(excerto da Biografia de Amadeu Ferreira)
Amadeu Ferreira nasceu a 29 de Julho de 1950, sob o signo da
contestação, da guerra e da revolução. Era, com efeito, uma época de grande
turbulência, no plano nacional e internacional. Logo no dealbar do ano, a 2 de
Janeiro, morre na prisão o resistente antifascista Militão Ribeiro; a 25 do
mesmo mês, a Índia torna-se República; em Fevereiro, a União Indiana apresentou
ao governo português uma proposta para integração dos territórios portugueses
de Goa, Damão e Diu, que foi liminarmente recusada; a 11 de Fevereiro dois
batalhões Viet Minh atacam uma base francesa na Indochina; a 14 de Fevereiro a
China e a URSS assinam em Moscovo um Tratado de Amizade; recorde-se que em 1 de
Outubro de 1949, Mao Tsé-Tung, havia proclamado a criação da República Popular
da China; a 27 de Fevereiro Chiang Kai-shek é eleito presidente da República da
China nacionalista, sediada em Taiwan.

Façamos um breve apontamento rememorativo dos factos: A 25
de Junho deflagrara a Guerra da Coreia, opondo a Coreia do sul à Coreia do
norte; tropas da Coreia do norte atravessam o paralelo 38, linha divisória de
dois Estados de regimes políticos de sinal ideológico contrário - a República
da Coreia, a sul, e a República Popular Democrática da Coreia, a norte; a 27 de
Junho desse ano de 1950, o presidente americano Harry Truman deu ordem para a
intervenção das forças armadas neste conflito. Na primeira fase das operações,
MacArthur recebeu instruções para limitar os ataques aos agressores até ao
limite do paralelo 38º. Apesar dos desmentidos oficiais, o general não
respeitou essas instruções e ordenou um ataque aos aeródromos da Coreia do
Norte, antes da declaração do presidente Truman. Essa atitude terá obrigado as
autoridades americanas a enviar-lhe uma ordem para conservar os seus navios e
aviões fora do limite das águas territoriais da China comunista e da União
Soviética, especialmente ao largo da base de Vladivostock.
Verificada a impossibilidade de deter os invasores apenas
com ataques aéreos, o general MacArthur pediu autorização para enviar forças
terrestres. A autorização foi-lhe concedida a 3 de Julho, tendo começado a
desembarcar na Coreia os primeiros contingentes da 24ª divisão americana que se
encontrava no Japão. O Q.G. de Tóquio popularizou a expressão “perder terreno
para ganhar tempo”, que não produziu os resultados previstos. Um mês depois, os
invasores tinham ocupado dois terços da Coreia do sul e os americanos tinham
realizado simples acções de retardamento, defrontando um adversário superior em
número e muito bem equipado, sendo os americanos recrutas habituados a tarefas
fáceis no Japão, onde a presença americana era simbólica. Depois da batalha de
Taejon os efectivos americanos ficariam reduzidos a metade.
A 27 de Julho, aquando de uma visita ao quartel-general do
8º Exército, declarava o general, excessivamente optimista, garantindo que quer
se desse ou não se desse a intervenção soviética, os militares americanos
liquidariam rapidamente o incidente coreano: “Nunca estive tão certo da vitória
como agora.”