terça-feira, 10 de maio de 2016

O MEU PAI , QUE NÃO ERA DOUTOR

De 1927 a 1977, passou 50 anos a tratar dentes, pôr pivots , dentaduras e coroas de ouro (mais aos ricos) e a arrancar dentes (mais aos pobres ). Não era opção sua diferenciar os tratamentos dentários segundo o estrato social dos pacientes - tantas vezes não levava um tostão aos mais pobres e ainda lhes dava uns escudos para irem comprar pão para os filhos.
Mas os pobres não tinham sequer possibilidade de faltar uma manhã ao trabalho para irem ao dentista. E quando o meu pai lhes ralhava, porque haviam deixado estragar dois ou três dentes que então teria de lhes arrancar, a resposta , invariavelmente, era : "P´ró que a gente tem p´ra comer, até são demais os que ainda cá ficam" .
E aqueles que iam perdendo os dentes um após outro, ao verem que o meu pai ficava fora de si, diziam-lhe - assim a modos de tentarem acalmá-lo - "Deixe lá, Sô Barros, o que Deus não dá em dentes, dá o diabo em golas".
Para aqueles tempos, o Sr. Barros foi um excelente profissional.
Como homem, apesar dos seus inúmeros defeitos, e sendo católico e monárquico assumido, nunca o Barros Dentista andou com a farda de legionário. Porque era um homem solidamente culto.
E, acrescento eu, filha, era um bom Pai.

Júlia Barros Biló

Nota do editor:não resisti a acrescentar  texto e  foto.





SERÁ QUE Á DATA O EXmo. DR.RELVAS TERÁ DITO:     "EU NÃO SOU DR." ?
Toda a gente a discutir se o "curso" foi tirado em 2006/2007, e afinal já tínhamos Doutor em 2004...só injúrias... tal a maledicência!!!
(andam na net)

Nota: Para abrir a página(ampliar as fotos), clique no lado direito do rato ;abrem as instruções, e depois clique em abrir hiperligação.

Reedição de posts desde o início do blogue




14 comentários:

  1. Encontra-se na Biblioteca Municipal de Moncorvo,de António Pimenta de Castro, o livro"Lembrando o Senhor Barros Dentista",Mogadouro - 2008.

    ResponderEliminar
  2. Há um episódio qu eu recordo muitas vezes.

    Não suporto dor de dentes, e tenho horror a dentistas (apesar de Drs).

    Um dia, ainda não andava na primária, acordei com um dente a doer, saí sorrateiramente, de casa do Emílio Andrês,onde passava os dias,e chamava mãe à avó dele e fui ao Sr. Barros.
    Pedi-lhe para me arrancar um determinado dente e depois que pedisse o dinheiro ao meu pai.
    Ele não queria ,mas apesar da minha insistência e determinação fez-me vontade.
    Ainda vejo o canino entre o "alicate"!!!!e
    o sr. Barros repetindo ,que o dente estava bom!!!!!
    Se recebeu do seu trabalho, já não sei, mas que me fez a vontade ,fez...e o dito dente não me fez falta alguma.
    Um abraço meu à Julinha.

    ResponderEliminar
  3. Conheci o senhor Barros ,mas só a passear na praça.A minha tia tinha-lhe um mêdo !sempre que se aproximava o dia de ir ao dentista(senhor Barros)tremia,tremia,eu ,ria eh,eh,eh

    ResponderEliminar
  4. Dótore foi e será um termo pejorativo em Moncorvo.Inteligente e com sentido de humor, ele avisava:não sou doutor,embora passeie na praça e seja dentista.

    ResponderEliminar
  5. Só dótores eramos 14. frase atribuida a Jaime Machado ,conhecido pelo pardal sem rabo, com direito a versos.
    Quando ele passa
    Rechonchudo como um nabo
    A gente diz por chalaça
    Lá vai o pardal sem rabo
    M.C.

