quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Memórias Orais - Texto Maria Júlia Alves



“Olhe senhor nem tínhamos tempo de ir brincar, andávamos só atrás das ovelhas e dos borregos, para um lado e para outro e íamos para casa, nas quintas era o que se fazia, depois lá já de maiorzinha trabalhava no campo, trabalhava nas vinhas, a escavar parreiras e a arrancar ervas nas vinhas, a mondar e assim se ia passando o tempo, a vida não foi fácil”.

Maria Júlia Alves não se lembra do ano em que nasceu. Sabe que foi dia 3 de janeiro. Conta pelos dedos e lá chega à idade de ouro: 83 anos. (Aqui engana-se sempre, confessa). Da memória nunca lhe passou o fim do primeiro dinheiro que ganhou. Foi mondar para comprar os primeiros sapatos, aos 8 anos de idade. “Já era garota quando me calcei, a vida era muito rigorosa. Não havia, não se ganhava, não se tinha”. Toda a sua vida trabalhou nas quintas dos “ricos”, mas o que ganhava era apenas para o sustento da família.

Maria Alves há muito que vive sozinha. Os filhos, como quase sempre, saíram cedo “do ninho” e fizeram a vida fora do concelho. Ela, vai-se governando, ainda que com o esforço da ginástica das contas.  As refeições fá-las no Lar e depois regressa a casa. “A minha reforma eram 40 contos. Dão-me 5 euros dos 40. Veja lá com o que andamos”.

A vida, ainda que dura, foi andando, mas sem dias desafogados. “No inverno íamos à lenha,  eram “escovas”, ardiam depressa mas era o que nos esquentava e enxugava. A lenha boa era para os ricos, e nós quando encontrássemos um “pauzinho” mais grosso guardava-se para passarmos a ferro”. 

O rigor da vida não permitiu que Maria deixasse as “raízes” e por Freixo foi ficando. Por ora, confessa, a vida não melhorou muito, mas vai andando, diz,  “até que Deus queira”.

abril de 2015
Joana Vargas





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