Doutor António Passos Coelho com o editor do blogue. Fotografia:ABL. |
Vivia numa aldeia próxima de Vila Real. Não havia
transportes públicos. Era um jovem muito franzino e doente. Descreveu essa
experiência no livro «A Gente da Minha Terra».
Só fui estudar ao 17 anos devido à doença. Alugou um quartinho em Vila Real,
não ia às festas nem aos bailes justamente por ser doente. Fica em casa a
estudar .Em dois anos fez o 2º, o 5º e o 7º anos. Aos 19 tem o ensino
secundário terminado. A doença (tuberculose) obriga-o a internamento no
Caramulo. Continua pobre. Quando recupera da doença vem para Lisboa para casa
de um tio que lhe deu alojamento e alimentação. Vai estudar Medicina.
Antes de terminar o curso a doença volta e os médicos enviam-no novamente para
o Caramulo. Dão-no como incurável. Por sorte surge, então, um medicamento novo
e cura-se.
Regressa a Lisboa para acabar o curso e especializa-se no tratamento da
tuberculose. Volta ao Caramulo como médico e chega director.
Aí monta os laboratórios de grande investigação e passa a ser um Hospital de
referência a nível nacional. A reputação dele é tão grande que o Ministro o
convida para ir para Angola (Silva Porto) afim de aí criar um sanatório.
Quando tem a primeira licença graciosa, volta à Metrópole e vai dar consultas
gratuitas ao Caramulo. É lá que ele passa as férias a cuidar dos doentes.
Em 1975 não aguenta a turbulência em Angola e regressa a Vila Real onde é
director do Hospital até ao momento em que se aposenta.
Estas informações foram recolhidas da boca do próprio Dr. António Passos Coelho
pelo meu amigo cineasta Leonel Brito, o qual acaba de me ditar este texto, que
eu me limitei a escrever.
Teresa Martins Marques.
ANTÓNIO PASSOS COELHO,
dados biobibliográficos.
Lá para os lados da “Terra de Panóias”, com
o seu santuário romano, na aldeia de Valnogueiras, concelho de Vila Real,
nasceu António Passos Coelho há mais anos do que denuncia o seu Bilhete de Identidade.
A sua aparência física, o cuidado no trajar, a afabilidade à moda antiga, a
ebulição intelectual, o culto de uma boa conversa no meio da rua, atraem e
fascinam os seus interlocutores para quem guarda sempre uma história de vida.
Do seu percurso académico salienta, com orgulho,
uma façanha que o equipara a Miguel Torga: a de ter feito os estudos
secundários em apenas três anos, o que demonstra a vontade de ir mais além, de
cumprir um grande sonho juvenil. E foi para Lisboa em cuja faculdade de Medicina
se licenciou, mau grado um interregno de dois anos provocado pela tuberculose, doença
que venceu e que talvez tenha determinado a escolha da especialidade –
pneumologia. A direcção de dois sanatórios portugueses proporcionou-lhe uma
prática clínica complementada com muito estudo e com a deslocação a congressos
sobre o flagelo que então encurtava muitas vidas. Em 1973 foi convidado a ir
para Angola no intuito de organizar a luta contra a tuberculose no distrito de
Bié. Dirigiu o curso de Tisiologia na faculdade de medicina de Luanda e exerceu
funções de Chefe do Serviço de Combate à Tuberculose. De regresso a Portugal
foram-lhe atribuídos vários cargos profissionais. Teve, até há pouco tempo,
consultório em Vila Real onde pôs a humanidade, a dedicação e a competência ao
serviço do exercício clínico.
A acumulação de experiências médicas e de
vivências pessoais, aliada a uma apetência pela literatura, explica a sua
incursão nestes domínios, tendo-se estreado em 1960 com o livro de contos Gente da Minha Terra, seguido de Histórias selvagens, de onde ressalta uma
atracção pela geografia física e humana de uma transmontaneidade rural. Estas
narrativas terão servido a António Passos Coelho de balões de ensaio para mais
altos voos narrativos.
Cultivou a poesia, reunida na colectânea Material Humano (1997), dedicada à sua
eterna companheira de rosas e de espinhos.
Em 2008, em Eu e a Minha Vila, o autor, com vocação de memorialista, narra
factos e episódios protagonizados por si ou por si testemunhados em Vila Real,
terra de residência desde 1975.
A parte mais significativa da sua obra é,
contudo, constituída pelos romances em que factos reais subjazem à efabulação: CARAMULO (2006), ZÉLIA (2008), ANGOLA, AMOR
IMPOSSÍVEL, (2011) e MEMÓRIAS DE CÉU
E INFERNO (2012). Em 2013 regressa ao conto com MAIS GENTE DA MINHA TERRA.
Caracteriza a sua escrita um esmerado uso
da língua, um comedido recurso a figuras de retórica, uma diversidade oportuna
de registos, a vivacidade de diálogos concisos, a criação de um clima de
expectativa criado no leitor, quando se trata de ficção.
Está representado em várias antologias de
autores transmontanos e é sócio fundador da Academia de Letras deTrás-os-Montes.
Hercília Agarez
Reedição de posts desde o início do blogue.
Reedição de posts desde o início do blogue.
Ana Diogo:
ResponderEliminarJá tinha gostado muito de ler este retrato no mural de Teresa Martins Marques! Agora é óptimo relê-lo aqui ilustrado com esta bela foto e os dados biobibliográficos complementares. Obg, Lelo Demoncorvo.
Já encomendei dois livros do Dr. António Passos Coelho, pois creio que era uma falta grave não ter lido ainda nada do escritor.
ResponderEliminarUm abraço
Júlia Ribeiro