Os autarcas das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto
pouco investem na prestação de contas da suas atividades. A segunda edição do
Índice de Transparência Municipal distingue sobretudo os concelhos do interior.
Alfândega da Fé, no distrito de Bragança, é a autarquia do
país com a melhor classificação no Índice de Transparência Municipal (ITM), uma
iniciativa da Transparência e Integridade, Associação Cívica (TIAC), cujos
resultados acabam de ser divulgados em Lisboa, nesta manhã de sexta-feira. No
ranking de 2013, o concelho cujos destinos são presididos desde 2009 pela
socialista Berta Nunes ocupava já o 2.º lugar (atrás da Figueira da Foz, agora
relegada para o 11º posto).
No top-10 do ITM não está nenhum dos dez municípios mais
populosos do país (Lisboa é 113º; Sintra, 197º; Vila Nova de Gaia, 96º; Porto
está melhor, em 28º). O interior e o centro-norte levam a dianteira. A sul,
duas exceções: a única capital de distrito (Évora); e o único concelho das
áreas metropolitanas (Seixal). Por cores políticas, o PS esmaga: sete em 10.
Autarquias presididas por independentes, nem vê-las.
O ITM afere o grau de transparência de cada município,
medido através de uma análise da respetiva página na internet. A TIAC avalia o
volume e o tipo de informação disponibilizados aos munícipes (e à opinião
pública, de uma forma geral) sobre a estrutura da autarquia, o seu
funcionamento e atos de gestão, entre outros tópicos. Áreas de elevado risco de
corrupção, como a contratação pública e o urbanismo, suscitam uma particular
atenção dos autores do ITM.
O segundo lugar do ranking da transparência de 2014 é
ocupado por Carregal do Sal, município também liderado por um socialista, que
deu um salto significativo em relação a 2013 (era 37º). O pódio (3º) é fechado
por outro concelho rosa: Torres Novas. Também aqui houve uma melhoria, ainda mais
expressiva: era 66º em 2013.
Saltos gigantes
Mas progressos realmente significativos no top-10 foram
dados por outros três concelhos, que galgaram mais de duzentos lugares (e
qualquer um deles com uma pontuação que é mais do dobro da registada no ano passado).
São os casos de Porto de Mós (4º lugar, quando era 229º em
2013); Marinha Grande (em 7º, contra 216º na classificação anterior); e Lousada
(8º atualmente, 229º em 2013). Três municípios igualmente presididos por
autarcas do PS, partido que ocupa sete dos 10 primeiros lugares.
Os restantes lugares desta lista de honra são ocupados por
Mirandela, do PSD, em 5º (era 9º em 2013); Évora, do PCP, em 6º (era 17º);
Vizela, do PS, em 9º (era 7º); e Seixal, do PCP, que também subiu muitos
degraus (era 95º, agora fecha o top 10).
Municípios mobilizados
No segundo ano em que é analisada a prestação de contas do
poder local, nomeadamente a forma como as autarquias divulgam informação
relevante para os seus munícipes e para eventuais investidores, a TIAC regista
uma muito maior colaboração das autarquias.
"Sentimos uma preocupação de muitos municípios. Tanto
funcionários como eleitos perguntaram, informal e formalmente, como poderiam
melhorar a sua performance", explica João Paulo Batalha, diretor executivo
da Transparência e Integridade. "Nos contactos mantidos, percebemos que
tinham uma grande preocupação em perceber o que queríamos", acrescenta.
Há um ano, apenas 29 concelhos participaram no contraditório
(fase em que cada autarquia se pronuncia sobre a avaliação que a TIAC faz a
partir da análise do sítio do município na internet); neste ano, o número
ascendeu a 126 (embora apenas 19 tenham repetido a colaboração).
Na elaboração do índice de cada concelho (avaliado entre
zero e 100 pontos), aTIAC considera a existência de 76 indicadores possíveis.
Estes estão agrupados em sete dimensões: informação sobre a organização,
composição social e funcionamento do município; planos e relatórios; impostos,
taxas, tarifas, preços e regulamentos; relação com a sociedade; contratação
pública; transparência económico-financeira; transparência na área do
urbanismo.
As melhorias na transparência notaram-se sobretudo entre os
municípios com melhor desempenho. A média de pontuação dos dez primeiros passou
de 54,5 para 64,8. Já a média dos 308 concelhos do continente e ilhas teve um
ganho meramente marginal: de 33 para 34 pontos.
Recuos preocupantes
Por outro lado, fazendo uma desagregação dos resultados
pelas diversas dimensões, até há retrocessos. Nas informações sobre a transparência
económico-financeira (divulgação de dados sobre o orçamento da autarquia, mapa
de fluxos de caixa, lista de dívidas a fornecedores ou de empréstimos à banca e
respetivos prazos e vencimentos, por exemplo), a média nacional desceu de 67
para 62.
"É preocupante que tenha havido um recuo. É uma
dimensão a que teremos de estar atentos no próximo ano", diz João Paulo
Batalha. Também na dimensão da contratação pública e na dimensão dos impostos,
taxas, tarifas, preços e regulamentos, há agora menos transparência do que em
2013. Como se a saída da troika tivesse aliviado a pressão para uma prestação
de contas do poder local.
A TIAC, atualmente presidida pelo investigador Luís de
Sousa, é a representante em Portugal da ONG anticorrupção Transparency International.
O Índice de Transparência Municipal é um projeto da TIAC (associação sem fins
lucrativos que tem como finalidade geral promover a legalidade democrática e a
boa governação), num trabalho conjunto com várias entidades.
Da parceria fazem parte a Unidade de Investigação em
Governança, Competitividade e Políticas Públicas da Universidade de Aveiro;
Núcleo de Estudos em Administração e Políticas Públicas da Universidade do
Minho; Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; Centro de Estudos Sociais
da Universidade de Coimbra; Instituto de Ciências Sociais da Universidade de
Lisboa; e Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa.
Fonte: http://expresso.sapo.pt/camara-de-alfandega-da-fe-e-a-mais-transparente-do-pais=f897031
Alfândega da Fé e Mirandela no top da transparência! São estes exemplos que orgulham Tras-os-Montes!
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