12.06.1849 – Nascimento de António Manuel Zilhão, em Carviçais. Foi emigrante no Brasil e ganhou o epíteto de “Diógenes de Carviçais”. Escreveu: - Os Amigos Ursos; Camorra Política e Erro Judiciário ou um crime político.
Campos Monteiro |
12.06.1892 – Publicado o nº 34 do semanário O Moncorvense. Destacamos uma poesia de Campos Monteiro, satirizando a aprovação pelo parlamento de Inglaterra do direito de voto às mulheres:
Não faltava ver mais nada!
Tenho-me rido a perder
Co´esta ideia galhofeira:
Que inda hei-de ver as senhoras
Ir à urna escancarada
Deitar co a mão perfumada
A lista de costaneira!
Mas visto que as amas votam,
I nda um dia hei-de ser gente;
Ideei um expediente
Que de certo faz effeito:
Vou arfanjar mil namoros
Cá em Moncorvo; por fim
Vão todas votar em mim,
Com certeza sou eleito.
António Júlio Andrade
Monárquico,escritor e poeta menor,reaccionário e machista - definitivamente,não faz parte da minha lista de ilustres de Moncorvo.
ResponderEliminarUma moncorvense
Esta moncorvense padece do tique da superioridade intelectual da esquerda republicana e revolucionária.
ResponderEliminarUm moncorvense
MULHERES DE TODO MONCORVO UNI-VOS!
ResponderEliminarComo não sou moncorvense, mas simplesmente transmontano e português, não vejo razão (também não a veria se o fosse!) em optar pelo anonimato! Afinal trata-se de de um "poema" claramente preconceituoso, talvez compreensivelmente para a época,ainda que infeliz e escusado! Apreciá-lo hoje é que talvez só possa acontecer a quem padeça de um grave tique que é o tique comum e recorrente dos sectaristas. É preciso respeitar os direitos humanos em todos os seus complexos propósitos e sendo-se transmontano mais um motivo para se reconhecer a árdua luta pela valorização da condição feminina que mobilizou em cada país do nosso Ocidente um mole muito restrita, mas heróica de senhoras. Lembrem-se de Regina Quintanilha, uma transmontana nordestina de Miranda do Douro que nasceu menos de um ano após a edição da poesia de Campos Monteiro e 20 anos depois deu uma lição à Europa ao ser a primeira mulher da Península Ibérica a licenciar-se em Direito e a exercer advocacia. A odisseia desta - e muitas outras mulheres em Portugal - valem muito mais do que as duas pobres estrofes do poeta em causa.Teria sido ela uma das primeiras incómodas intelectuais da esquerda republicana e revolucionária? Bem-aventurada, então!
ResponderEliminarLeonel Salvado
E votai em mim, que sou um dandy. Tenho apenas uns 16 anos. Deixai lá a politiquice... Afinal, entre nós, só uma minoria dos homens tem direito a voto... E há-de vir a República que ainda há-de tirar esse direito a muitos dos homens que agora votam... A Inglaterra, está à nossa frente com séculos de democracia... C. Monteiro. 1892.
ResponderEliminarMas por que é que os nossos "Anónimos" não optam por se dar a conhecer?
ResponderEliminarCaro "Um moncorvense" : penso que "Uma moncorvense" não padece de tais tiques. E digo isto porque, ainda que gostemos do escritor Campos Monteiro, sobretudo em "Ares da Minha Serra", podemos não gostar da ideologia do homem Campos Monteiro.
Tantas vezes isso acontece e, às vezes, acontece também o contrário: sermos amigos de determinada pessoa e não apreciarmos a sua obra.
A mim também não agradam mesmo nada as ideias defendidas por Campos Monteiro. Ele estava no seu direito de pensar como muito bem entendeu e estou estou no meu direito de pensar como muito bem entendo. Esse mesmo direito tem "Uma moncorvense" e também o meu caro anónimo "Um moncorvense".
Quanto ao apelo deste outro "Anónimo", "MULHERES DE TODO MONCORVO, UNI-VOS" , estou totalmente de acordo com ele. Vamos para a frente com a ideia!
Até à próxima e sempre amigos,
Júlia Ribeiro
Não é necessariamente"superior e intelectual de esquerda republicana e revolucionária"quem exprime revolta contra a ideologia machista de algumas pessoas.Não me considero,porque não o sou, intelectualmente superior a ninguém.Sei o que valho e sei que não sou fanática nem preconceituosa.E não tenho o hábito de julgar quem não conheço.
