Num tempo em que escasseiam, entre nós, as boas notícias, uma veio recentemente contrariar essa tendência: a aprovação pela UNESCO do Nordeste Transmontano como Reserva Mundial da Biosfera no conjunto transfronteiriço da Meseta Ibérica. Espaços assim classificados são reconhecidos como franjas do planeta de elevado potencial ecológico e biológico, onde todos os seres vivos podem sobreviver e coexistir em harmonia, o que nos dias de hoje começa a ser raro. Rejubilaram, por isso, o Governo português, que propôs a classificação (acompanhando o Governo de Espanha), e os municípios transmontanos abrangidos (Alfândega da Fé, Carrazeda de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Miranda, Mogadouro, Vila Flor, Vimioso, Vinhais, entre outros), na intuição de que virá daí algo de muito positivo para as suas terras.Porém, quando se fala de "seres vivos" também se fala de pessoas, que deveriam, no mínimo, ser reconhecidas como a "espécie" mais nobre a habitar em qualquer biosfera. E não parece acontecer assim no Nordeste Transmontano, onde as grandes medidas políticas apontam em sentido inverso à manutenção da vida humana: encerram-se escolas, maternidades, serviços de saúde e tribunais (aplicando no interior rural os mesmos critérios que vigoram para os grandes centros), extinguem-se ou deslocam-se para as grandes cidades repartições, serviços públicos, postos e delegações de empresas públicas e outros, imprescindíveis que são à dinâmica da vida no interior, enquanto impulsionadores de outras dinâmicas: criação de empresas e de empregos. Os decisores que, ao longo dos anos, vêm assumindo tais medidas, das duas uma: ou estão a tomar decisões sobre a realidade de um país que não conhecem, ou são absolutamente incapazes de lidar com a singular realidade do território. Acentuam a desertificação deixando o interior exclusivamente para os idosos que estão de partida e sugando as novas gerações para o litoral e grandes centros, ou então sacudindo-as para fora do país.Se a classificação da UNESCO não servir para inverter este cenário, de pouco servirá ser Reserva Mundial da Biosfera. Quando muito, aproveitará aos abutres, águias-reais, bufos, andorinhões, grifos e noitibós; ou então aos lobos, raposas, doninhas e gatos-bravos. Mas... e as pessoas?No Nordeste Transmontano [Reserva Mundial da Biosfera da UNESCO], as grandes medidas políticas apontam em sentido inverso à manutenção da vida humana: encerram-se escolas, maternidades, serviços de saúde e tribunais...
Alexandre Parafita * ESCRITOR
Fonte: http://www.jn.pt/opiniao/default.aspx?content_id=4690537
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