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Quando Guerra Junqueiro, que na altura vivia em Viana do Castelo, respondeu a um convite do grupo de amigos e literatos, os chamados “Vencidos da Vida”, para um jantar de recepção ao comum amigo e integrante da citada tertúlia literária, Eça de Queiroz, que acabava de chegar de Paris, Guerra Junqueiro respondeu em verso, como não poderia deixar de ser…, que não poderia participar uma vez que estava no “Éden do Lima” (isto é, em Viana do Castelo), mas que mandava um abraço seu, de solidariedade para tal evento e para o seu amigo Eça de Queiroz.
Muito bem, eu, como admirador incondicional do Poeta e fascinado, cada vez mais por Viana, também digo que estou no “Éden do Lima”, por isso vou falar-vos de Guerra Junqueiro e de Viana do Castelo. O meu avô materno, admirava profundamente o Poeta de Freixo de Espada à Cinta e transmitiu-me esse verdadeiro “culto”, tão querido para ele. Não raras vezes, pegava-me pela mão e levava-me, como numa viagem iniciática, aos locais onde costumava deambular o nosso Poeta: «- Vês? Aqui, na Praça da República costumava o “nosso” Junqueiro passear e compor os seus versos». Depois, continuava: «- Ali, na Casa Valença, era onde costumava conversar com os seus amigos e, no andar de cima ficava o atelier do seu alfaiate preferido, o Leão»; - «-Acolá, ficava a tabacaria Havaneza, onde o insigne Poeta comprava os seus charutos e “passava a limpo” os seus versos», antes de os mandar publicar. Da Praça da República levava-me pelas ruas da velha Viana e o nosso passeio terminava, quase sempre, na estrada que vai para a Areosa. Aí parava e dizia-me: - «- Olha, aqui compôs ele a moleirinha» (…) No regresso, passávamos pelo jardim D. Fernando, onde se situa o palácio da sua sogra que o poeta vendeu, a pedido dela, ao Estado para aí ser instalada uma escola industrial.
Guerra Junqueiro com as suas famosas barbas hebraicas, que lhe davam aquele aspecto de um venerável rabi, é uma imagem que ficou gravada para sempre na minha memória, não sabendo eu, na altura, que nos tempos em que o egrégio Poeta viveu na “velha” Viana da Foz do Lima, não usava ainda aquelas venerandas barbas patriarcais, só mais tarde (1898) as deixou crescer, quando apanhou o paludismo na sua adorada Quinta da Batoca, em Barca d’Alva. Guerra Junqueiro viveu em Viana, entre outras residências, numa casa situada na rua da Bandeira, mais precisamente na casa brasonada dos Bottos e Calheiros. Foram tempos felizes, os que viveu em Viana. Em Viana do Castelo, teve o que sempre pediu à vida: “Casa com berço, terra com água, verdura com pássaros (…)”. Aí encontrou o grande amor da sua vida, Filomena Augusta da Silva Neves, a sua «Meninha», aí se casou (na atual Igreja Matriz), aí lhe nasceram as suas duas filhas e aí escreveu grande parte da sua obra, quiçá a mais importante. A Viana do Castelo, ficará sempre ligado, o Minho “delicado, doce e meigo”, como ele escreveu, ficará sempre no seu coração de poeta e sonhador e, no momento em que deixou este sofrido mundo, os “olhos da alma” do Poeta, viraram-se mais uma vez, tenho a certeza, para a amena e verdejante paisagem do “Éden do Lima”. Na Praça da República, ainda ecoam os passos do Poeta, num contínuo «vai-e-vem» de marcha (só a marcha lhe dá o ritmo para compor um poema, como dizia ele), compondo mais um poema. A sua alma ainda vagueia pelas ruas da velha Viana, ou junto à margem do Lima, do Lethes (o rio do esquecimento da mitologia), em noites de luar. Na estrada da Areosa, ainda se ouvem os ecos do jumentinho da “moleirinha”…Fecho os olhos e “ouço” esta saudosa melodia, que minha mãe tantas vezes me cantou, na minha querida Viana do Castelo, quando eu era menino, junto da minha cama, antes de adormecer…
Espero que o amigo leitor, neste verão, percorra, com a companhia de Guerra Junqueiro, as ruas da velha Princesa do Lima.
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