ResponderEliminarQuanto a Campos Monteiro,apesar de ter gostado de ler "Ares da minha Serra",não aprecio o resto da sua obra em prosa,muito menos a sua "poesia".
E,por último,se mantenho o anonimato,tenho as minhas razões.Nunca me servi dele para insultar ou ofender seja quem for,como podem verificar lendo todos os meus comentários neste blogue.
Então, unamo-nos,mulheres (e também homens lúcidos e respeitadores da igualdade de direitos)contra o machismo e protestemos sempre que nos considerem seres inferiores!
Uma moncorvense
Gostei muito das palavras desta moncorvense! não sei de tiques nem de meios tiques, também tenho os meus...Seja como for, somos livres de expressar a nossa opinião,quanto ao poema, so nos serve para concluir: felizmente que as mentalidades evoluiram! esse tempo, já lá vai,para bem de todos!
ResponderEliminarLeonel Salvado. Fez muito bem falar em Regina Quintanilha, Trasmontana de Miranda do Douro. Mas quero referir que também usava o apelido de Magalhães, tomado de sua mãe que era natural da Junqueira, concelho de Torre de Moncorvo. E posso acrescentar que na luta pela libertação da mulher as Moncorvenses estiveram na primeira linha. A começar pela Pelicana e pela Maria Pinheira, mulher do corregedor de Moncorvo, a qual partiu para a Índia no tempo de D. João II, chefiando "a coluna" das "meninas de el-rei"...J. Andrade
ResponderEliminarO nosso Campos Monteiro reproduz os estereótipos da época. A excepção é que é de espantar. Desde Aristóteles que é este o discurso que atravessa os tempos. Manuel Barrigas, médico, na sua aula magistral em 1888, diz: "A mulher pertence à espécie, sim. Mas...". No séc. VI, por dois votos a favor, um Concílio decidiu que as mulheres pertenciam a esta espécie - a humana! No séc. XVII, Poulin de la Barre defende que a alma não tem sexo, no XIX, diz-se que sim. No XX,Curie não entra na Academia de Ciências para recber o Nobel por ser mulher! No séc. XVIII, a razão ilustrada não contempla a igualdade das mulheres aos homens. Rousseau, tal como Aristóteles, trama-as. Leiam Garrett, um amante das mulheres, no entanto... Enfim! Desabafos de quem navega na História das Mulheres. Concordo com o apelo da Julinha ao "desanonimato"
ResponderEliminarBasta ler a obra de Campos Monteiro - de que o poema postado é um exemplo - (e excluindo "Ares da minha Serra"), para verificarmos que a opinião de "Uma Moncorvense" é inteiramente justificada. Nem uma única das palavras com que expressou a sua opinião é ofensiva.
ResponderEliminarOra, Amigos, vamos unir-nos, pois é disso mesmo que precisamos.
Um abração
Júlia
Penso que não disse, no comentário que enviei, que Manuel Barrigas era médico. Um pormenor importante neste contexto.
ResponderEliminarRegina Magalhães não tinha uma irmã que foi a primeira mulher a tirar o curso de eng.agrónomo?
ResponderEliminarO que faziam as meninas del rei?
Quanto aos "ares da minha serra" eu,confesso,gosto mais do Aires da minha terra.
Mas o que eu gostava mesmo era de ver o Campos Monteiro a declamar estes versos no dia da mulher.Na nossa biblioteca à porta fechado e a sala cheia delas.
COMENTARISTAS ANÓNIMOS
Isto de concluir que Campos Monteiro, aos 16 anos, quando escreveu aquele poema era reaccionário!... Ao contrário, eu creio que, em 1892, em Torre de Moncorvo, Campos Monteiro seria um dos jovens mais "prafrentex". Aliás, era ele que nas férias animava as tertúlias, as "soirées" e os bailes na vila... O seu reaccionarismo nasceu mais tarde, com as injustiças de que foi alvo, por parte da República.
ResponderEliminarQuanto ao voto das mulheres, recorde-se que então só uma minoria dos homens é que tinha também o direito de votar... E 30 anos mais tarde, com a República o universo eleitoral ainda ficou mais reduzido...
E na progressista Framça e outros países europeus aquela medida aprovada em Inglaterra foi vista com muito espanto.
Entre nós, recordam-se daquela sentença do "progressista" Ferreira Pontes , presidente de uma mesa de voto, para o vogal da mesma, o conservador António Caetano de Oliveira:
- Eu não admito que o senhor saiba ler! Um passo atrás, como manda a Ordenação!
