domingo, 30 de outubro de 2016

BALDOEIRO - Fragada dos Estevais: Civitas Baniensium

Ara trabalhada nas quatro faces. Capitel composto por frontão sub-triangular e toros laterais; no topo apresenta um fóculo circular central escavado; moldura sob a cornija e na base. Face frontal profusamente decorada com motivos vegetalistas, quer a nível do capitel e da base, como na moldura do fuste que enquadra a inscrição. Campo epigráfico moldurado e com superfície rebaixada. A paginação do texto alinha-se sensivelmente segundo o eixo de simetria. A dedicatória, que envolve a oferta de uma ara de consideráveis dimensões e riqueza artística, é feita simultaneamente a IVPITER OPTIMVS MAXIMVS (essencialmente por extenso) e à CIVITAS BANIENSIVM, ou seja, à própria cidade dos Banienses.

Tradução: A Júpiter Óptimo (e) Máximo e à Cidade dos Banienses, Sulpicius Bassus como oferenda doou (ou dedicou). (Segundo ficha de Catálogo da Exposição "Religiões da Lusitânia" da autoria de José Cardim Ribeiro). IOVI / OPTIMO / MAX(imo) / CIVITATI / BANIENSV/S (sic) L(ucius) BASVS/ CVRAVIT//.

- Museu Nacional de Arqueologia

Historiadores e arqueólogos ainda não chegaram a uma conclusão quanto ao local exacto onde se situa a Civitas Baniensium. Várias são as teorias. De acordo com Jorge Alarcão em "Notas de Arqueologia", podemos considerar o seguinte:

Admitindo Valle Aritia ou Vallericia como nome correcto do pagus, não parece possível fazê-lo corresponder a Ariz (no concelho de Marco de Canaveses), dada a provável origem germânica deste topónimo (Piel, 1936, p. 35; Piel e Kremer, 1976, p. 67; Fernandes, 1999, s.v. Ariz, com testemunhos documentais aos quais se deve acrescentar pelo menos DMP, DP., III, n.º 278, de 1108). O nome deValle Aritia suscita ainda outra dúvida: o Parochiale suévico recorda-o como pagus da diocese portucalense mas repete o nome, sob a forma Vallariza, na diocese bracarense, entre os pagus Tureco e Auneco. Pierre David (1947, p. 33, 35 e 46) considerou que um primitivo pagus portucalense terá sido posteriormente integrado na diocese de Braga e identificou Valle Aritia/Vallericia/Vallariza com Vilariça, no concelho de Torre de Moncorvo. Parece difícil aceitar a hipótese de Pierre David, não obstante a autoridade do mestre. O rio Corgo (na área de Vila Real) foi a fronteira das dioceses de Braga e Portucale (ainda que possa aceitar-se alguma dúvida sobre se tal fronteira remonta à época suévica (Costa, 1959, p. 106-113, 1997, p. 35-37). A oriente do rio Corgo, o pagus Pannonias pertencia a Braga; a ocidente, o pagus Aliobrio integrava a diocese portucalense. Se Valle Aritia da diocese portucalense se identificasse com a Vilariça de Torre de Moncorvo, teríamos, de ocidente para oriente, um pagus portucalense de Aliobrio, um pagus bracarense de Pannonias e, de novo, um pagus portucalense de Vallericia — isto é, teríamos um pagus bracarense de Pannonias metido em cunha no território do bispado de Portucale e interrompendo a continuidade geográfica deste último. Parece-nos isso pouco credível. Aliás, também Avelino de Jesus da Costa (1997, p. 36, nota 38) contestou a identificação dos dois pagi. Se houve um único pagus Valle Aritia, que terá sido, em determinada altura, transferido da diocese portucalense para a bracarense, o mais aceitável será imaginá-lo em área fronteiriça entre as duas dioceses. Mas, não obstante a similitude dos nomes, não se tratará efectivamente de dois pagi diferentes? (...) No Parochiale, (...) Vallariza é apenas o nome actualizado do pagus Tureco. Mas também é verdade que o pagus Vallariza pode corresponder a circunscrição eclesiástica diferente de Tureco e acrescentada à diocese bracarense em época visigótica ou posterior. Uma cunhagem de Viterico (603-610) (Mateu y Llopis, 1936, p. 362) deixa crer que Vallearitia já existia nessa data — ainda que possa discutir-se se a cunhagem foi feita em Vallearitia da diocese portucalense ou emVallearitia do actual vale da Vilariça (Torre de Moncorvo). Em trabalho anterior (Alarcão, 2001a, p. 36), admitimos a possibilidade de o pagus Tureco corresponder à antiga civitas dos Banienses, cuja capital ficaria em Vila Morta de Santa Cruz da Vilariça (Torre de Moncorvo). Carlos Cruz (2000, p. 222) identificou, porém, essa capital no sítio de Chão da Capela, próximo da povoação de Junqueira, na freguesia de Adeganha do concelho de Torre de Moncorvo. Por outro lado, a Vila Morta de Santa Cruz da Vilariça foi, há alguns anos, objecto de escavações realizadas por Miguel A. Rodrigues e Nelson Rebanda (1998) e, segundo estes investigadores, não foram encontrados materiais que possam ou devam atribuir-se a época anterior à de D. Sancho I, época na qual o sítio terá sido pela primeira vez povoado, conforme se declara nas Inquirições de 1258 (PMH, Inq.: 1271 e 1274). O foral de Santa Cruz de Vilariça foi dado à vila por D. Sancho II, em 1225. Ainda que as onze estelas funerárias da capela do Roncal, mesmo junto da Vila Morta de Santa Cruz da Vilariça (Lemos, 1993, IIa, p. 347-348; Cruz, 2000, p. 302-303), nos deixem algumas dúvidas sobre a total ausência de povoamento romano naquela vila, aceitaremos a identificação do sítio de Chão da Capela com a capital dos Banienses.

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