“No
meu tempo, ajudávamos aos vizinhos, os vizinhos ajudavam-nos a nós mas aquilo
era uma vida alegre. A gente cantava, ria, o meu pai a tocar o “bajolim” que
era muito alegre, chamava-se Benjamim Paulo, e então num instante formávamos
ali um jogo de roda , era uma alegria. Mas trabalhava-se, tudo em conjunto, a
gente era mais humana, mais humilde...”
A
felicidade para si é alegria. Simples e claro como quem deseja tudo com o pouco
que tem. Amélia Paulo vive em Lagoaça, a terra que lhe proporcionou as maiores
alegrias e lhe mostrou que viver livre era meio caminho para ser feliz.
“Aprendi pouco, tenho a terceira classe mas depois também nunca me puxou muito,
eu só é rendas e bordados, ao mais livros tenho lá muitos, mas pronto cada um é
para o que puxa. Puxava muito pelo campo, ia sempre tudo ao meu pai, plantar
melancias, feijões, batatas. Apetecia-me, ainda hoje gosto do campo, tenho um
quintalzinho ainda pus uma cebolinhas, umas favas, tudo, gosto de ter, gosto de
trabalhar. Quero trabalhar até ao fim da minha vida enquanto puder”.
Casou
porque insistiram muito. Por ela não tinha pressa ,queria ter gozado mais a
mocidade mas nunca teve motivos para ter mudado os pensares. “Graças a Deus
nunca me arrependi, foi uma companhia muito boa e muito séria”. A vida de
guarda fiscal obrigava muitas vezes a deslocações para longe da terra e Amélia tinha que acompanhar o marido. No
Alentejo deixou dois filhos que não
chegaram a ver o dia. Mais tarde, noutro destacamento do marido para a Póvoa de
Varzim, haveria de ajudar uma senhora a dar à luz: “Fui por uma rua até que fui
dar a um quarto onde estava então uma mulher a ter um filho e eu nunca tal me
aconteceu, foi a primeira criança que eu vi nascer. A mulher pediu-me que chamasse
a parteira e eu telefonei para Vila do Conde. A criança nasceu (...) e então
tratei de matar uma galinha, fiz-lhe um caldinho e dei-lho. Depois lavámos o
garoto e tudo aquilo...”.
(Foi
assim vida e a gente tem que a saber levar com paciência, diria Amélia dos seus
77 anos...)
Agora
governa-se sozinha. Os irmãos estão sempre por perto para qualquer coisa que
precise e de vez em quando visita o filho e a neta mas sempre lhe custa deixar
a sua terra. E é para ela que canta
sempre que se lembra que é alegre:
Somos um rancho da brincadeira
Trazemos ramos da folha da oliveira
Viva Lagoaça com alegria
Viva Lagoaça toda a nossa freguesia
Terra pequena, cheia de rosas
Tens bons rapazes e raparigas formosas
Tens oliveiras e laranjeiras
Tens bons rapazes e raparigas fagueiras
Viva Lagoaça não tem rival
Viva Lagoaça viva também Portugal
Portugal! Portugal!
...
Joana
Vargas
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