terça-feira, 30 de agosto de 2016

TRÁS-OS MONTES - A Terra De Duas Línguas II

Durante o “Artes e Livros”, Encontro de Academias de Letras Lusófonas, realizado em Bragança e com organização da Câmara Municipal de Bragança e da Academia de Letras de Trás-os-Montes,  foi apresentado o livro, A Terra De Duas Línguas II.
Texto do editor António Lopes (Sá Gué), lido no lançamento do livro:

Exm.º Senhor Presidente da Câmara Municipal de Bragança;
Exm.º Senhor Presidente da ALTM;
Ilustres Membros das diferentes Academias aqui representadas;
Digníssimos autores,
Minhas senhoras e meus senhores;
Antes de mais, quero pedir-vos desculpa por não estar presente no lançamento desta obra tão relevante: A Terra de Duas Línguas II, Antologia de Autores Transmontanos. De facto, assumi compromissos para a realização de um outro evento, antes de ter conhecimento da magnífica agenda cultural com que nos presenteia a ALTM e o Município de Bragança, e que daqui felicito.
Classifico esta obra de relevante não só por razões pessoais mas também por razões sentimentais. Nas pessoais incluo aquelas de ordem mais material, aquelas que, enquanto editor, considero ser a linha de vocação da Lema d’Origem, que se me foi revelando, lentamente, ao longo deste breve período da sua existência e que me parece ficar chancelada com a com a edição desta obra.

Nas razões afectivas incluo todo aquele lastro sentimental que se gera em nós, às vezes de forma incompreensível, de amor pelas fragas, pelos montes, pela pobreza da terra, pela dignidade humana das gentes que habitam esta terra de duas línguas.  Essa gente que não se verga às dificuldades. Nem que fosse necessário moer fragas para fazer pão, para citar Carlos Carvalheira, um autor sentimentalmente transmontano, eles continuariam a manter a espinha erguida. Incluo nesse soalho a raiva sentida quando à mais de 30 anos me vi obrigado a deixar estas terras mas que, lentamente, se foi dissolvendo numa ternura, que não sei explicar, mas que se me revela em toda a sua plenitude quando bebo as palavras de Miguel Torga e do Aquilino Ribeiro.
Neste momento, vem-me à memória a pergunta, sempre pertinente, do Dr. AMADEU FERREIRA, ilustre transmontano, quando, há um ano atrás aqui estive com os meus Quadros da Transmontaneidade, e me questionou: e cito de memória. “O que é que podemos fazer para sairmos deste abandono a que fomos votados?” Na altura sei que lhe respondi de uma forma genérica, socrática, algo como, antes de mais conhece-te a ti mesmo. Hoje, digníssimo Dr. Amadeu Ferreira, sei que lhe responderia de outra forma, eventualmente mais concreta e, passaria, de certeza, por uma forte afirmação e preservação da nossa cultura,  e que, eventos como este, obras como esta, parecem-me ser uma linha de pensamento a seguir.  Dir-lhe-ia abertamente que: se não nos fizermos notar ninguém dará conta de nós, o Marão há-de continuar a fazer fronteira.
A este propósito deixem-me que vos leia as palavras sábias do Prof. ERNESTO RODRIGUES, impressas no  prefácio desta obra. Diz ele:
O fundamento conservador da região é um dos seus valores e atractivos, que deve manter, sem ignorar o mundo que nos chega instantaneamente nas pontas dos dedos. Conservação é degrau para a segurança. Do falar à gastronomia, do esforço e da persistência individuais aos lugares-comuns que também alimentamos, vão laços seculares urdidos no abandono, na coragem e na entreajuda, os quais, nem por terem semelhança com outros microclimas culturais, deixarão jamais de caracterizar uma forma de ser franca, mesmo se eivada de credulidade e resignação [...]
A mim, e para terminar, apetece-me dizer que esta obra é uma autêntica viagem por aquilo que somos. Somos muito mais do que aquilo que aqui fica nestas páginas, elas não passam de um vislumbre disso mesmo, mas não deixa de ser uma paisagem humana riquíssima que temos a responsabilidade de deixar aos vindouros. Qual Viagem a Portugal, de José Saramago! Esta sim é a uma VIAGEM autêntica pelas nossas terras. Nela viajamos muito para além das serranias, muito para além das igrejas, das alminhas, das figueiras, dos pássaros, muito para além dos outeiros e das quebradas. Nela viajamos pelos nossos sonhos, pela nossa poesia, pelos nossos medos, pelo nosso passado e presente... Desde o Planalto Mirandês até aos socalcos do Douro, passando pela Terra Quente e Fria, por aqui ecoa essa torrente de sentimentos de que somos feitos, por aqui se navega na barca das palavras, sempre incompleta, mas sempre bela.
SÓ POR ISTO É QUE VALE A PENA LUTAR!
António Sá Gué

Disse.
Nota do editor do blogue: .
AUTORES REPRESENTADOS

PORTUGUÊS - A.M.Pires Cabral, Alexandre Parafita , Ernesto Rodrigues, Fernando de Castro Branco, Henrique Pedro, José Rodrigues Dias, Manuel Cardoso, Manuel Gouveia, Regina Gouveia, António Afonso, A.Pinelo Tiza, Amélia Ferreira-Pinto, Antero Neto, António Manuel Monteiro, António Modesto Navarro, António Passos Coelho, António Sá Gué, Cláudio Carneiro, Fernando Mascarenhas, Hélder Rodrigues, Idalina Brito, Isabel Mateus, João de Deus Rodrigues, Joaquim Ribeiro Aires, José Lopes Alves, Luís Vale, Manuel Amendoeira, Marcolino Cepeda, Maria Hercília Agarez, Pedro Castelhano, Tiago Patrício, Virgílio Nogueiro Gomes, António Fortuna, Carlos d’Abreu, José Augusto de Pêra Fernandes, José Mário Leite, Nuno Augusto Afonso, António Chaves, Artur Manso, Barroso da Fonte, Isabel Alves, João Cabrita, Lucília Verdelho da Costa, Maria da Assunção Anes Morais, Maria Manuela Araújo.
MIRANDÉS -Adelaide Monteiro, Domingos Raposo, Maria Rosa Martins, São Sendin, Alcides Meirinhos, Alfredo Cameirão, Bina Cangueiro, Faustino Antão, Alcina Pires, Amadeu Ferreira.
 Anto Affonso, Obrigado
Reportagem da localvisão:
http://www.localvisao.tv/index.php/tras-os-montes/1405-arte-lusofona#fprrpopup-690360013

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1 comentário:

  1. Lamento muito não ter tido conhecimento de algo tão importante para o panorama cultural transmontano.
    Obviamente, teria ido, pois não é todos os dias que se realiza ( e se assiste a ) um evento desta envergadura para lá do Marão.

    Parabéns aos organizadores, aos participantes e a todos quantos tiveram oportunidade de estar presentes.

    Júlia Guarda Ribeiro

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