Freixo de Espada à Cinta |
Quem ficou, oficialmente eram os chamados cristãos-novos, praticando no recato do seu lar, ou no de correligionários, o culto hebraico, em muito segredo. Tudo o que chamasse a atenção aos esbirros da inquisição, invejosos ou ignorantes, foi destruído ou escondido. As rezas começaram a ser feitas por mulheres, a que chamamos rezadeiras, pois as orações eram, na sua maioria feitas e transmitidas por mulheres, pois os homens andavam no comércio (almocreves, peleiros, etc.). Por isso nalgumas orações aparecem “personagens” e palavras que não são genuinamente judaicas… (influência e convivência com cristãos, e não nos podemos esquecer do analfabetismo). Depreciativamente começaram a chamar-lhes “marranos”. Como escreveu o meu amigo João Guerra: “A degradação das comunidades judaicas portuguesas acontece progressivamente, sobretudo a partir de 1536, quando é estabelecida a Inquisição.
Agora, a sobrevivência das comunidades
judaicas, enquanto tal, impunha a preservação da sua religião e identidade,
enfrentando e adaptando-se às novas circunstância de perseguição e terror. Assim,
os judeus (marranos) portugueses, vivem o judaísmo possível, observado
religiosamente na medida que lhes é possível, com um inequívoco sentido de
identidade. Este processo passou por uma atitude de comunidade. Foram
inventadas formas subtis e engenhosas de preservar e praticar a religião e
tradições judaicas, ocultando essas práticas ao mundo alheio, transmitindo-se
entre famílias de geração em geração até aos nossos dias.[1]”
Após séculos de discriminação, perseguição e
tortura, em 1821, a Inquisição foi legalmente extinta, não querendo isso
significar que o preconceito anti-judaico, deixasse de existir mesmo em
Trás-os-Montes, onde as comunidades “marranas” eram numerosas. O Liberalismo, e
mais tarde a República, trouxeram algum alívio ao sufoco psicológico, ao
preconceito, à ignorância, mas…mesmo assim, os criptojudeus continuaram no seu
secretismo, como se a maldita Inquisição ainda existisse, a mentalidade não
muda tão depressa como gostaríamos…Só no século XX se deu uma certa libertação
mental e um crescimento da população judaica em Portugal, não só pela vinda de
estrangeiros (não nos podemos esquecer de Aristides de Sousa Mendes, entre
outros…), à medida que o nazismo e o fascismo se iam instalando, mas,
sobretudo, e é isso o que mais nos interessa, pela OBRA DO RESGATE, fundada por
um judeu português, o capitão Barros Basto (Bem-Rosh). Esta obra destinava-se a
restituir ao judaísmo português a grandeza de outros tempos, ajudando a: “resgatar as suas comunidades do cativeiro
físico de dispersão e isolamento do mundo judaico e sobretudo do cativeiro
espiritual para onde séculos de perseguições e clandestinidade os haviam
atirado (…) A comunidade israelita do Porto foi fundada em 1923 pelo capitão
Barros Basto. Também fruto do movimento judaico da “Obra do Resgate”, foram
constituídas formalmente nos anos 20 e 30 as comunidades judaicas de Bragança (que
chegou a ter uma Sinagoga), Covilhã e
Pinhel, as mais importantes, Macedo de Cavaleiros, Castelo Branco e outras, e
ainda numerosas juntas judaicas (como, por exemplo, as de Vilarinho dos
Galegos e Lagoaça, de quem foi professor o meu saudoso amigo Moisés Abrantes
formado na yechiva, leia-se escola, da Sinagoga do Porto) em aldeias e vilas do Nordeste, Douro e Beiras. (…) O infame processo
contra o capitão Barros Basto e a perseguição do “Estado Novo” ao movimento da
“Obra do Regate”, levou a que nos anos 40 as Sinagogas de judeus marranos
fechassem as suas portas, uma a uma, e as comunidades se desagregassem como instituições
organizadas.[2]”.
Atualmente, no Norte a Sinagoga do
Porto tem uma “nova vida” e muito recentemente, abriu um Museu Judaico. Nessa
mesma Sinagoga, vai ser reaberta uma sala dedicada ao transmontano Amílcar Paulo, a quem se deve muitas obras
sobre os marranos transmontanos.
Não nos podemos esquecer das obras
do Abade de Baçal (Vol. V das suas Memórias), do transmontano Amílcar Paulo
(cujas origens são de Fornos, Freixo de Espada à Cinta), e ainda do António
Júlio Andrade, entre outros, de Torre de Moncorvo (desculpa de Felgueiras,
concelho de Moncorvo…), entre outros, sobre o estudo dos “marranos”, em
Trás-os-Montes.
Depois desta longa introdução, nós,
no Nordeste Transmontano, devemos explorar esta autêntica “mina” para o
desenvolvimento do Turismo Cultural (e não só…), a gastronomia, as rotas de
judeus, os centros de interpretação e outros “instrumentos”, para divulgar esta
grande nossa riqueza. É ótimo o Museu “marrano” de Carção (que deve ser
melhorado…), os futuros “Centros de Interpretação” a construir em Bragança e
Torre de Moncorvo, mas não chega. Temos de arranjar “engenho e arte”, para
desenvolver e consolidar esta verdadeira riqueza do Nordeste (e não só…,
integrar noutros roteiros das Beiras, do Minho, etc., juntos teremos mais
força) Mão à obra! Como disse o Poeta: “Deus quer, o Homem sonha, a Obra
nasce”…
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