De
mansinho, somos sonegados à pacatez da Pereira Charula. Uma estranha e profética
visão apodera-se dos sentidos, rumores da diferença, apega-se a alma a imagens
outras, vulgarizam-se memórias de românticas varandas de um romântico tempo em
que a Rua da Praça ir desembocar na Praça. Tempo de desencarcerar os pleonasmos,
soltando eufemismos, e vivas dando a figuras de estilo sem estilo algum. São os
recursos expressivos, ou coisa que o valha... Divorciei-me da gramática,
separei-me da morfologia das letras, etimologicamente desprovido de
sintaxe, peremptoriamente afirmam os iluminados que regressões tive a idos
tempos de iluminações outras, a petróleo talvez, ou às avessas candeias. O
candeeiro é, hoje, outro, furtem-me a comida, que a fome não roubam. Porque os
livros estão lá, à passagem da esquina da difamação, penetra-se num mundo de
ilusões, aspira-se a inebriante voz das letras. De repente, um idílico mundo em
que as cepas se vêem adornadas a cachos de letras, doces ou amargas, verdes ou
maduras, folheia-se o tempo que pára subitamente, à medida que um quadro de
negra tela se vai ofuscando por detrás de pinceladas de giz, aquele mesmo que
preenchia lousas em recuadas épocas em que os pais, ingénuos seres de outrora,
amputados não eram da prole.
Por
entre umas baforadas de capas e contra-capas, entorta o olhar para a esquerda,
alterne-se com a direita, a fermentação de fonemas interrompida pela embriaguez
de sorrisos, recatadas faces, a Alice, disponibilidade do ser, a
Virgínia, mestre de letras, encantadora de serpentes da escrita, no seu mundo
pintado a alvinegro, colorido pela inefável, por vezes, magnânime presença da
contagiante D. Ana. Solitário remador na presença de navegadores em barcos de
papel... Ou o universo traçado a pena, indecifráveis tintas, da China, ou doutro
lado qualquer. Folga o costado de quotidianos sentires, aplaca-se a sede de
indizíveis vazios, sorve-se o tempo num alienígena espaço, que a Física tudo não
explica, venham o Hawking ou o Albert, conceptualize-se a relatividade da
quântica, relativizem-se livrescos quasares, quantifiquem-se negros buracos
literários. Opte-se, então, por descer a telúrico planeta, percorram-se
os meridianos, pausa para simpático e reconfortante café, duas de letra o dizem,
o conforto de uma troca, voam ideias. De tempos a tempos, poéticos saraus,
afinidades na partilha ou, novos autores, consagrados outros, preencha-se o
serão a velas, luminosidades de encanto, intimista, familiar, na proximidade de
um circo de letras, sopa de feras de signos conjugados a sentir.
Vezes
outras, empreendedorismo o clamam, ganha o ambiente nobres aromas, excitam-se
estomacais fluídos, revisitem-se Isabel ou Laura, venere-se Afrodite ou
retempere-se a alma a chocolate, cocktails de excêntricos sabores, ou o sabor
das compotas da Lu. Tempera-se a noite a espasmos de gulodice, condimentos do
exotismo da D.Virgínia, ou da descendente Joana, uma deglutição mais, poetiza-se
a comida, como uma sequência de estrofes do paladar, saliva em ebulição, versos
de sabor e alma. Encontram-se anormais rimas entre framboesa e maçã, nêsperas de
outra galáxia, gustativas papilas em reboliço, funde-se a amálgama num vulcão
rodeado de livros.
Há
espaços assim por Trás-os-Montes, bem no coração do Nordeste, ponto oitavo de
Pires Cabral, Terras de Cavaleiros, no despovoamento povoada por locais de
eleição, louvores ao sonho em realidade transfigurado. Há simbioses dos sentidos
que valem a pena...
VER :
http://masaedo.blogspot.pt/2012/07/poetizar-provincia.html
Reedição de posts desde o início do blogue.
Reedição de posts desde o início do blogue.
Lindo, a Virginia e a Poética merecem, um local onde entramos e não apetece sair :)
ResponderEliminarTodos os concelhos do distrito deviam ter uma VIRGINIA.Nós ,os moncorvenses não temos. Nem livraria.
ResponderEliminarPara quando uma livraria ?PASSA-SE dizem os cartazes pendurados nas montras.Fecham ou reabrem como lojas de produtos regionais seguinndo a estrela do norte que é a D. Dina.Um dia alguém ainda se vai lembrar de abrir uma POÉTICA.
Leitor
A livraria pode ser POÉTICA mas o texto é prosa de qualidade.Rui Rendeiro tem livros publicados?Sigo o seu blog com admiração .
ResponderEliminarUm cavaleiro a pé
Excelente! Parabéns, Virgínia.
ResponderEliminarAbraço
Júlia
ResponderEliminarÉ com enorme alegria que entro neste espaço tão original e tão especial e nele me vou deleitando como quem do alto da montanha avista um mar manso e sereno que acalma e dá conforto à alma.
Parabéns
Ed.T.