Quanto ao poema do Gil T sobre os Aires da Minha Terra, é um exemplo acabado do peculiar espírito crítico dos Moncorvenses que infelizmente se encontra hoje bem adormecido. J. Andrade
Com 16 anos o raparigo era guitcho.Marialva, mas guitcho.Quem havia de dizer que esta jovem promessa acabava num escritor menor.Moncorvo,elevou-o ,teve a primeira estátua,nome de colégio (1936!?),nome de rua, antiga e actual rua da Misericórdia,nome de terreiro (será sempre O CASTELO)e finalmente nome de Pensão.Só o dr. Andrade se lembrou da data do seu nascimento(neste blog).
ResponderEliminarAlguns comentários são de grande qualidade.A defesa dos nossos é sempre de louvar mesmo contra a verdade dos tempos.
"o meu filho,senhor doutor juiz,não é culpado de morte nenhuma,ele é uma jóia de menino,amigo do seu amigo,crente,ama os seus pais;culpado é a escola,a televisão,as más companhias...esses sim,são os verdadeiros culpados".Asim defende a mãe o seu filho, contra todos e contra tudo.
Eu,moncorvense de 4 costados, declaro que CAMPOS MONTEIRO foi o maior escritor da primeira metade do século xx."Saúde e Fraternidade" é o melhor livro sobre a primeira república.Campos Monteiro a Nobel póstumo ,JÁ!
MONTEIRODECAMPOS
Mulheres e homens de boa vontade,independentemente de ideologias políticas ou religiosas de cada um,todos contra o obscurantismo e o desrespeito pelos outros seres humanos.
ResponderEliminarManeldabila
"Meninas d´el-rei" são as "órfãs do rei", Dr. J. Andrade?
ResponderEliminar- Efectivamente trata-se das "órfãs de el-rei" porque em grande parte eram meninas que foram abandonadas e recolhidas em casas da roda, conventos, etc. Chamam-lhe "meninas de el-rei" porque estavam sobre a protecção real, através dos juízes dos órfãos, da mesma forma que também os nossos reis, no tempo em que havia judeus os tinham sob sua protecção e os tratavam por: "os meus judeus".
ResponderEliminarJ.Andrade
As "órfãs d´el rei" têm sido objecto de estudo de investigadores que se debruçam sobre a assistência a partir do século XVI, período que, especialmente, as contempla. Há uma rica bibliografia desses especialistas.
ResponderEliminarFoi de mentes como as do Campos Monteiro que floresceu o FASCISMO, pese embora algum valor que teve na escrita,
ResponderEliminarMachistas,racistas,fascistas,fundamentalistas,ditadores e opressores de todas as cores e feitios,fora com eles.
ResponderEliminarMuito bem! Deitem abaixo a sua estátua! Façam o mesmo à igreja matriz! Arrasem Moncorvo!... Afinal tudo foi construído com opressão!... Eu próprio não sei se sou opressor ou oprimido!... J. Andrade
ResponderEliminarCreio que Campos Monteiro não era "Machistas,racistas,fascistas,fundamentalistas,ditadores e opressores de todas as cores e feitios,..."apenas um homem do seu tempo como aqui já foi dito.Foi o escritor que mais livros vendeu nos anos trinta.Foi Aquilino Ribeiro que disse.INSUSPEITO ,neste caso.
ResponderEliminarNoitibó
Ignorando modas,normas,leis,sempre houve Homens justos (e Mulheres revolucionárias) em todas as épocas.
ResponderEliminarPaulo Coelho deve ser o escritor brasileiro que mais vende em todo o mundo.No entanto,o autor do maravilhoso romance "Grande Sertão : Veredas",Guimarães Rosa(talvez o maior escritor brasileiro,dos que conheço) é praticamente desconhecido.Mais uma vez quantidade não tem nada a ver com qualidade.
Uma moncorvense
Muitas voltas já deve ter dado o Campos Monteiro na sepultura por ter sido eleita uma mulher para a Assembleia da República ...
ResponderEliminar(entra a figura fantasmagórica de Campos Monteiro, sozinho em palco, deambulando de um lado para o outro)
ResponderEliminarCAMPOS MONTEIRO (com ar distraído) – Cem anos! Cem anos passaram. Os finais de século são assustadores! Repete‐se tudo? Os valores, meu Deus, os valores! A ética! A moral! Por onde andarão? Será que se perderam para sempre nos saudosos tempos do romantismo, em que a palavra contava? Em que a palavra não se vendia a quem desse mais? Tudo se repete… tudo se repete! Outra vez a República! Outra nefasta e cavernosa República!
