quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

TORRE DE MONCORVO - memórias da misericórdia

A foto não tem data . . . é pena!
Mas encontrei-a e não resisti a publicá-la, porque me lembrei da figura do Sr. Manuel Piconês (não sei se apelido se alcunha) que vivia na casa diante da Igreja da Misericórdia.
Era um homem que não simpatizava muito com a garotada da rua, porque fazíamos muito barulho nas brincadeiras nas escadas da Igreja, no largo, e não gostava de nos ver jogar à bola e muito menos estarmos sentados nas escadas de sua casa em cimento queimado, muito liso e asseado, que se vê na fotografia; pelo contrário, o Sr. Afonso Ferreira gostava da garotada da rua, era simpático, tinha sempre uma palavra amiga para nós, e no 5 de Outubro quase chorava quando lhe cantava, e ele acompanhava, o Hino Nacional; ia logo “hastear” a Bandeira numa das janelas da casa (onde depois viveu a família do Camané).
Havia uma coisa que muito me intrigava! Quando cumprimentavam o Sr. Manuel Piconês, homem de poucas falas, sempre sisudo, ele respondia em surdina e tom grave, qualquer coisa que eu não entendia. E durante anos não consegui perceber o que ele balbuciava. Até que um dia, finalmente, ouvi e percebi:
- “Bom dia, Sr. Manuel.” alguém disse.
Eu estava tão perto dele que ouvi o que ele respondeu, sempre no mesmo tom:
- “Deus nunca faltou aos seus”
Até que enfim, estava desfeito o mistério. DEUS NUNCA FALTOU AOS SEUS, era sempre a sua resposta aos cumprimentos, fosse qual fosse a pessoa a cumprimentá-lo e a hora do dia.
Na fotografia lá está ele com a sua atitude grave, sério, a Srª Ana Aurélia (tem na sua frente o alguidar dos tremoços para vender), Srª Eduarda Brites, Srª Isabel (avó materna do Manuel Sangra ) e o Romeu.
Servirá para muitos recordarem aquelas pessoas, gente boa, gente da Misericórdia, pessoas que povoam as recordações dos que ouviam à noite os ensaios da Banda na Misericórdia, dos que ajudavam a Adrianinha a ornamentar os andores na Quaresma, e depois tinham o direito de distribuir as arandelas, as tochas e as opas pretas para as procissões; não era muito do agrado do Sr. Júlio Sacristão, que se sentia marginalizado na organização daquelas procissões, e depois vingava-se fora da Quaresma e nunca dava opas aos da Misericórdia nas procissões organizadas pela Matriz; eu nunca consegui uma para a Procissão do Senhor aos Presos . . . que era a que eu gostava porque os sinos não se calavam, e para irmos tocar o Meio-Dia tínhamos que lhe dar a volta, e por vezes escapar pela porta pequena que dá para o Largo Dr. Balbino Rêgo, em frente à antiga Barbearia do sr. Adelino, para não nos apanhar à saída da Igreja para o respectivo correctivo, normalmente um “cachação”ou, se possível, uma “biqueirada”.
Já onde é que eu vou . . .
Por hoje, é tudo.
F. Garcia

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8 comentários:

  1. Foi tirada em 1954/55, conheci o Romeu filho da D. Alexandrina irmão da D. Adriana e dos Sr. José e Fernando Pessoa, na década de 60 do sec. passado , o Romeu devia ter uns 9 ou 10 anos quando foi tirada esta fotografia, na década seguinte, brincávamos no adro da misericórdia , um jogo inventado por ele que se intitulava a "Santa Batuta" mais ou menos como o esconde/esconde bons tempos esses

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  2. A Ti'Ana Aurélia era avó do meu colega e amigo Cassiano Meireles.

    Um abraço
    Júlia

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  3. Foi com alegria e comoção que revi os rostos dessa boa gente da rua da minha infância e adolescência.E é com ansiedade que espero mais memórias em fotografias ou em textos do nosso "cronista" da Misericória.Vale,Fernando?

    Uma moncorvense

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  4. Piconês e afins

    Foi com muito contentamento que li este pequeno farrapo de memória da rua da Misericordia aqui em TMC e fiquei deveras curioso e interessado ao ver que nesta vila tb. havia um Piconês.

    O apelido Piconês/Piconez ( a par do Sanches, Milhano,Ledesma ...) sempre me intrigou tal a abundância dos mesmos encontrados nos registos paroquiais do Felgar, e que hoje estão extintos, ou quase.

    Penso terem origem em ascendência espanhola, resultado da emigração sazonal de oitocentos que para cá havia em barda, em especial, nas épocas das segadas ou construção desses Kms. de paredes de pedra que enxameiam as nossas terras e as paisagens, e têm tb.nome na toponima em alguns pueblos na estrada para Salamanca.

    Ainda bem que há quem se prontifica a contar para os vindouros estes quadros idos, tão naturais de vivência de uma rua, resgatando-os assim do esquecimento ou do " olvido do silêncio " em que cairia se não fosse contado neste blog.

    Merci!

    Alain

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  5. O Sr. Afonso Hospitaleiro era um republicano de princípios. O Piconês era monárquico dos 4 costados. Viviam em frente um do outro. No dia 5 de Outubro, um hasteava a bandeira republicana, o outro hasteava a azul e branca. Nesse dia, o Piconês não emitia um único som , não fosse Deus ajudar o vizinho da da frente.

    Júlia

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  6. tambem me lembro muito bem destas quatro pessoas.do Romeu da tia Alexandrina muito melhor,pois muitas vezes lhe emporreio a cadeira de rodas que tinha uns pedais de maos mas para vir da praça até casa era-lhe bastante penoso e nao só eu (sou o Tozé Silva filho do bigodes),como tambem outros miudos do meu tempo pois eu morei tambem na rua da Mesiricórdia ao lado da sra,Adrianinha que tinha uma pequena creche que era a esposa do sr.Alberto Rocha,mais conhecido por Alberto do prado que tambem foi funcionario da casa da lavoura que era na rua onde é o café o amigo ao pé do jardim dr.Horacio Gouveia.bons tempos os da nossa infancia.aproveito para mandar um grnde abraço ao meu amigo Dr.Fernando Garcia filho do senhor Garcia (taxista e fotografo)ainda tenho a primeira foto tipo passe que ele me tirou para o meu primeiro Bilhete de Identidade que foi em 1966.envio tambem um abrço para todas as pessoas que me reconhecerem,sobretudo para os da minha infancia.

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  7. Havia tanta gente naqueles anos 69 ..70..71..72..na misericórdia, na rua nova, na rua dos sapateiros. Vão dando notícias..

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  8. Era eu um jovem jogador de futebol do Grupo Desportivo e lembro-me bem do quanto o Romeu gostava de me ver jogar, ele um bom conhecedor de futebol e fervoroso adepto do FCP. Quanto ao sr. Manuel foi sempre mui to simpático comigo, já que frequentava a sua casa com regularidade e sendo assim não posso concordar com o que foi dito. Um abraço amigo.

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