Abertura aos estudantes estrangeiros trouxe ao
Nordeste Transmontano diferentes credos. Direcção da instituição criou agora um
espaço de oração para todos sem excepção.
Já foi a casa senhorial de uma das quintas
mais ricas da zona de Bragança, antes de ser transformada em pólo de
investigação do Instituto Politécnico de Bragança (IPB). Agora, o espaço que
albergou o Centro de Investigação de Montanha tornou-se um espaço intercultural
e inter-religioso, onde alunos de todos os credos e religiões podem coabitar. E
o pontapé de saída desta experiência inédita foi dado por três estudantes
alemãs, que ao longo do último mês estiveram em Bragança a recolher experiência
de vida e a aprender os desafios de viver em comunidade.
“Tem sido muito bom”, garantiram ao PÚBLICO
Margarete, de 21 anos, estudante de Psicologia e oriunda de Triest, Anna, de
18, que veio de Munique e quer ser professora, e Lisa, também de 18,
proveniente de Colónia e que quer estudar Teologia. As três jovens participaram
numa acção promovida pela Taizé, uma comunidade ecuménica localizada em França,
que acolhe jovens e adultos das várias confissões cristãs no mesmo espaço, de
partilha. “É uma forma diferente de viver a fé, com respeito pelos outros”,
dizem. Apesar da dificuldade com a língua, comunicar não tem sido um problema.
“Entre inglês, francês ou por gestos”, explicam, com um sorriso tímido.
Aproveitaram para conhecer a região e participar em alguns momentos importantes
na vida da diocese de Bragança-Miranda, como a comemoração do Dia Nacional dos
Bens Culturais, que decorreu em Torre de Moncorvo, no dia 18 de Outubro.
A presença das três jovens surgiu como forma
de um “desafio” lançado ao padre Calado Rodrigues, capelão do Instituto. “[A
comunidade de Taizé] está num ritmo de preparação do centenário do nascimento
do fundador, do aparecimento do fundador da comunidade, e está a colocar em
diversos pontos do globo pequenas comunidades temporárias. A ideia é terem uma
experiência de vida comunitária, depois uma experiência de oração (três vezes
ao dia). E depois uma experiência de solidariedade”, explica o sacerdote, que
supervisionou a estadia das jovens em Bragança.
O trabalho foi um pouco dificultado pela
questão da língua, mas conseguiram ultrapassar isso e comunicar com os idosos e
com as crianças das IPSS. “Encontrámos muita gente que fala inglês e francês”,
recordam as jovens.
Para além disso, tiveram contactos com os
estudantes do IPB, das escolas, para divulgar a comunidade, o seu objectivo e
espírito, “que é sobretudo marcado pelo espírito ecuménico, com um bom
relacionamento entre as diferentes igrejas cristãs”, sublinha o sacerdote. O
grande objectivo foi “motivar as pessoas a participar, de 9 a 16 de Agosto,
nessas comemorações”. ”Estamos a organizar um grupo daqui para participar.
Estarão milhares de jovens de todo o mundo”, acredita. Esta experiência serviu
de ponto de partida para um outro projecto do IPB, que passa pela criação de um
espaço intercultural e inter-religioso, situado à entrada da Escola Superior
Agrária, em Bragança. “Primeiro pensámos em criar um espaço para oração
ecuménica. Mas chegou-se à conclusão que o IPB tem-se internacionalizado muito,
e há estudantes vindos de diversas latitudes religiosas e culturais, pelo que
se sentiu a necessidade de criar um espaço de reflexão intercultural e
inter-religiosa”, explica o capelão do Politécnico de Bragança. A necessidade
foi identificada, inicialmente, pela direcção do Instituto. “A proveniência dos
alunos tem aumentado, assim como o número de religiões. Este ano tivemos
candidaturas dos Países Africanos de Língua Portuguesa, mas de muitos outros
países africanos, da América, da Europa e do Oriente, de países como o
Bangladesh, a Índia ou o Irão”, explicou Sobrinho Teixeira, o presidente do
IPB, ao PÚBLICO, revelando que o objectivo “é ter uma atitude preventiva e
afirmativa desta situação, de maneira a que se possa fazer disto uma cultura de
tolerância pela diferença”.
Funciona como “um mesmo espaço para onde vão
ser convidados os alunos do IPB, de diferentes regiões, de diferentes
religiões, para cada um ter a sua afirmação”. “Pretende-se o acentuar da
diferença mas com harmonia e tolerância. Para que cada um possa ter um espaço
para orar mas afirmar aquilo em que acredita”, sublinha. Será um espaço em
branco, ou seja, de decoração neutra, em que cada grupo pode colocar a
decoração consoante as suas crenças (imagens, por exemplo), e que retira e
guarda após a oração.
A ideia é peregrina e nem mesmo as três jovens
alemãs esperavam algo semelhante. “Nunca tínhamos visto nada semelhante. É uma
ideia muito boa porque se o fizermos todos os dias torna-se um hábito. E é uma
forma de reflexão e introspecção”, dizem. “[As pessoas] não precisam de rezar
juntas mas têm de se respeitar e podem conhecer-se melhor”, diz mesmo
Margarita, a mais velha das três, estudante de Psicologia.
Fonte: http://www.publico.pt/local/noticia/cristaos-muculmanos-ou-budistas-vao-rezar-juntos-no-mesmo-espaco-no-instituto-politecnico-de-braganca-1674929
Fonte: http://www.publico.pt/local/noticia/cristaos-muculmanos-ou-budistas-vao-rezar-juntos-no-mesmo-espaco-no-instituto-politecnico-de-braganca-1674929
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