O filósofo a pedalar... |
Ora escutem um pedaço de uma aula.
Professora: "O pensamento é a grandeza do homem” . Quem foi o filósofo que disse esta frase? Ninguém sabe? Pois, dentro dessas cabeças não há nada... Talvez adivinhem esta : “O coração tem razões que a razão desconhece” . Lá do fundo, uma voz a medo : Pascal .
Professora: Ah, seu malandro, já andas a namorar, não é? ( Risos na sala). Silêncio! Vamos continuar . Então pensem lá e digam certinho : “ Sou amigo de Platão, mas amo a verdade”.Nimguém sabe? Olhem que dou ZERO a todos. (Tudo caladinho ).
Professora : Vá lá. Esta encerra toda a Filosofia. Toda a gente sabe : ‘Só sei que nada sei ” . Todos os alunos em coro : Sócrates .Professora : Até que enfim sabem o nome do filósofo que disse uma frase. E agora para terminar : “O tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel” . Quem disse? Ninguém responde? Dentro dessas cabeças só há serradura ... Vou dar ZERO a todos ... .
Então, o Camané decidiu falar. Falar como um filósofo: Setôra, a frase que considero que encerra toda a Filosofia é : “Feliz aquele cujo desejo de equidade se põe nos poucos acres paternos, contente por respirar o ar natal”.
Professora : Muito bem. Concordo inteiramente. De que filósofo é essa frase?
Camané : É minha, Setôra.
Ela ficou de cara à banda, mas já havia dito que concordava inteiramente. Assim, no final do período o grande filósofo Camané teve 14 valores a Filosofia e no final do ano também. A sua aura de filósofo estendeu-se ao ano seguinte e com melhoria de nota. Quando, no final do 11º Ano, a professora lhe perguntou a nota do ano anterior, o descarado disse sem pisca de vergonha e sem hesitação : Tive 15 .
- Mas eu tenho aqui 14 .
-Setôra, deve ter reconsiderado e, no último momento, achou que eu valia o 15 .
- Bom, vou reconsiderar novamente.
O certo é que o notável filósofo, que todos bem conhecemos, acabou por, arduamente, através de grande esforço intelectual, ganhar a bela nota de 15 valores em Filosofia.
Ah, esquecia-me de vos dizer que ele havia decorado aquela pomposa frase de um qualquer romance de cordel, de que nem recorda o título nem o autor.
Um grande abraço para o Camané.
Leiria, 31 de Agosto de 2011
Júlia Ribeiro
Que delícia de história, Júlia!
ResponderEliminarObrigada e um beijinho!
Foram tempos maravilhosos esses que passei e muitas histórias, tempos que trazem alguma saudade e encanto do melhor período da nossa vida, como mostra a fotografia anexada a este post retratado pelo Sr. Francisco Garcia, (O Cabeças) meu vizinho na rua da Misericórdia, nesta altura queria ser ciclista, estava a dar os primeiros passos num triciclo e mostraria, através desta o esforço do campeão que estava a nascer.
ResponderEliminarDepois….
Na escola foi filosofo muito pelo desejo de uma professora que tive, (sabe-se lá porquê), partilhei esta minha história que foi contada magistralmente pela minha amiga Dr.ª Júlia Ribeiro a quem agradeço.
Foi muito bom a minha juventude e continua a ser, com muitas histórias para contar
Um abraço a todos e um agradecimento aqueles que apoiam o teatro “Alma de Ferro”, um projecto que juntamente com os meus amigos faço parte, e a vida continua
Carlos Ricardo
Acre é o nome de uma unidade de medida de área que equivale a 4.046,8564224 m². Desde 1958, os Estados Unidos e a Commonwealth adotaram essa medida para áreas rurais. No Brasil e Portugal essa medida não é utilizada, sendo que nestes países se utiliza o Alqueire e o Hectare (que seria a unidade mais simples de utilização) como unidade de medida em áreas rurais.
ResponderEliminarOrigem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Para entender melhor a frase do Camané fui ao google para saber o que era um acre. Encontrei este disparate de ainda considerem o alqueire como medida em uso no mundo rural.Até me esqueci do que ía dizer.Será que, se o grande Camané utilizá-se o alqueire em vez de acre, a tonta da professora aceitava?"Feliz aquele cujo desejo de imparcialidade (empatar) , se põe nos poucos Alqueires paternos e odres maternos, contente por engulir o ar das berças”.
Kámone
E vamos em 7 histórinhas.Apavorado ,pensei que parava automáticamente ás cinco crónicas.Não pare por favor,são uma delicía.Também eu tenho coisas que contar mas não sei.Quando a vir por Moncorvo ,faço como o Camané e conto-lhe as minhas aventuras e desventuras na velha escola industrial.
ResponderEliminarEduardo
Frases feitas no pior sentido dos maus concursos das televisões.Nos jornais de hoje é noticia os 37 mil professores que não foram colocados.Nos anos 70 bastava ter o sétimo ano,actual 12º, para ser professor .Como os tempos mudaram.
ResponderEliminarUm colega e amigo do actor/aluno
PS.Camané, quem foi a tua professora?
