26.08.1942 – Ofício do regedor da Cardanha para o administrador do concelho de Moncorvo: - Acuso a recepção do aviso oficial de Vª Exª a comunicar-me a sua exoneração ou demissão do cargo de administrador e cumulativamente de presidente da câmara. Não estranho o procedimento de Vª Exª tão manifestamente revelador, na despedida, daquela gentileza e elegância cívicas para com a autoridade que, apesar de tão honrada, distinguida e considerada pela actual organização política do Estado Novo, é contudo e por nosso mal continuará a ser, aquela base real sim, mas ainda tão diminuída e odiada na autarquia local.
Eu recebi e sempre cumpri as ordens de Vª Exª com isenção e desvelo porque sempre o considerei um digno representante do poder central da actual situação política, a qual Vª Exª, sem dúvida alguma, tão inteligentemente e tão abnegadamente significou ou representou neste concelho durante quase 3 anos. Certo que Vª Exª e nós, humildes regedores das freguesias deste concelho nunca tivemos outro desejo senão cumprir com dedicação e desinteresse as funções de que fomos investidos soberanamente por quem de direito, visto que elas nunca colidiram também ou se opuseram, parece-me a mim, nem aos interesses do concelho nem ainda aos interesses da comunidade geral da nação que o estado Novo tão nobremente, tão inteligentemente e tão fielmente tem sabido defender e honrar.
Cardanha - 2010 |
Nunca é demais repeti-lo: acima de tudo o bem comum, a nação. Tudo pela Nação. Foi este, parece-me a mim, o verdadeiro princípio que norteou a Vª Exª durante a curta estadia nos cargos que o estado Novo lhe confiou.
Com os protestos da minha maior consideração e respeito… Casimiro Augusto Valente.
António Júlio Andrade
Olá, António Júlio:
ResponderEliminarQuem era o Presidente da Câmara de Moncorvo que pediu a exoneração?
Um abraço
Júlia
Joaquim Silvadisse: muito interessante !...
ResponderEliminarMaria Raimundo disse: um dia ainda compro esta casa
ResponderEliminarHoje, um ano após o meu 1º comentário, debruço-me sobre a breve notícia dada na Caderneta de Lembranças : a praga da violência doméstica. Notícia breve, mas que contém uma vida de miséria e morte.
ResponderEliminarFrancisco Justiniano de Castro não nos diz o que aconteceu ao assassino de duas vidas...
Para o A.Júlio Andrade o meu obrigada e um abraço amigo.
Júlia
Luis Cardoso escreveu: Simplesmente fantástico. Um Regedor (o equivalente ao actual Presidente de Junta) com uma prosa tão eloquente.É que na década de 40 do século passado, mais de 80% dos habitantes da Cardanha não sabiam ler nem escrever. Possívelmente foi escrita por algum intelectual que havia na Cardanha. A não ser que o intelectual fosse o próprio Regedor.
ResponderEliminar