Chama-se
Augusto mas o seu nome é Querima Cumbá. Este não podia ser. Disseram-lhe quando
veio para Portugal que tinha que ter nome português. Ele escolheu o do primo e
o seu, que o acompanhava desde o seu nascimento ficou na Guiné.
Quando
o patrão o trouxe para Portugal, Querima não teve oportunidade de ir ao Registo
Civil e por isso não sabe ao certo quantos anos tem. Setenta e cinco, é a idade
que tem no bilhete de identidade.
Diz
quem o conhece que nunca houve em Freixo quem conhecesse e trabalhasse as
terras como ele. “Eu conhece terra de Freixo como conhece palma da minha mão”.
Foi lavrador toda a vida até que a trombose o incapacitou de continuar a ser o
que sempre foi. Há 25 anos que está no Lar da Misericórdia em Freixo.
A
cor da pele nunca foi um problema, diz, e ele, apesar do nome que nunca foi o
seu, nunca fez questão de esconder a sua verdadeira identidade. “Dão-se todos
comigo, aqui no concelho de Freixo não tenho queixa de nenhum, era o único que
estava cá, o primeiro a chegar cá fui eu, e não tinha problema nenhum, podia ir
à casa daquele, “oh Augusto quer comer, se tem fome” mas eu não tinha fome
nenhum, eu trabalhava bem, ninguém me torcia o braço a trabalhar”. As queixas
só para o patrão, “um sacana”, desabafa. Nunca o visitou e o estatuto de “rico”
nunca foi suficiente para que alguma ajuda chegasse às mãos de Querima.
A
vida, apesar de ingrata, foi andando. Querima casou e teve um filho, e outro
que aperfilhou como tal quando este tinha cinco anos, “o seu Tiago”. Era ao pé dos
filhos e da mulher que gostava de estar mas a dependência não permite. De perto vai vendo que a família está bem e
isso vai chegando para se tranquilizar.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.