Texto do editor António Lopes (Sá Gué), lido no lançamento do livro:
Exm.º Senhor Presidente da Câmara Municipal de Bragança;
Exm.º Senhor Presidente da ALTM;
Ilustres Membros das diferentes Academias aqui representadas;
Digníssimos autores,
Minhas senhoras e meus senhores;
Antes de mais, quero pedir-vos desculpa por não estar
presente no lançamento desta obra tão relevante: A Terra de Duas Línguas II, Antologia de Autores Transmontanos. De
facto, assumi compromissos para a realização de um outro evento, antes de ter
conhecimento da magnífica agenda cultural com que nos presenteia a ALTM e o
Município de Bragança, e que daqui felicito.
Classifico esta obra de relevante não só por razões
pessoais mas também por razões sentimentais. Nas pessoais incluo aquelas de
ordem mais material, aquelas que, enquanto editor, considero ser a linha de
vocação da Lema d’Origem, que se me foi
revelando, lentamente, ao longo deste breve período da sua existência e que me
parece ficar chancelada com a com a edição desta obra.
Nas razões afectivas incluo todo aquele lastro sentimental
que se gera em nós, às vezes de forma incompreensível, de amor pelas fragas,
pelos montes, pela pobreza da terra, pela dignidade humana das gentes que
habitam esta terra de duas línguas. Essa
gente que não se verga às dificuldades. Nem
que fosse necessário moer fragas para fazer pão, para citar Carlos
Carvalheira, um autor sentimentalmente transmontano, eles continuariam a manter
a espinha erguida. Incluo nesse soalho a raiva sentida quando à mais de 30 anos
me vi obrigado a deixar estas terras mas que, lentamente, se foi dissolvendo
numa ternura, que não sei explicar, mas que se me revela em toda a sua
plenitude quando bebo as palavras de Miguel Torga e do Aquilino Ribeiro.
Neste momento, vem-me à memória a pergunta, sempre pertinente,
do Dr. AMADEU FERREIRA, ilustre transmontano, quando, há um ano atrás aqui estive
com os meus Quadros da Transmontaneidade,
e me questionou: e cito de memória. “O que é que podemos fazer para sairmos
deste abandono a que fomos votados?” Na altura sei que lhe respondi de uma
forma genérica, socrática, algo como, antes
de mais conhece-te a ti mesmo. Hoje, digníssimo Dr. Amadeu Ferreira, sei
que lhe responderia de outra forma, eventualmente mais concreta e, passaria, de
certeza, por uma forte afirmação e preservação da nossa cultura, e que, eventos como este, obras como esta,
parecem-me ser uma linha de pensamento a seguir. Dir-lhe-ia abertamente que: se não nos
fizermos notar ninguém dará conta de nós, o Marão há-de continuar a fazer
fronteira.
A este propósito deixem-me que vos leia as palavras sábias
do Prof. ERNESTO RODRIGUES, impressas no
prefácio desta obra. Diz ele:
O
fundamento conservador da região é um
dos seus valores e atractivos, que deve manter, sem ignorar o mundo que nos
chega instantaneamente nas pontas dos dedos. Conservação é degrau para a
segurança. Do falar à gastronomia, do esforço e da persistência individuais aos
lugares-comuns que também alimentamos, vão laços seculares urdidos no abandono,
na coragem e na entreajuda, os quais, nem por terem semelhança com outros
microclimas culturais, deixarão jamais de caracterizar uma forma de ser franca,
mesmo se eivada de credulidade e resignação [...]
A mim, e para terminar, apetece-me dizer que esta obra é uma
autêntica viagem por aquilo que somos. Somos muito mais do que aquilo que aqui
fica nestas páginas, elas não passam de um vislumbre disso mesmo, mas não deixa
de ser uma paisagem humana riquíssima que temos a responsabilidade de deixar aos
vindouros. Qual Viagem a Portugal, de
José Saramago! Esta sim é a uma VIAGEM autêntica pelas nossas terras. Nela
viajamos muito para além das serranias, muito para além das igrejas, das
alminhas, das figueiras, dos pássaros, muito para além dos outeiros e das
quebradas. Nela viajamos pelos nossos sonhos, pela nossa poesia, pelos nossos
medos, pelo nosso passado e presente... Desde o Planalto Mirandês até aos
socalcos do Douro, passando pela Terra Quente e Fria, por aqui ecoa essa torrente
de sentimentos de que somos feitos, por aqui se navega na barca das palavras, sempre
incompleta, mas sempre bela.
SÓ POR ISTO É QUE VALE A PENA LUTAR!
António Sá Gué
Disse.
Nota do editor do blogue: .
Obrigado
Reportagem da localvisão:
http://www.localvisao.tv/index.php/tras-os-montes/1405-arte-lusofona#fprrpopup-690360013
Reedição de posts desde o início do blogue.
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Lamento muito não ter tido conhecimento de algo tão importante para o panorama cultural transmontano.
ResponderEliminarObviamente, teria ido, pois não é todos os dias que se realiza ( e se assiste a ) um evento desta envergadura para lá do Marão.
Parabéns aos organizadores, aos participantes e a todos quantos tiveram oportunidade de estar presentes.
Júlia Guarda Ribeiro