Termino sempre com um sorriso nos lábios e com um sabor a pouco ao ler estas breves crónicas da Júlinha, esta do meu vizinho de infância Camané, ilustrada com uma foto deliciosa que nos mostra a velha calçada ferrosa da rua da Misericórdia com o filósofo-actor montado num triciclo um «luxo» na altura, o meu foi comprado com o dinheiro de duas «brechas» uma minha outra do Luis Doçeiro, durou pouco nessa calçada e acabou partido depois duma «trepa» com cinto á Julio Sacristão, após badaladas incertas...mais ao fundo vê-se a casa doutro amigo de infância o Zé Sobrinho, que tinha um papagaio á janela e televisão... donde partia-mos pela manhâ rumo a escola da corredoura pelas escadas do Baldoeiro, escutava eu avidamente a descrição do filme «O Bonanza» feita pelo Zé S. que passava nas tardes de domingo, enquanto chupava o pimguelete de gelo que parti do beiral da casa da roda. Desejo rápidas melhoras á Autora e mais histórinhas.
ResponderEliminarHistórias muito bem contadas e fotografias lindíssimas. Histórias de vida e "Almas de Ferro"... Parabéns por todos estes projectos artísticos!
ResponderEliminarAbraço,
Isabel
A lógica filosofal ( que não a da batata ).
ResponderEliminarVai para 33/34 anos o Liceu era ali num edificio velho por baixo do restaurante o Lagar, com os seus pré-fabricados no quintal,onde o frio rachava e o calor nos tostava, e onde tinhamos aulas de Filosofia um ror de alunos que tinham de madrugar,- e muito, que o digam os de Freixo,os da Lousa, os de trás da serra,- e se calhar fartos de escrever textos do filosofo G. Bachelard ditados pela Sra. Professora ou porque a barriga dava horas,e querendo sair-se mais cedo para a bicha da cantina, ouve-se uma voz ansiosa a quebrar a monotonia :
- Ó Sra. Professora, temos fome!
- Cala-te seu malandro, fome têm os do Biafra. Vós tendes é APETITE...- respondia de pronto a Sra. Professora de Filosofia numa lógica inatacável.
Essa Sra. Professora infelizmente já não pertence ao mundo dos vivos. Se calhar é a mesma da história do Camané. Dela tenho muitas e gratas recordações, sobretudo quando deu aulas d´outra disciplina em que o convivio e a troca de impressões era muito mais salutar.
Um moncorvense.
Histórias lindas que vejo neste blog, muita saudade e ternura destes tempos idos mas como diz o Camané "e a vida continua", parabéns á Julia Ribeiro pelos excelentes contos que deixa neste não menos excelente blog, continuem. Obrigado por tudo, tem "Alma de Ferro" o que é Bom
ResponderEliminarOlá!
ResponderEliminarParabéns pela história. Muito bem escrita. Adoro estas pequenas histórias que não dão seca. Se fosse o Saramago (ou outro dos seus amigos) com este assunto escrevia 2 ou 3 volumes.
Já agora, a professora chamava-se Pera e era, como a maioria dos seus colegas da altura, péssima (tendo em conta os atuais padrões). No 1ºP tinha um 12 a um aluno que não existia (tinha desistido na primeira semana de aulas).
Abraços,
SA
• Torre de Moncorvo
ResponderEliminarFARRAPOS DE MEMÓRIA: FILOSOFIA(S) ,por Júlia Ribeiro
lelodemoncorvo.blogspot.com
1.111 impressõesNúmero aproximado de vezes em que esta história foi vista no teu mural e no feed de notícias dos teus fãs
Se era péssima professora, ou não, não sei.
ResponderEliminarSei , isso sim, que a mais grata recordação da Sra. Professora, foi a seguinte :
- Nas aulas de história no meu 8ºano, aí por 76, era frequente a Sra. Professora falar de muitos episódios que muito despertavam a m/ curiosidade.Entre estes ela não se cansava de falar da matrona romana que tomava banho em leite de burra e doutros episodios e, no fim,sempre nos dizia :
- Leiam o Quo Vadis!
Tanto a ouvi falar deste livro que vou ao Cardanha, e aí com uns 40 escudos que me custaram a arranjar, acabei por comprar o livro e adorei a sua leitura. E tanto adorei que foi o meu 1º livro comprado, o livro com que comecei a m/ biblioteca, e já comprei algumas preciosidades.
Assim, se tinha ou não mérito, se era competente ou não, para mim sempre me marcou e sempre a recordarei com estima por graças ao seu jeito de contar, devo à Sra. Professora o ter ganho gosto pela leitura e foi precisamente um livro por ela recomendado com que comecei a m/ biblioteca, a qual, modestia à parte, me orgulha pelas centenas que até hoje fui sempre adquirindo.
Bastaria isto, e muitos outros episódios, para sempre recordar a Sra. Dona M.P.
Um moncorvense
Olá, Comentadores e demais Blogueiros:
ResponderEliminarObrigada pelas vossas palavras amigas.
Um abraço a todos - Virgínia do Carmo, Isabel, Paulo Patoleia, Eduardo, SA, e também aos Anónimoa que ajudam à gargalhada -
e outro, muito especial, para o Camané. Vamos a outra sessão de historietas? Vale?
Júlia
Esquecia-me de dizer ao nosso Kamone que não nos podemos fiar a 100% na Wikipedia. Em caso de dúvidas referentes à Língua Portuguesa, penso que nos ajudará mais um bom dicionário.