domingo, 1 de fevereiro de 2015

DIÁSPORA - ILCA UMA VIDA ENTRE PORTUGAL E A SUIÇA.

Ilca Martinho  e  a sua filha Cátia
Trás-os-Montes situa-se no nordeste de Portugal.Depois dos anos 50,esta região isolada,entre planaltos e vales,com estios abrasadores e invernos rigorosos,conheceu várias vagas de emigração.Originária de Torre de Moncorvo,Ilca Martinho aí se reinstalou após 15 anos na Suíça.

Em Torre de Moncorvo banhada pelo sol,os alto-falantes difundem permanentemente música portuguesa.Nas ruas desta vila (3000 habitantes),as viaturas têm matrículas da Suíça,da França, da Alemanha.O verão é o mês dos emigrantes que vêm passar férias reparadoras em família,no país,antes de voltarem para o país de acolhimento.
Ilca Martinho fez escolhas diferentes.Regressou para viver em Torre de Moncorvo depois de ter trabalhado em Sion,trazendo consigo a filha,Cátia.Desde então,Ilca vive dividida entre dois países e dois universos: o marido trabalha sempre na Suíça e o filho vive com uma suíça.
Surpreendida com o interesse que provoca ,Ilca mostra-se reticente antes de entrar em confidências.”Tenho 55 anos.Tinha 23 ou 24 quando deixei o meu país para ir ter com o meu marido na Suíça,com o meu garoto de 4 anos.Imaginem!Eu outra vez nas vinhas,eu que, embora filha de agricultores,nunca tinha trabalhado no campo.”
Os olhos negros de Ilca piscam maliciosamente.Na sua grande sala com móveis de madeira maciça,confortavelmente instalada no seu sofá, Ilca tenta resumir a sua vida entre a Suíça e Portugal.
O casal Martinho, quando chega a Sion em 1982,não tem nenhum problema em encontrar trabalho.Os contratos de 9 meses são de acordo com a lei em vigor na época, antes da obtenção da autorização de residência.ILca,orgulhosa de nunca ter estado ilegal,faz diligências junto da fábrica de relógios Swatch e consegue um contrato de operária.O marido fica como camionista,profissão que exerce sempre.
“Vou vê-los com frequência e o meu marido vem cá duas vezes por ano.Hoje é fácil ir à Suìça”.
Pudicamente,Ilca não diz o que a fez voltar para Portugal.
Uma vida melhor,algures.
Atrás das persianas descidas do seu apartamento bem mobilado,para se proteger do calor,Ilca,também ela,como muitos emigrantes,tinha um sonho.
“Partimos em busca de uma vida melhor.Agora, sou proprietária deste prédio de 5 andares, de um apartamento na Suíça e comprei aqui um restaurante.Tudo com o dinheiro ganho e economizado”.
Orgulho de ter tido êxito,mas a nostalgia da sua vida na Suíça ensombra-lhe o olhar”.Se voltasse ao princípio, não sei se voltaria para Portugal.Aqui,não há nada,mesmo nada.Portugal é como o Brasil, os pobres são muito pobres e os ricos muito ricos”.
“Por exemplo,continua ela, o sistema de saúde é deficiente.São precisos meses para uma consulta médica ou uma operação.Só com uma cunha se consegue um quarto no hospital”,diz,furiosa, esta mulher que se adivinha determinada.Mas,para Ilca,” lá,na Suíça,dão-nos uma cama no hospital mesmo se a outra cama está ocupada por um ministro”.
O outro motivo de cólera de Ilca,é a falta de motivação do pessoal,que, diz ela, a obrigou a trespassar o restaurante.A mulher de negócios em que se tornou reconhece que um salário mínimo de 450 euros mensais não é atractivo.Mas ela lamenta que o seu país não aposte na qualificação.
Ilca, a”suíça” de Moncorvo,a despovoada.
Em Torre de Moncorvo, cerca de 20% das pessoas ainda vivem da agricultura.A população é idosa: os jovens partem a procurar fortuna fora.A emigração nunca verdadeiramente cessou depois dos anos 50 e 60,pois milhares de pessoas fugiram à fome e à miséria.
A cada crise da economia em Portugal,retoma-se o caminho,com menos frequência,por menos tempo,decerto.Reter a população?O presidente da câmara de Torre de Moncorvo aposta bastante na futura barragem que deve ser construída cerca da vila.
Ilca não tem intenção de voltar a viver na Suíça.”Nunca pensei que o meu filho iria viver com uma suíça.Por causa das diferenças culturais.É difícil convencer que somos civilizados,apesar dos nossos esforços”,suspira Ilca.
Cátia,ou a escolha de Portugal
A filha de Ilca,Cátia,hoje com 21 anos,espera pacienteme que a mãe se cale.”Eu não me vejo a viver na Suíça,declara ela.Nasci aqui e amo este país.Mas não faço a mesma escolha do meu irmão”.
A jovem que reconhece ter tido problemas em se adaptar a Portugal aquando do seu regresso,estuda marketing na universidade de Leiria,a pouca distância de Lisboa.Ela sabe que não irá encontrar trabalho em Moncorvo.
Resignada,a doce Cátia encolhe os ombros.”Se for preciso,naturalmente que partirei”.Mas a aventura pode esperar…

Marie-Line Darcy
La Suisse Ailleurs
Portraits28. août 2008

(Reedição de posts desde o início do blogue)

3 comentários:

  1. O restaurante que pertenceu à dona Ilca não é o "D.Corvo"? Agora funciona muito bem,sempre cheio de gente,com boa e farta comida e barato.

    Maneldabila

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  2. sim é esse mesmo...para ter um café/restaurante é preciso ter jeito.

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  3. Pois é, é muito fácil falar...
    Quem nunca teve um negócio de restauração é que pode falar assim!
    Eu também caí no erro de abrir um no interior do país depois de regressar do Luxemburgo, onde podia ter feito a minha vida, e restaurante em Portugal só se for para a classe alta! Porque o que a malta quer, é encher a mula beber 1 litro de vinho comer sobremesa e beber café com cheirinho por 5,50€ porque se for cobrar 6€ já reclamam e vão ao vizinho do lado!
    Experimentem abrir um restaurante e façam as contas: renda, 3 empregados no minímo, haccp, agua, luz e claro a comida e a bebida.
    Se servirem dobrada com feijão todos os dias, aínda acredito que se safem!
    Mas o pessoal quer comer bem, bom e barato!
    Assim não dá!

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