quinta-feira, 19 de maio de 2016

Memórias Orais: José Garcia

“Cheguei muitas vezes a dormir ao relento e “botar” uma manta por cima e estar ali toda a noite de roda delas, do gado... A minha vida tem muito que contar, ai tem, deixe lá...”
Tinha 10 anos quando começou a seguir os passos do pai. Conheceu-lhe os caminhos por onde passeava o gado, que era o sustento dele e de mais seis irmãos. José Garcia era o mais velho e calçou pela primeira vez uns sapatos tinha já 16 anos. “Naquele tempo para a gente andar calçado era um problema, já era um homem ainda andava descalço. Às vezes quando vinha a noite os pés até vertiam sangue de andar a gente por lá descalços. A vida de uma pessoa era complicada...”.
Aos 87 anos ainda não se quer preso nem dependente de ninguém. Já esteve no Lar quando tinha a companhia da mulher. Quando ela partiu José regressou à casa de ambos. “Podia estar em casa dos meus filhos mas eu ainda me quero à liberdade podia estar tanto com um como com outro, que eles querem-me. “Bô”, mas enquanto puder arrastar as pernas...”
Nunca saiu de Ligares. Nasceu e criou-se por lá e quando começou a andar “por sua conta” foi agricultor. Só se lembra de estar doente uma vez e quando era ele o cuidador chegou a levar a mulher amparada com um xaile para que não lhe caísse do macho. “Estava a gente sempre de olho nela, não caía”. Ainda guarda, diz, o xaile com que a agasalhava...


Joana Vargas

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