Na senda dos doces que conheci em criança, e revivo! Claro
com a cumplicidade da minha irmã Lina que continua com paciência para me
satisfazer os apetites. Mas mais felizes parecem os netos dela que fazem jus à
qualidade da confeção e os fazem desaparecer em poucos minutos. Vou escrever
sobre mais uma receita do caderno de minha Mãe.
Temos pelo país uma variedade considerável de pastéis de
toucinho. E assim se chamam porque um dos ingredientes obrigatórios é
exatamente o toucinho, contrariamente ao toucinho-do-céu, em todas as suas
variedades, que não leva toucinho. O pastel mais famoso que leva toucinho é
“Cristas de Galo” de Vila Real e tem uma forma diferente. E mesmo este, na sua
terra natal, é conhecido também por pastel de toucinho e, erradamente, por
pastel de toucinho-do-céu. Curiosamente a sua história e receita seria cantada
em feiras e que terminava com a seguinte quadra:
O nome toucinho-do-céu
tem a sua explicação:
toucinho pelo ingrediente,
do céu pela satisfação.
O toucinho entra como ingrediente em outros doces e,
possivelmente, o mais conhecido é o Pudim Abade de Priscos. Sabemos que na
região do Douro, em casas ricas, haveria já outros pudins nos quais também
entrava o toucinho com ingrediente.
Agora vejamos como é feita a massa tenra. Existem muitas
receitas para esta massa e muitas vezes não dão a receita pelos segredos com
que é confecionada. A massa tenra poderá ter variantes na sua preparação pois é
uma massa que se pode fritar ou cozer no forno. Também do caderno de minha Mãe,
e com a anotação que a receita é da minha Tia Berta. Era hábito as mulher da
mesma família partilharem as receitas. Tia Berta era casada com o meu Tio
António, irmão mais velho de minha Mãe e atualmente todos falecidos. Amassam-se
10 colheres de margarina derretida com 12 colheres de sopa de água quente, 1
ovo batido, 1 colher de chá de sal e farinha a precisa. Ora aqui está o que
muita gente pensa ser o segredo! A farinha ia-se juntando até se sentir que a
massa tem a elasticidade e consistência boa para ser estendida, e depois
recortada para forrar as formas. É vulgar, especialmente em relação à farinha,
esta expressão a precisa, ou a que necessitar. Isto significa que os cadernos
seriam uma ajuda de memória para quem já sabe reconhecer o ponto de acabamento
de uma massa ou de um creme. Nesta receita foram usada cerca de 200 gramas de
farinha peneirada à medida que se ia adicionando para garantir que não se
formam grumos. Pronto, aqui está. Agora é só ir para a cozinha. Esta receita
foi confecionada para um lanche de aniversário e devo confessar que foi a
primeira confeção a esgotar-se. Além de o doce nunca amargar, quando se prova
apetece repetir!
Esta receita poderia ser vista como pertencendo uma matriz conventual.
Mas não se lhe pode chamar conventual sem conhecer a sua origem. Sabemos que
após a extinção das ordens religiosas em 1834, muitas receitas saíram dos
conventos ou quem saiu deles saberia confecionar sem ter o rigor da invenção da
receita..
Por Virgílio Gomes
Fonte: http://www.virgiliogomes.com/index.php/cronicas/786-pasteis-de-toucinho
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