Freixo - Voo de Pássaro from Leonel Brito on Vimeo.
O voo da águia
A águia, invisível mas sempre
presente, vigia, flutuante, os lugares sagrados, habitados há milénios por
homens que hoje vão desaparecendo.
A sua visão, aberta e atenta,
feita também do prazer de um mensageiro dos deuses, cativa a água límpida do
Douro entre fragas que os séculos lavraram e pousa o seu remanso olímpico na
vinha verde e vibrante, nos laranjais com suco de ambrosia, nos olivais cujas
folhas consagravam e coroavam os
melhores e o azeite alimentava as candeias dos sábios gregos.
A águia percorre o concelho
de Freixo de Espada à Cinta, no seu voo de rainha, na sagração da
Primavera, identificando aldeias e caminhos, casas, praças e pracetas. E a
Torre do Galo como um marco e canto secular, berço e sentinela do destino de um
povo poético e missionário. É o farol de granito nas tormentas da História.
Mas sempre o Rio e as suas
margens. A identidade de Freixo começa e acaba no Rio.
A geografia da água é
intemporal.
Tudo cresce, nasce, morre e
renasce.
E o Rio, sempre o Rio entre
pedras e o xisto que refulge nas casas e na paisagem.
Do suor do Rio, misturado com
o suor dos homens, escorre o vinho e o azeite, descasca-se a laranja e parte-se
a amêndoa.
Deste espaço sagrado, com a
vigilância permanente do águia, do Penedo Durão às arribas abruptas de Espanha,
que poderão dizer os deuses, senão, perplexos e invejosos, reconhecerem: o
Olimpo está em Freixo de Espada à Cinta.
E a águia em voo rasante,
poesia e voz autorizadas pelas águas do Douro, pela pedra e pelo xisto, pelos olivais,
laranjais e amendoais, como se fora uma oração à luz e ao pão, responde-lhes:
Ó deuses, eu não vos disse?
Rogério Rodrigues
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