Inauguração: dia 27 de Fevereiro de 2015 (sexta-feira),
pelas 21h00
exposição: de 17 de Fevereiro a 1 de Abril de 2015
na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro,
em Vila Real
IGREJA MATRIZ DE TORRE DE MONCORVO
“Arrependidos”, gárgulas e outros pormenores
"Do cornija
irrompem, sobre OS contrafortes e nas arestas, diversas g6rgulas zoomórficas,
antropomórficas e de seres híbridos, alguns em poses patéticas e desesperadas
(rasgando os peitos ou puxando as orelhas). As bocas abertas, simulando gritos,
destinavam-se a jorrar a água das chuvas, que eram recolhidas num canal que
corre ao longo da cimalha. As gárgulas da torre são em forma de canhão,
conferindo-lhe um aspecto bélico. (...)
"Diz uma
tradição local que foi uma situação de desvalorização da moeda relativamente ao
valor ajustado no início da obra, que levou à míngua os escultores que puseram
remate as paredes, os quais, como forma de exprimirem a sua triste condição,
resolveram figurar algumas gárgulas e querubins em pose de “torcer a
orelha".
in Eugénio Cavalheiro
e N. Rebanda, A igreja matriz de Torre
de Moncorvo. João Azevedo Ed., 1998
Inicialmente quando
formulámos o convite a João Costa para a realização desta exposição, pensamos
em restringi-Ia ao tema das gárgulas da igreja matriz de Torre de Moncorvo. E
estes foram, de facto, os elementos privilegiados no conjunto de outros
pormenores, sendo que o reduzido espaço em que se encontra, no Museu do Ferro
&da Região de Moncorvo, não comportava mais fotografias, que se poderão
reservar para futuras mostras sob o mesmo tema.
Este tema foi
escolhido a pensar na relação de proximidade da igreja matriz (Monumento
Nacional desde 1910) e o Museu, o que torna este lugar num observatório
excepcional para o monumento, subvertendo a lógica museal: desta feita, o
"objecto" concreto a observar não se encontra dentro da sala, mas
está fora, funcionando as janelas como "vitrinas", e as fotos como
chamadas de atenção para o real, num olhar dialéctico interior/exterior.
Assim, o objectivo
(ou objectiva) do fotógrafo foi o de "aproximar", no duplo sentido do
"zoom" e do "dar a conhecer"/convidar o visitante à
observação e reflexão sobre aspectos que nos passam despercebidos, à primeira
vista, sobre este "monstro de pedra" que desafia os séculos, no dizer
do escritor Campos Monteiro, nosso conterrâneo.
De entre os
pormenores sobressaem as gárgulas, motivos habitualmente adscritos ao chamado
"estilo gótico", apesar de surgirem, maioritariamente, em Portugal,
no séc. XVI. Considerados arcaísmos, estes elementos historiados acrescentam
uma curiosa nota decorativa à nossa igreja, contrariando a excessiva
racionalidade geometrizante das cornijas, entablamentos, volumes prismáticos e
panos murários desornamentados.
Trata-se de um programa estético que incorpora o irracional,
a tradição do(a) imaginário(a) medievo(a) - os monstros, que são os nossos
medos - e, ao mesmo tempo a irracionalidade expressiva de corpos humanos
torturados pela dor, pelo deses pero ou inquietação saIvífica induzidos pela
culpa e o pecado fortemente explorados pela religiosidade tridentina.» Nélson
Campos.
António Alberto Alves
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro
Rua Miguel Bombarda, 24 – 26 – 28 em Vila Real
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