Há
16 anos que vive no Lar da Santa Casa da Misericórdia em Freixo de Espada à
Cinta. Na altura, ele e a e mulher acharam-se doentes e tiveram que arranjar
solução. A mulher já não está e António
Madeira vai vivendo, ainda que com alegria contagiante, os dias de uns 90 anos
que muito têm que contar. Publicou um livro que é a história da sua vida, mas
quando lhe perguntam se é poeta diz, de modéstia: “faço umas coisinhas”.
Fez
o exame da 4ª classe a pulso, mas ficou aprovado. “Eu não era dos mais inteligentes,
mas também não era dos mais brutos, mas o professor batia-me muito, diz que era
para me fazer entrar nas letras, para aprender melhor”. A escola dentro de quatro
paredes não o entusiasmava. Era amante da agricultura, como o seu pai, com quem
aprendeu tudo desde tenra idade.
Quebra
quando fala no amor à família. Foi por ele que deixou a tropa, para ajudar o
pai nas terras, e um irmão mais novo a criar-se. Mas as terra boas eram os
ricos que as tinham e o senhor António teve que se fazer à vida, “dava-me pouco
resultado e então as misérias por aí eram muitas e disse [tenho que emigrar,
tenho que ir para o estrangeiro]. Esteve na França 10 anos e o caminho para lá
fê-lo a pé. Levou-lhe 9 dias. “De dia, ficávamos em pinhais, ou em montes e
então de noite é que andávamos toda a noite, ia um guia connosco. Os Pirenéus
era um terreno muito agreste, muito empinado, estava a noite de Luar porque se
estivesse escuro não sei como se haviam de passar aqueles terrenos”.
Como
emigrante trabalhou no começo da estrada que hoje circunda Paris, mas os tempos
por lá não eram fáceis. “Dormíamos em barracas, eram, de madeiras ao pino e
depois madeira por cima com um desnível para correr a água . Eram cobertas com,
gordurão, aqui era de alcatrão, era umas coisas de alcatrão. Lá se pregava
aquilo e lá dormíamos. O chão era terra e a cama lá se arranjava conforme se
podia, uma enxerga e uma cabeceira, ao lado a maleta com quatro ou cinco trapos
dentro...”
Quando
regressou à terra dedicou-se novamente à
agricultura mas a doença da mulher afastou-o do trabalho. Viveu com ela até esta
deixar de saber do tempo e do espaço. Talvez ele lhos lembrasse todos os
dias...
O
lançamento de outro livro está para breve, e pelo ritmo ainda ouviremos muito
boas história, suas, e da vila de Freixo,
em verso. E não será esta a melhor maneira de assistir ao passar do tempo?
(abril
2015)
Joana
Vargas
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