quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

TORRE DE MONCORVO - A VILARIÇA



Fazendo contraste como o Roborêdo, a zona mais fértil e de cultura intensificada é a do Vale da Vilariça, localmente conhecida pela «Ribeira».'
São 22 quilómetros que vão da Serra de Bornes à foz do Sabor e de largura entre 2 a 6 e 8 quilómetros, encerradas entre fragadas dantescas área correspondente a uma herdade alentejana.
Trata-se provavelmente dum lago, nas origens do globo, tamanha a quantidade de seixos boleados que nela se espalham e a opacidade das suas terras.(Continua no primeiro comentário)


(Reedição de posts desde o ínicio do blogue)

5 comentários:

  1. Sobre a Vilariça dominaram, por muito tempo, concepções hipertroficadas, optimistas mas pejorativas. Ela — afirmava-se — se compunha de nateiros fertilíssimos, duma produtividade inegualável. Ela seria, a um tempo, o vale do Nilo e a Terra da Promissão. Dispensaria adubos. O milho cobriria um homem a cavalo. Arrendava-se quando se queria por mais de 1o% do seu valor. O cânhamo e os melões seriam milagre! A terra na verdade é fértil mas não fertilíssima. Sujeita a cheias e ao refluxo das águas do Sabor e do Douro, a «rebofa», muitas vezes a enriqueceu bem como os detritos arrastados das montanhas e pela degradação das suas faldas. Mas não está isenta de arrastamentos e destruições devido ao ímpeto das torrentes em derivação ou pela violência inopinada dos granizos e trovoadas. Não suplanta as lezírias do Tejo nem as hortas de Évora, nem os barros pretos de Beja. Antes pelo contrário.
    Nos tempos anteriores ao rompimento do Cachão de Valeira as cheias eram mais regulares, arrastavam e desnudavam menos, enriqueciam mais e obtinham-se colheitas, porventura, famosas. As Inquirições monumentalizam as terras da Vilariça, objecto já de extorsões e de usurpações. Chamava-se o Prado da Ribeira e era aí por certo que se criavam as manadas de cavalos de tipo peninsular.
    Reportam-se as mesmas inquirições às leiras de reguengas do Boêdo e às courelas que pertenciam ao rei.
    O famoso Nuno Martins de Chacim, a Ordem do Hospital a Ordem de Santo António tomavam conta dos belos terrenos, chamavam-lhes seus, sem pagar foro.
    A Vilariça compunha-se, em 1907 segundo o malogrado Mário Miller, de: Boêdo — aluviões da parte plana da Veiga e antigamente das courelas da Foz. Canameiras — antigamente as terras de cultura do cânhamo. Hoje as terras aluvionais da Vilariça distribuem-se desta maneira: Courelas — as glebas e sortes tiradas em largura do vale, na terra mais fértil, própria para a cultura de pomares, horta e cereais. Barrais — terras aluvionais de certa importância e extensão mas já consistentes e incorpadas a
    aproximarem-se das encostas. Boêdo — a parte central da Ribeira entre as quintas famosas. A seguir aos barrais e courelas sucedem-se os «barreiros» de argila muito compacta e próprios à cultura da vinha, da oliveira e do trigo. E as «sairinhas» terras arenosas, piçarras ampelíticas, também apropriadas à cultura da oliveira, da vinha e do nabal. Tal é a zona famosa que o povo diz ter de ser coberta de notas para se atingir o seu real valor, pagando-a pelo preço devido. As suas neblinas matinais tão traiçoeiras, as ardências africanas da zona subduriense, de Maio a Novembro, enquanto as rolas arrulham, as cheias impetuosas e destrutivas, o escalracho e as ervas daninhas em pastas inesgotáveis, tornam-na quase inabitável. Por isso as povoações se penduraram nos
    altos e dali avistam toda a variegada composição do tapete persa que é o vale, o qual, encerrando óptimas promessas anda carregado de decepções e prejuízos. Ele carece ser protegido contra as torrentes que descem e contra as «rebofas» que ascendem.
    O Ministério das Obras Públicas começou já os seus estudos, a fim de se estabelecerem diques de protecção, moderadores, apropriados ao ímpeto das correntes.Também com a sua ajuda se procedeu a desaçòriamentos, limpezas e rectificações, custeadas pelos proprietários. Mas uma cheia mais que inopinada destruiu e atrasou o trabalho que parecia excelente.Infelizmente tem de se recomeçar.Os capítulos das Cortes da 2.a dinastia referem os efeitos perniciosos da cultura do cânhamo que alimentava uma cordoaria, e a decadência das vinhas anteriores à Renascença.
    Aguedo de Oliveira 1964

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  2. Grande texto.A Vilariça ,um mito que foi muito bem analizado.

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  3. Aguedo de Oliveira,moncorvense e homem de grande cultura.Doou a sua biblioteca e as propriedades que tinha na Vilariça a Bragança.

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  4. Pois é, mais um grande moncorvense...! como os outros, uma rua ou uma praça, pelo menos em bragança, né?

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  5. Pelo menos doou, não vendeu...! e quem doa pode escolher!

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