“Olhe
senhor nem tínhamos tempo de ir brincar, andávamos só atrás das ovelhas e dos
borregos, para um lado e para outro e íamos para casa, nas quintas era o que se
fazia, depois lá já de maiorzinha trabalhava no campo, trabalhava nas vinhas, a
escavar parreiras e a arrancar ervas nas vinhas, a mondar e assim se ia
passando o tempo, a vida não foi fácil”.
Maria
Júlia Alves não se lembra do ano em que nasceu. Sabe que foi dia 3 de janeiro.
Conta pelos dedos e lá chega à idade de ouro: 83 anos. (Aqui engana-se sempre, confessa).
Da memória nunca lhe passou o fim do primeiro dinheiro que ganhou. Foi mondar
para comprar os primeiros sapatos, aos 8 anos de idade. “Já era garota quando
me calcei, a vida era muito rigorosa. Não havia, não se ganhava, não se tinha”.
Toda a sua vida trabalhou nas quintas dos “ricos”, mas o que ganhava era apenas
para o sustento da família.
Maria
Alves há muito que vive sozinha. Os filhos, como quase sempre, saíram cedo “do ninho”
e fizeram a vida fora do concelho. Ela, vai-se governando, ainda que com o
esforço da ginástica das contas. As
refeições fá-las no Lar e depois regressa a casa. “A minha reforma eram 40
contos. Dão-me 5 euros dos 40. Veja lá com o que andamos”.
A
vida, ainda que dura, foi andando, mas sem dias desafogados. “No inverno íamos
à lenha, eram “escovas”, ardiam depressa
mas era o que nos esquentava e enxugava. A lenha boa era para os ricos, e nós
quando encontrássemos um “pauzinho” mais grosso guardava-se para passarmos a
ferro”.
O
rigor da vida não permitiu que Maria deixasse as “raízes” e por Freixo foi
ficando. Por ora, confessa, a vida não melhorou muito, mas vai andando,
diz, “até que Deus queira”.
abril
de 2015
Joana
Vargas
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