Uma professora do ensino especial de Bragança colocada a 12
de Setembro em Constância, para onde se mudou com a filha, foi informada na
sexta-feira da revogação do seu contrato e de nova colocação no Algarve. Céu
Bastos disse à agência Lusa que em 12 de Setembro foi informada, através de um
email da Direcção-Geral da Administração Escolar (DGAE), da possibilidade de
ser colocada em Constância, no distrito de Santarém, ou em Vila Real de Santo
António, tendo assumido, na plataforma, a primeira opção, apesar de tudo a
menos distante da sua residência.
Com o essencial para a mudança no carro, Céu Bastos andou
dois dias à procura de escola para a filha (o Agrupamento de Constância não tem
11.º ano) e de casa para arrendar, acabando por encontrar ambas em Abrantes (a
15 quilómetros). No dia 15 de Setembro apresentou-se no Agrupamento de
Escolas de Constância, onde começou a trabalhar com os alunos e as professoras
titulares.
Na sexta-feira, às 17h17, recebeu um email informando-a da
desvinculação da colocação em Constância e do lugar disponível em Vila Real de
Santo António, a que se seguiu outro, perto das 19h00, com a opção de Portimão,
tendo de decidir, até segunda-feira, qual dos dois aceita. "Sinto-me
revoltada. Arrastar a minha filha nisto é angustiante. A mudança já foi
complicada. Ela está no 11.º ano, essencial para a média de entrada na
Universidade, tem testes marcados. Agora é obrigada a ir para Vila Real de
Santo António, no outro extremo do país", disse Céu Bastos, sublinhando
não ter palavras para descrever a situação em que se encontra.
Ao "terramoto" em que foram transformadas as suas
vidas junta-se a questão financeira, já que, por ter sido colocada a 12, só
terá o seu primeiro salário a 23 de Outubro, tendo que acrescentar novas
despesas às que entretanto foi forçada a assumir. "Mais que a despesa
económica, que nos obriga a viver momentos muito maus que nos levam a chegar ao
fim do mês não com a conta a zeros mas a negativo, é a parte emocional. É
desumano", desabafou, lamentando que quem está nos gabinetes "não
faça ideia do que se passa no terreno".
"Ter andado dois dias com o carro cheio, a dormir em
residenciais, a procurar escola para a minha filha e casa para alugar, primeiro
em Vila Nova da Barquinha, depois no Entroncamento e finalmente em Abrantes.
Quando finalmente estávamos estáveis, a morar perto da escola dela, este mail
foi surreal. É desumano". A situação de Céu Bastos e da filha é para
a presidente da Câmara Municipal de Constância, Júlia Amorim,
"indescritível" e "revoltante" e para a directora do
Agrupamento de Escolas de Constância, Anabela Gracio, "inacreditável",
com a agravante de o Ministério não querer assumir o ónus da anulação,
colocando-o nos directores.
As escolas com contrato de autonomia e em território
educativo de intervenção prioritária receberam na sexta-feira orientações da
DGAE para revogarem as listas de ordenação anteriores e anularem as colocações
de professores do concurso da bolsa de contratação cujos resultados foram
conhecidos a 12 de Setembro. As novas listas substituem as anteriores, nas
quais foram detectados erros, que levaram à demissão do antigo director-geral
da Administração Escolar. Os directores de escolas questionam a
legitimidade do ato pedido pela DGAE, por entenderem que deve ser o Ministério
a anular as colocações, que partiram de erros assumidos pela tutela.
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