“Montes da minha terra
Na paisagem melancólica e triste que formais
Eu vejo em ti projectada a minha imagem
A própria imagem que amanhã agasalhais
(Pequena pausa. Campos Monteiro admirado com o que ouvia e Dando conta que o escutam, olha de frente para o público, desafiadoramente)
CAMPOS MONTEIRO – Quem é este? Perguntais vós. Pois eu respondo... com todo o prazer vos respondo. Sou Campos Monteiro, Abílio Adriano Campos Monteiro! Fui, no meu tempo, um dos escritores mais populares e mais lidos. Já ouviram decerto o cumprimento republicano “saúde e fraternidade”. Pois bem! Foi precisamente arrebanhando jocosamente essa saudação que eu escrevi a sátira política com o mesmo nome. Sabem que Saúde e Fraternidade foi o livro mais vendido no primeiro quartel do século XX? 40 000 Exemplares em seis meses! Um número enorme mesmo para estas primeiras décadas do século XXI, em Portugal. Vejo nos vossos olhos a pergunta: mas o que tratava, afinal, Saúde e Fraternidade? Já vos disse: sátira! (levantando o tom de voz) Sátira, que era o terreno onde minha pena melhor se sentia. (mais alto) Sátira, que era o género que melhor representava Portugal. E sabeis que esse livrinho foi reeditado em 1978? Por que será? A caricatura da Primeira República teve o seu prolongamento na terceira. E continua! (mais triste, olhando para o chão) E continua… Mas agora já não há Campos Monteiro! Nem mesmo aquele que caluniou el‐Rei D. Carlos, o António Albuquerque. Já não há visionários. Foi o que eu fui (pausa): um visionário. Por isso escrevi, no saudoso jornal Pátria, em reposta a um caluniador, que tanto a monarquia como o republicanismo hão‐de baquear um dia e que “há de levar muitos séculos, é evidente, tantos, que ninguém ainda hoje consegue aperceber os contornos d’essas novas modalidades governativas que as nações hão de adoptar um dia”. Mas não se iludam: sou monárquico. (pausa) É verdade que estive tentado pela República, pois éramos governados pelo execrado carcereiro João Franco. Mas nem mesmo o aceno de ilustres figuras republicanas como Sampaio Bruno me fizeram cair na tentação, apetecível em 1906. O ignóbil atentado que ceifou a vida a D. Carlos e a seu filho D. Luís depressa expuseram o verdadeiro republicanismo. (pausa) O que me restava, então? (pausa e olhando para o chão) Simples a resposta (pausa, olhando agora para a assistência, aumentando o tom de voz): remar conta a maré. E foi isso que fiz toda a minha vida, mesmo quando passei por aquela casa de vaidades que vós chamais
agora, pomposamente, casa da democracia. (pausa) É verdade! Fui deputado monárquico pelo círculo do Porto. Curto período, esse. A esperança sidonista depressa se apagou. O que me restava, afinal? (pausa) “Domus mea este orbis meu”. (em crescendo) E sabem qual foi este meu mundo? Esta minha casa? A minha pátria? (pausa, na tentativa de criar um certo anseio na assistência) A língua, senhores, a língua portuguesa. Aquele poeta meu contemporâneo bem diferente de mim, aliás também disse qualquer coisa do género, não foi? “A minha pátria é a língua portuguesa”. Não podia estar mais de acordo. Me vou. Adeus!
(começa a caminhar, com passos lentos mas decididos, com os braços caídos e com evidentes sinais de desilusão, para o fundo do palco).
escrita pelo josé eduardo
o poema em questão é desastradamente pobre e demasiado juvenil. não deixa, no entanto de se inserir na linha satírica que o autor, posteriormente, deu provas. quanto à questão da visão das mulheres, ou da sua inserção na vida social, o comentário da Adília Fernandes a este respeito resume a questão: a visão oposta a esta é que seria de espantar.
ResponderEliminarnos idos do princípio do século passado, algumas das nossas mais fervorosas revolucionárias no que à questão dos direitos das mulheres diz respeito, apostavam numa "emancipação" à qual estaria subjacente, por exemplo, o evitar a leitura “de romances sensualmente aperitivos", pois só assim ela pode ser educada “na modéstia, no bom senso, no heroísmo e na virtude" (Angelina Vidal, num artigo no jornal "A Crónica", em 1906). Mesmo Maria Amália Vaz de Carvalho – a primeira mulher a entrar na Academia das Ciências e uma voz reverenciada a respeito de temas de caráter social e pedagógico, defendia a submissão da mulher como um dever moral.
um abraço,
josé ricardo