sexta-feira, 26 de junho de 2015

"TUDO TEM O SEU TEMPO - Autobiografia" , de Ana Maria Magalhães

As casas do trisavô

 "Em Moncorvo, o trisavô vivia num magnífico solar que pertencera à família Pimentel. Júlio Máximo Pimentel, segundo visconde de Vila Maior e bacharel em Matemática pela Universidade de Coimbra, combatera ao lado de D. Pedro durante o cerco do Porto e cobrira-se de glória na Serra do Pilar. Terminada a guerra mudou-se para Lisboa, onde fez uma carreira política brilhante, desempenhando sucessivas missões no estrangeiro ao serviço da coroa. Sem tempo nem disponibilidade para se ocupar das propriedades que tinha em Moncorvo, pôs tudo à venda. António Caetano comprou-lhe terras e comprou o solar, tendo ordenado de imediato que raspassem a pedra de armas porque o brazão não lhe pertencia. O palacete ficou na família até quase ao fim do século xx e era realmente magnífico. Um enorme portão abria para o pátio destinado às carruagens. Três degraus de pedra invulgarmente achatados davam acesso à cozinha com chão em lajes de grani-to e chaminé suficientemente ampla para ali se assar um boi inteiro. No pátio, à esquerda, outros degraus conduziam a uma plataforma empedrada onde ficava o escritório, aposento independente do resto da casa, para receber clientes e empregados. A mobília desse escritório incluía secretária, cadeiras, armários, tudo muito sóbrio. Ao canto encontrava-se um lavatório de ferro com bacia e jarro de loiça branca com flores azuis que conferia um toque pessoal ao ambiente e que todos recordamos com especial ternura.
Do palacete do trisavô, onde atualmente funciona a biblioteca municipal de Moncorvo, só resta a fachada.

A porta principal abria diretamente para a sala de visitas que comunicava com uma infinidade de salinhas e salões, umas com teto de maceira, coberto de pinturas, outras com teto de estuque trabalhado. Os soalhos e portas interiores eram em madeiras do Brasil com embutidos de várias tonalidades entre o mel e o preto do pau preto ou pau santo. Quartos, não sei dizer quantos haveria, mas recordo a estranha sensação de descobrir sempre mais um, nas visitas de setembro. A sala de jantar tinha portas envidraçadas sobre um jardim amplo e bem cuidado onde, entre canteiros de flores e árvores frondosas, crescia uma romãzeira. Bem ao fundo, quase escondido, lá estava o tanque de granito. Em retrospetiva junto-lhe elementos incompatíveis, roupa branca a lavar, peixes encarnados a nadar. Talvez houvesse afinal um segundo tanque mais pequeno, ou talvez essa recordação falseada se deva ao facto de ter sido aquele jardim um espaço misterioso, com pouco sol e muitas sombras. 


Ana Maria Magalhães, nome literário de Ana Maria Bastos de Oliveira Martinho (Lisboa14 de abril de 1946), é uma escritora portuguesa, principalmente direccionada para a literatura infanto-juvenil. É principalmente conhecida por ter escrito a colecção Uma Aventura, em dupla com Isabel Alçada, ex-Ministra da Educação. Conheceu Isabel em Outubro de 1979, no primeiro dia do ano lectivo, na sala de professores da Escola Básica Fernando Pessoa, em Lisboa. Ambas docentes de Língua Portuguesa nessa escola, publicaram o primeiro livro da saga, Uma Aventura na Cidade, em 1982. O número mais recente foi escrito e publicado em 2014.

Vida pessoal

Ana Maria Magalhães, baptizada Ana Maria Bastos de Oliveira Martinho, nasceu numa família estável, que a marcou positivamente durante a infância. É irmã do ator e escritor Tozé Martinho e de Manuel Maria Bastos de Oliveira Martinho, sendo todos filhos do médico António Caetano de Oliveira Martinho e de sua mulher Maria Teresa Guerra Bastos Gonçalves, conhecida actriz, com o nome artístico de Tareka.
Foi casada com António Manuel Cabral de Magalhães, filho de Virgílio Manuel dos Anjos de Magalhães e de sua mulher Maria Antonieta Portela Cabral, meia-sobrinha-bisneta do 1.º Visconde da Amoreira da Torre, pai do seu filho Tiago Filipe de Oliveira Martinho Cabral de Magalhães, casado, e da sua filha Mariana de Oliveira Martinho Cabral de Magalhães, casada com Jorge Manuel Correia Aguiar (NordesteNordeste, 5 de Janeiro de 1968) e mãe das suas duas netas, Matilde Cabral de Magalhães Aguiar (Ponta Delgada, 13 de Dezembro de 2001) e Leonor Cabral de Magalhães Aguiar (Ponta Delgada, 18 de Junho de 2004).
Divorciada deste, é actualmente casada com Zeferino Coelho, editor no grupo Leya da marca Caminho, que publica, desde o início, a coleção Uma Aventura. Foi aluna do Colégio do Sagrado Coração de Maria, em Lisboa, tendo lá concluído o antigo 7º Ano do Curso Geral dos liceus.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ana_Maria_Magalh%C3%A3es_(escritora)

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