    ResponderEliminar
  6. Recordo que o sr. Barros arrancou-me 2 dentes de leite, custou-me mais subir as escadas propositadamente devarinho, dando-me tempo de refelexão para uma eventual retirada estratégica, do que a extração em si. junto á janela do seu consultório, que dava para o telhado da casa do dr. Andrês estava a sua cadeira de dentista, aproveitando a luz natural e as pombinhas que pousavam no telhado tmb davam geito...pois a distração momentanea de «olha o passarinho!» o dente aparecia como que por milagre na ponta do alicate. A figura do sr. Barros, talvez de eu ser muito pequeno, parecia-me enorme!!! mas logo que ele falava, o sua voz era calma e meiga. Lembro-me que no lado oposto á cadeira havia uma máquina com broca, muito rudimentar visto a esta distância mas para a época seria enovadora, penso que a pedal, com muitas correias e roldanas e rodava a uma velocidade reduzida para os parametros actuais. Nunca esqueci estas 1ª idas ao dentista, mas sobretudo ter sobrevido ao mito criado á volta da figura do sr. Barros, que o meu amigo Pimenta de Castro tão bem soube biografar. Á nossa Júlia de Barros a minha admiração pela sua escrita e tmb por saber perpéctuar as vitudes de seu pai.

    ResponderEliminar
  7. Não era só bondade,não era só honestidade.Era também competência e profissionalismo.Por isso foi distinguido como o melhor dentista do ano de 1984 e recebeu, do Sindicato Nacional dos Odontologistas, a medalha de mérito no ano de 1986.E era um homem de princípios.
    Mas foi o "papão" da minha infância, o terror da minha juventude.Ir ao Senhor Barros tratar dos dentes era um grande suplício,embora a "culpa" não fosse dele, mas da broca,que tão bem manejava.
    Fez bem a Julinha em trazê-lo à nossa lembrança.Mais um moncorvense adoptivo que merece a nossa homenagem.

    Uma moncorvense

    ResponderEliminar
  8. O Sr. Barros fez as dentaduras aos meus avós, tratou os dentes aos meus pais e também me tratou dois dentes a mim. Ainda cá estão tratados por ele. Era realmente um homem muito culto. Sabia História a sério. Dava-me cada ensaboadela ! Sabia Literatura e Ciencias. Foi ele que me ensinou como fazer uma raiz quadrada . Gostei de o recordar.

    Uma moncorvense em Lisboa.

    ResponderEliminar
  9. Eu lembro-me ainda do Sr. Barros, uma vez fui lá com Carlos Pintor, quando ainda eramos miudos, vim de lá aterrorisada!! O Professo Castro escreveu a sua história, afinal eram conterraneos!
    A simplicidade de um homem que não queria ser chamado de Doutor, agora infelismente é ao contrário, todos querem ser doutores!

    Fátima Gonçalves

    ResponderEliminar
  10. Querida Julinha!
    Bonito retrato ao seu Pai que não era Dr.mas um excelente Dentista.Lá por casa ouvia falar do SR.Barros com apreço ,à minha mãe,pois era Ele que lhe tratava os dentes.Belos tempos esses em que se era um óptimo profissional sem se ter a vaidade de se ser Dr...
    Com um beijo da sua amiga.
    Irene

    ResponderEliminar
  11. Esse gajo é um aldrabão. Quer é encher a pansa. Podia emigrar e ir pastar relvas para outro lado. As anedotas sobre ele na net até fervem, mas ele não sai do puleiro.
    Ao menos houve um dentista em Moncorvo que dizia logo que não era doutor.

    Um fã dos Farrapos

    ResponderEliminar
  12. A honestidade e a transparência fazem toda a diferença!

    Beijinho, Júlia, e bem haja pela partilha das suas comoventes memórias.

    Virgínia

    ResponderEliminar
  13. Não tarda muito que os velhos passeios na praça dos dótores regressem com o trio Vara,Relvas e Sócrates.Eu a mirar do castelo e lembrar-me dos versos do Remondes e do dr.Girão.
    Leitor

    ResponderEliminar
  14. Dizem mas é o povo que diz pelas tabernas ,bares e outros lugares de má língua,como a internet,que vamos aos jogos Olimpicos na modalidade a salto à Vara.O Relvas por ter acertado num urso, numa barraca de tiro da Malveira, julgava que podia tratar por tu o seu colega D.Juan CarlosI que matou um elefante no Quénia.
    Noitibó

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.