segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Coitada da moleirinha! - ARINDA ANDRÉS

Fotograma do documentário "Velhas Profissões"
Toda a noite, a moleirinha peneirou, peneirou,
e mesmo antes de chegara à serra, cansada,
e ofegante, a moleirinha errante
a farinha despejou e em neve se tornou,
branca e fria, leve, leve e fininha,
feita de lágrimas da linda moleirinha.
e tanto, tanto chorou! e tanto, tanto soluçou,
que em lindo orvalho se moldou,
vasto e imenso, imerso em frio denso,
e toda a noite em cristal se ficou,
em brilhos de vidrilhos, esculpidos e polidos,
árvores lavradas de branco, vestidas
de estátuas de mármores antigas,
do choro manso e humilde da moleirinha.


Foto de Ana Teixeira
Toda a noite a moleirinha
peneirou, peneirou
toda a gente assim dizia,
esta noite é que nevou, é que nevou!


E era um tal espanto, uma tal maravilha!

deixando a terra, toda, assim toda branquinha!
que até mesmo parecia, finos e requintados, 
sublimes e aprimorados, lindos! lindos,
e esmerados, finos rendilhados
da mais preciosa e trabalhada joalharia!
e mesmo, mesmo a sufocar, sem mais aguentar 
começou a polvilhar sacos e sacos de farinha,
e todas as casas ,árvores , ruas e telhados,
assim mesmo caiados de tanta brancura 
mostrar, parece que a moleirinha, de neve andou a pintar!
brilhos de vidrilhos, esculpidos e polidos
em árvores, lavradas de branco, vestidas
de estátuas de mármores antigas!



Toda a noite a moleirinha
peneirou, peneirou
toda gente assim dizia, 
esta noite é que nevou, é que nevou!



e o sol, até para brincar, lá no cimo, a brilhar
e para se acreditar, começou de a acariciar
e mesmo de leve, mesmo de levezinho
lhe tocou a ciciar, e escutando, de mansinho,
se sente o sussurrar ali naquele ribeirinho,
onde o sol, de envergonhado, se ficou, escondidinho
e era tanta a paz na terra, uma paz celestial, 
no meio de tal brancura, no meio de tal beleza, 
a formosura da neve era a maior riqueza!
sem diferença, tudo igual, a moleirinha
pintou , de neve, que maravilha!
a terra toda e a paz divinal



Toda a noite a moleirinha 
peneirou, peneirou
toda a gente assim dizia,
esta noite é que nevou, é que nevou!



e mesmo no silêncio da calmaria no ar
se escuta, se sente, e se pressente,
se adivinha, o respirar
da linda moleirinha
que toda a noite peneirou,
peneirou
e de neve, branca e fininha,
pura, imaculada
no silêncio de uma noite abafada
em frio cortante, gelo afiado
a terra redondinha pintou
de neve, branca, pura, imaculada!



Toda a noite a moleirinha 
peneirou, peneirou
toda a gente assim dizia,
esta noite é que nevou, é que nevou!,



. e o luar de prata , 
devagar, devagarinho,
já a meio do caminho, 
desce a serra de mansinho
em afagos de magia,
sonhos de melodia,
da lua redonda e nua,
etéreos, brancos,
fios prateados,
de azul marchetados, tece , 
e na rua gelada e fria
aquela suave calmaria, 
de paz é iguaria,
assim se insinua na alma
mais dura e mais fria
e a paz na terra, divina, 
amanhece.
branca e pura, imaculada aparece.



coitada da moleirinha!. 
e um coelhito assustado,
de focinho afiado,
qual arado de lavrador, 
na neve deixa sulcado
semente de ingenuidade, 
de coragem e liberdade
e meio estonteado
procura algum calor
na calmaria da tarde, de neve fria




Toda a noite a moleirinha
peneirou, peneirou
e tão cansada ficou, 
que a farinha soltou
ali pela serra acima
e tanto, tanto soluçou
a noite inteira chorou
que em neve branca e fina
se tornou.
coitada da moleirinha…..!

Arinda Andrés

Clique na imagem para aumentar ou abra a imagem numa nova janela para poder ampliá-la ainda mais.
(Clique com o botão direito do rato em cima da imagem que pretende ampliar e depois escolha a opção: "Abrir hiperligação numa nova janela", na mesma surge ainda uma lupa com um + para poder ampliar uma segunda vez)


(Reedição de posts desde o início do blogue)

5 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

    ResponderEliminar
  2. Textos e poemas ,sempre de qualidade.Tem livros publicados?Se tem onde os posso obter?

    ResponderEliminar
  3. Gosto muito de escrever; ainda não publiquei nada, talvez um dia apareça uma oportunidade...
    Arinda Andrés

    ResponderEliminar
  4. "Toda a noite a moleirinha peneirou, peneirou...
    ...e em neve fina se tornou".

    Toda a noite a Tininha poetou, poetou ...
    e madrugada, já cansada,
    adormeceu.

    Não rima mas, se calhar, até é verdade.
    Já lhe tinha dado os meus parabéns quando o poema foi postado no blog da Associação. Continue, caríssima. Está no caminho certo.

    E agora deixo-lhe um beijinho.
    Júlia

    ResponderEliminar
  5. olá júlia! obrigada pelo seu humor e atenção; eu gosto muito de escrever.E gostava de publicar, mas...
    um beijinho
    Tininha

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.