Sinopse: "Sei que não vai acreditar numa só palavra do que lhe vou contar. Mas não se inquiete por causa disso: eu também não acredito. Somos dois a não acreditar. Mas esta história contou-ma um velhote, da última vez que estive na aldeia, em Trás-os-Montes, no Natal passado, e conto-lha agora a si porque sei que acha piada a estas coisas. Acha-lhes piada, mas no fundo essas mesmas coisas a que acha piada fazem-no pensar. O meu amigo é como eu: só somos cartesianos até certo ponto. Desse ponto em diante, temos na cabeça as mesmas minhocas que outro homem qualquer. Uns levam o fardo da razão mais perto, outros mais longe; mas acaba sempre por chegar um momento em que a razão vacila, a dúvida se instala e a irracionalidade toma conta de nós. Comigo assim é, e consigo também. Acertei? Claro que acertei. Mesmo que diga que não. Somos todos muito racionais, a razão é a única soberana a quem prestamos vassalagem, etc. e tal, mas todos temos uma porta das traseiras por onde entram coisas irracionais como a fé, a crendice, o palpite. Não a ponto de acreditarmos nelas, claro; mas a ponto de lhes acharmos piada— que se calhar é o primeiro passo para as legitimar, o diabo seja surdo.
Ver:
http://lelodemoncorvo.blogspot.pt/2010/12/m-pires-cabral-torre-de-moncorvo.html
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Parabéns ao ilustre escritor e à organizadora deste II Encontro.
ResponderEliminarAbraço
Júlia Ribeiro