Começa
com uma oração, quase de forma involuntária. Como quem quer espantar o
nervosismo. Conhece pouco as letras. Só os seus irmãos foram à escola. Tinha
que ser a segunda mãe, diz, e ir criando os irmãos. “Eles sabem-se defender do
mundo, e eu sou uma analfabeta”.
Adília
Veneranda Branco passou depressa pela infância. Lembra-se apenas que foi muito triste. “Meu pai não era
trabalhador. Passei necessidades. Minha mãe tinha um bom cordão, vendeu-o pra
comprar gado, meu pai destruiu-o …destruiu tudo. Podíamos estar bem na vida,
mas não estivemos..”
Da
vida foi obrigada a saber quase tudo. Com 15 anos viu nascer , pelas suas mãos,
um irmão. A falta de recursos obrigava ao desenrasque e Adília, de olhos na
vida, ajudou a sua mãe. “Fui eu que cortei o cordão e graças a Deus correu tudo bem”.
Com
73 anos recorda uma vida de trabalho para contrariar as necessidades e um
marido muito seu amigo. “Eu casei com uma mão atrás e outra à frente mas
arranjei os meus bocadinhos e fiz uma casa de raíz que tem 10 de largo por 11
de comprido. O meu marido era muito trabalhador”.
Nunca
saiu de Lagoaça, “feliz daquele que se governa na sua Nação”. A primeira viagem
para fora foi ao Porto, pra ver um filho doente. “Deus Nosso Senhor levou-mo”.
Talvez a única vez que Falhou com ela. Diz que tudo que lhe tem pedido, Deus
tem-lhe dado. Sente-se sozinha mas isso é culpa da vida. Os filhos há muito que
fizeram a sua vida fora da aldeia mas Adília queria-os perto. “Quando o meu
marido era vivo nada me fazia falta, e hoje faz-me falta tudo, companhia...”
Apesar
de tudo, não lhe faz falta a alegria que imprime nas canções e versos que sabe
de cor, com as pausas e tempos certos e com a entoação de uma artista. Talvez saiba que assim a solidão se torna mais
pequena...
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