu umas
escadas e desceu por elas.
Começou a ver ouro, muito ouro. De repente, assustou-se e
voltou a subir, cheio de
medo. Ouviu então uma voz dizendo:
– Ah, ladrão, que me dobraste o encanto!
Era a voz da moura, lamentosa, que ali continuaria,
encantada, pelos tempos
fora. O encanto só podia ser quebrado por alguém que ali
fosse à meia noite do dia de
São João.
E foi o que aconteceu. Um outro pastor, que guardava
ovelhas, deixou perder
uma delas que entretanto parira. Foi procurá-la de noite.
Subiu ao castelo para ver se
escutava os balidos da ovelha e da cria. De repente,
espreitou pelo buraco. E lá dentro,
viu uma toalha branca, de linho, cheia de figos secos. E que
apetitosos!...
Desceu, e foi encher os bolsos. Depois foi à procura da
ovelha. Encontrou-a
junto ao castelo, presa em umas silvas e acariciando o
cordeirinho. Então meteu um
figo à boca, mas... era de ouro. Os figos eram todos de ouro
fino. Ouviu então um
barulho leve, como de avezinha, e uma palavra cheia de
ternura e felicidade:
– Obrigada!
Era a moura que voava, livre, para junto dos seus. O
encantamento havia sido
quebrado. Ficou da história uma quadra que o povo de
Adeganha continua a cantar:
Toda ela engalanada!
Ao cimo tem o castelo
Com sua moira encantada!”
Fonte
ANDRADE, Júlio – “Lenda da moira encantada de Adeganha”, in
Terra Quente, Mirandela, 1-12-1999.
in Parafita, Alexandre, Mouros Míticos em Trás-os-Monte -
contributos para um estudo dos mouros no imaginário rural
a partir de textos da literatura popular de tradição oral,
Volume II.
Publicada por ADEGANHA VIVA
Muito bonita a lenda.
ResponderEliminarEstas lendas andam sempre relacionadas com as festas pagãs e os solstícios : o do Verão ( 22 de Junho) e a noite mais curta do ano; o do Inverno (22 de Dezº) e a noite mais longa. A Igreja cristã, que não conseguiu apagar as festividades pagã, numa atitude inteligente, em vez de proibir substituiu essas festas por festas cristãs : São João e Natal.
Se alguma coisa estiver errada ( talvez um ou dois dias...) o Amigo António Júlio Andrade corrigirá, se faz favor.
Abraço
Júlia