segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Exposição de fotografia “Gárgulas e outros pormenores” por João Pinto Vieira da Costa

Inauguração: dia 27 de Fevereiro de 2015 (sexta-feira), pelas 21h00
exposição: de 17 de Fevereiro a 1 de Abril de 2015
na Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro, em Vila Real
IGREJA MATRIZ DE TORRE DE MONCORVO
“Arrependidos”, gárgulas e outros pormenores

 "Do cornija irrompem, sobre OS contrafortes e nas arestas, diversas g6rgulas zoomórficas, antropomórficas e de seres híbridos, alguns em poses patéticas e desesperadas (rasgando os peitos ou puxando as orelhas). As bocas abertas, simulando gritos, destinavam-se a jorrar a água das chuvas, que eram recolhidas num canal que corre ao longo da cimalha. As gárgulas da torre são em forma de canhão, conferindo-lhe um aspecto bélico. (...)
 "Diz uma tradição local que foi uma situação de desvalorização da moeda relativamente ao valor ajustado no início da obra, que levou à míngua os escultores que puseram remate as paredes, os quais, como forma de exprimirem a sua triste condição, resolveram figurar algumas gárgulas e querubins em pose de “torcer a orelha".
 in Eugénio Cavalheiro e N. Rebanda,  A igreja matriz de Torre de Moncorvo. João Azevedo Ed., 1998
 Inicialmente quando formulámos o convite a João Costa para a realização desta exposição, pensamos em restringi-Ia ao tema das gárgulas da igreja matriz de Torre de Moncorvo. E estes foram, de facto, os elementos privilegiados no conjunto de outros pormenores, sendo que o reduzido espaço em que se encontra, no Museu do Ferro &da Região de Moncorvo, não comportava mais fotografias, que se poderão reservar para futuras mostras sob o mesmo tema.

 Este tema foi escolhido a pensar na relação de proximidade da igreja matriz (Monumento Nacional desde 1910) e o Museu, o que torna este lugar num observatório excepcional para o monumento, subvertendo a lógica museal: desta feita, o "objecto" concreto a observar não se encontra dentro da sala, mas está fora, funcionando as janelas como "vitrinas", e as fotos como chamadas de atenção para o real, num olhar dialéctico interior/exterior.
 Assim, o objectivo (ou objectiva) do fotógrafo foi o de "aproximar", no duplo sentido do "zoom" e do "dar a conhecer"/convidar o visitante à observação e reflexão sobre aspectos que nos passam despercebidos, à primeira vista, sobre este "monstro de pedra" que desafia os séculos, no dizer do escritor Campos Monteiro, nosso conterrâneo.
 De entre os pormenores sobressaem as gárgulas, motivos habitualmente adscritos ao chamado "estilo gótico", apesar de surgirem, maioritariamente, em Portugal, no séc. XVI. Considerados arcaísmos, estes elementos historiados acrescentam uma curiosa nota decorativa à nossa igreja, contrariando a excessiva racionalidade geometrizante das cornijas, entablamentos, volumes prismáticos e panos murários desornamentados.
Trata-se de um programa estético que incorpora o irracional, a tradição do(a) imaginário(a) medievo(a) - os monstros, que são os nossos medos - e, ao mesmo tempo a irracionalidade expressiva de corpos humanos torturados pela dor, pelo deses pero ou inquietação saIvífica induzidos pela culpa e o pecado fortemente explorados pela religiosidade tridentina.» Nélson Campos.


 António Alberto Alves
Traga-Mundos – livros e vinhos, coisas e loisas do Douro

Rua Miguel Bombarda, 24 – 26 – 28 em Vila Real

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