[Corte do
feno. Montalegre. 2010]
Depois de longos séculos de suor, definiram sua raia a montanha e o prado,
porém, quase perdido na erva em ponto de ser feno, meteu-se entre ambos o
tractor: é outro mundo que avança com o filho em cima e nem armada de forquilha
o consegue a mãe deter: sobe-lhe das calosas mãos um angustiado azul agarrado à
camisola, deita a saia escuras raízes na terra e a sombra com que a ponta do
lenço lhe pica o já flácido e descaído seio traz-lhe aos olhos perguntas a que
não quer responder:
- quem ceifas tu, tractor, se a erva sempre cresce e eu me vejo levada com
meu mundo?
- quem vai cuidar da raia entre a pedra da montanha e o verde prado, agora
que só há olhos para as cidades, com suas belas praças e seus feios bairros
dormitório nas traseiras?
Luís Borges (foto) e Amadeu Ferreira (texto)
Em: https:/ Luís Borges Foto e Amadeu Ferreira/www.facebook.com/pages/Lu%C3%ADs-Borges-e-Amadeu-Ferreira/246368075500628 e nos Farrapos de Memória .O editor,Leonel Brito, agradece aos autores .Estas fotos e estes textos são como a amêndoa coberta:só se produzem em Trás-os-Montes,uns na Terra Fria, outros na Terra Quente.
Reedição de posts desde o início do blogue.
Texto e foto numa simbiose perfeita.Grande aquisição dos farrapos.
ResponderEliminarEntre a senhora e o tractor vão mais de 50 metros;vão 50 anos de praticas agrícolas.Ela vem do século 19,20 ,ele dá os primeiros passos no século 21.Ela é um personagem querido ao Torga ,ele aos novos autores que retratam as novas realidades.
ResponderEliminarJ
Bem hajas Leonel pelas palavras com asas, que ajudam a divulgar. Abraço arrochado.
ResponderEliminarAmadeu Ferreira