quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Freixo de Espada à Cinta - "Guerra Junqueiro: De Freixo para o Mundo"



Banda de Música de Freixo de Espada à Cinta interpreta duas músicas com letras da autoria do poeta Guerra Junqueiro, "A canção perdida" e "A Moleirinha". 

Para ver e ouvir amanhã no Auditório Municipal às 21h00!

Ver mais em: 

2 comentários:

  1. Letra "Canção perdida" de Guerra Junqueiro:

    Canção perdida (Guerra Junqueiro)
    Alguém de mim se não lembra,
    Nas terras d´além do mar.
    Oh morte dava-te a vida,
    Se tu lh´a fosses levar.

    O meu amor escondi-o
    Numa cova ao pé do mar,
    Morre o amor vive a saudade,
    Morre o sol, olha o luar.

    Quem dá ais oh rouxinol,
    Lá para as bandas do mar?...
    É o meu amor que na cova,
    Leva as noites a chorar.

    Oh meu amor, dorme, dorme,
    Na areia fina do mar,
    Que em antes da estrela d´alva,
    Contigo me irei deitar.

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  2. "A Moleirinha" de Guerra Junqueiro

    Pela estrada plana, toc, toc, toc,
    Guia o jumentinho uma velhinha errante
    Como vão ligeiros, ambos a reboque,
    Antes que anoiteça, toc, toc, toc
    A velhinha atrás, o jumentinho adiante!...

    Toc, toc, a velha vai para o moinho,
    Tem oitenta anos, bem bonito rol!...
    E contudo alegre como um passarinho,
    Toc, toc, e fresca como o branco linho,
    De manhã nas relvas a corar ao sol.

    Vai sem cabeçada, em liberdade franca,
    O jerico ruço duma linda cor;
    Nunca foi ferrado, nunca usou retranca,
    Tange-o, toc, toc, moleirinha branca
    Com o galho verde duma giesta em flor.

    Vendo esta velhita, encarquilhada e benta,
    Toc, toc, toc, que recordação!
    Minha avó ceguinha se me representa...
    Tinha eu seis anos, tinha ela oitenta,
    Quem me fez o berço fez-lhe o seu caixão!...

    Toc, toc, toc, lindo burriquito,
    Para as minhas filhas quem mo dera a mim!
    Nada mais gracioso, nada mais bonito!
    Quando a virgem pura foi para o Egipto,
    Com certeza ia num burrico assim.

    Toc, toc, é tarde, moleirinha santa!
    Nascem as estrelas, vivas, em cardume...
    Toc, toc, toc, e quando o galo canta,
    Logo a moleirinha, toc, se levanta,
    Pra vestir os netos, pra acender o lume...

    Toc, toc, toc, como se espaneja,
    Lindo o jumentinho pela estrada chã!
    Tão ingénuo e humilde, dá-me, salvo seja,
    Dá-me até vontade de o levar à igreja,
    Baptizar-lhe a alma, prà fazer cristã!

    Toc, toc, toc, e a moleirinha antiga,
    Toda, toda branca, vai numa frescata...
    Foi enfarinhada, sorridente amiga,
    Pela mó da azenha com farinha triga,
    Pelos anjos loiros com luar de prata!

    Toc, toc, como o burriquito avança!
    Que prazer d'outrora para os olhos meus!
    Minha avó contou-me quando fui criança,
    Que era assim tal qual a jumentinha mansa
    Que adorou nas palhas o menino Deus...

    Toc, toc, é noite... ouvem-se ao longe os sinos,
    Moleirinha branca, branca de luar!...
    Toc, toc, e os astros abrem diamantinos,
    Como estremunhados querubins divinos,
    Os olhitos meigos para a ver passar...

    Toc, toc, e vendo sideral tesoiro,
    Entre os milhões d'astros o luar sem véu,
    O burrico pensa: Quanto milho loiro!
    Quem será que mói estas farinhas d'oiro
    Com a mó de jaspe que anda além no Céu!

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