“Quando regressei de Moçambique
comecei tudo de novo. Trouxe 300 contos pra cá embrulhados com um bocado de lã,
pra ninguém desconfiar que vinha dinheiro mas não o trocaram”.
Passou a maior parte da sua vida
em Fornos, onde trabalhou como serralheiro, mas a maior aventura do seu trajeto
talvez tenha sido no tempo em que esteve em África. Com 27 anos, Belarmino
Quintas foi para Moçambique e levou a mulher e um filho. Os tempos por lá eram
duros e o pensamento preferia ter apagado muita coisa. O trabalho que foi tendo
ajudava a esquecer, ou a não lembrar tantas vezes. “Primeiro estive na barragem
da Chicamba de chofer agarrado a um camião; depois fui pra Vila Pery pra uma
pensão a olhar pela cozinha e pelo bar; depois arranjei um camião a fazer
transportes. Fiz logo duas casas com ele, transportar areia e cimento e fazia o
que aparecia. Depois comprei outro e depois outro, pus três camiões. Carregava
um vagão de madeira por dia pra Lourenço Marques, aí é que me deu dinheiro pra
fazer mais uma casa e trazer a mobília toda que trouxe , um Land Rover e a
família”.
Regressou pelo 25 de Abril e para
trás deixou quase tudo. Trouxe o mais importante, a família, e recomeçou a sua
vida na aldeia, de onde partiu novo e com a 4ª classe. O que ganhou em
Moçambique não serviu em Portugal, e a sua vida haveria de recomeçar com 30
contos no bolso. “O banco deu-me 10 contos, 2 contos por cada um, éramos cinco,
Depois fui à IARN. Na IARN nunca vi uma coisa assim, comecei no 3º andar com a
mesma cantiga até ao fundo pra me darem 30 contos, um cheque de 5 contos, um
cheque de 3, outro de 2...”.
Conseguiu montar a sua oficina
onde foi passando a maior parte do tempo. Agora trabalha só pra ele, diz.
“Arranjo a vinha, podei-a, atei-a, lavrei-a, agora estava-lhe a dar enxofre mas
com o vento assim não se pode. Colho o vinho e vendo logo as uvas, vêm logo a
vindimar que é pra não me chatear, vendo as uvas a um rapaz que mas vem buscar
quase há 20 anos”.
“Agora estou sossegado”, refere
Belarmino, mas sem a companhia de uma vida. A vivacidade que incute nas suas
histórias só quebra quando fala da mulher por saber que as forças já não permitiam
que só ele a ajudasse. Deixaram de ser só eles os dois. Agora a companhia são
os filhos e netos, para que os dias não lhe pareçam tão longos.
Texto Joana Vargas
Texto Joana Vargas
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