terça-feira, 14 de maio de 2013

“Esqueci-me de dizer isto”,por Antónia Conceição Reboredo


Antónia Conceição Reboredo, do Pombal, foi uma das pessoas entrevistadas para o projecto “Gentes de Alfândega”, que faz parte do Arquivo Histórico do Município de Alfândega da Fé. Dois dias depois de ser entrevistada, ao regressarmos à aldeia de Pombal, dona Antónia chamou-nos e entregou-nos uma folha escrita pelo seu punho dizendo-nos: “Esqueci-me de dizer isto”.
É esse texto que hoje reproduzimos.


Agora vou falar do tempo de antes. A gente vivia com muita dificuldade, tinha de fazer muita coisa , que trabalhar muito no campo para se poder viver. A gente criava os frangos, iam-se vender a Alfândega às casas ricas e havia compradores pelas ruas.Os ovos, a gente só comia algum no dia de Carnaval ou de Páscoa, ou nas segadas, ou nas malhadas ou em dias de festa, ou quando se ia à Senhora da Assunção , à Senhora do Amparo a Mirandela , ao Santo Antão da Barca ou Santo Ambrósio ou outras mais. Era raro comer-se um frango, eram só para as pessoas ricas.
Esqueci-me de lhe dizer que nas adegas  também guardávamos as batatas para se gastarem todo ano, quem as colhia.
 Também me esqueci de lhe dizer que não tínhamos  água em casa, tínhamos de a ir buscar bastante longe, nos cântaros de lata ou de barro, não tínhamos fogão, tínhamos de fazer lume na lareira para fazer o comer, não tínhamos frigorífico para guardar as comidas, não tínhamos micro-ondas para aquecer as comidas, não tínhamos televisão para ver o que se passava no mundo e passarmos o tempo mais alegre e não nos custar a passar o tempo. Não tínhamos electricidade em casa nem nas ruas . Em casa, as coisas que eu já nomeei, por exemplo a televisão, o frigorífico e o micro-ondas e os rádios, não podiam trabalhar, porque não tínhamos electricidade para as ligar na ficha. Agora estamos em crise, dizem na televisão, mas agora a gente é criada com mais mimos e com mais coisas boas . Aquelas pessoas que agora as podem ter, dantes não tinham dinheiro para as comprar. 
Antónia Conceição Reboredo

9 comentários:

  1. Muito agradecido a dona Antónia pela lucidez,rigor e franqueza em ditar as suas memórias.Belo trabalho.Quando for a Alfândega da Fé dou um salto a Pombal para a conhecer.Bem haja.
    Afonso G.

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  2. Anto Affonso escreveu: Obrigado Lelo...! Este testemunho, na sua pureza de estilo, faz-nos reflectir e se calhar, avivar a memória ...Abraço

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  3. Parabéns Antónia a tua memória nunca falha. Lembras-te de tudo. Bj

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  4. Adelina Meireles escreveu:
    Lindo texto! É mesmo! Nada havia naquele tempo. Também ainda passei um pouco por isso. Embora tivesse estudado e sou professora, sei que os meus pais fizeram muitos sacrifícios por mim. Nas férias trabalhei muito no campo. Tinha que se aproveitar tudo.

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  5. Um texto a lembrar o tempo em que nada se tinha e a alertar o pouco que se vai tendo hoje.Parabéns e felicidades para a narradora.

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  6. LÚCIDA E CLARA COMO A ÁGUA DA RIBEIRA DA VILARIÇA.Quando o pobre comia galinha(pitos) um dos dois estava doente.Recolham mais textos desta senhora.E a entrevista passa aqui nos farrapos?
    M.T.

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  7. Área da freguesia: 11 km.

    Área da freguesia: 11 km.

    População residente: 225 hab.

    Aldeias anexas: não tem

    Distância à sede de concelho: 14 km.

    Património cultural e edificado: Igreja Matriz (séc. XVII), Castelo da Marruça, Ermida de Santo Antão da Barca, nova ponte sobre o Sabor que liga Alfândega da Fé a Mogadouro.Locais a visitar: Igreja Matriz (séc. XVII), Castelo da Marruça, Ermida de Santo Antão da Barca, nova ponte sobre o Sabor que liga Alfândega da Fé a Mogadouro, Fraga do Crato, Alminhas.



    A localidade ter-se-á desenvolvido a partir do início do séc. XVI, facto atestado pelos dados do primeiro recenseamento da comarca de “Tralos Montes” (1530), que identifica 4 moradores nesta povoação.

    De acordo com a tradição popular o topónimo Parada está relacionado com o facto de os habitantes de Santo Antão e das outras quintas que por ali havia, fazerem uma “parada” no local onde hoje se encontra a povoação para ir á missa a castro Vicente.

    No entanto há também quem defenda que o Topónimo está relacionado com o foro de parada, ou seja, com a obrigatoriedade de a população dar uma refeição aos seus senhores. Só a partir do séc. XVII é que a localidade teria condições para garantir o foro aos Távoras, senhores destas paragens, cuja influência no país se extinguiu em 1759.

    Porém, a existência na área da Freguesia de povoados fortificados como o castro/Castelo da Marruça e posteriormente o Santo Antão da Barca, deixa antever que o povoamento nesta zona é muito mais antigo do que os primeiros registos existentes.

    A principal riqueza da freguesia é a agricultura, sendo a amêndoa a sua base graças à variedade de grande qualidade aí produzida e que toma o nome de "refego" "repego" ou "parada". Mas para além da amêndoa produz-se azeite e vinho, sendo este considerado um dos melhores do concelho. Também a pastorícia permite o fabrico de excelentes queijos de cabra e de ovelha.

    Na igreja existe uma cruz processional e uma custódia de prata feitas em Guimarães em finais do séc. XVIII, que segundo a tradição popular foi enterrada pela população para não ser roubada pelos franceses aquando das invasões.
    http://www.cm-alfandegadafe.pt/freguesias/32

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  8. Freguesia de Pombal



    Área da freguesia: 6 km.

    População residente: 136 hab.

    Aldeias anexas: não tem.

    Distância à sede de concelho: 14 km.

    Património cultural e edificado: Igreja Matriz, Capela de Santa Marinha, nichos de Santo António e de Nossa Senhora de Fátima, lavadouro com painéis de azulejos.

    Locais a visitar: Paisagem natural com destaque para as amendoeiras em flor.




    Localizada na vertente sul da Serra de Bornes, encravada entre montanhas, rodeada de estradas sinuosas e voltada para o Vale da Vilariça, de ruas estreitas com declives acentuados, com alminhas transformadas em modernos nichos e um lavadouro público com painéis de azulejos, a aldeia do Pombal encaminha o viajante para a conversa demorada na tarde calma. Os campos à volta respiram tranquilidade e trabalho.

    Esta freguesia possuiu um clima bastante quente e com amplitudes térmicas muito inferiores à média do concelho, produzindo-se ali boas hortaliças, azeite, figos e bastante cortiça.

    Nas proximidades, entre esta localidade e a de Vales, encontram-se as ruínas de uma aldeia conhecida por “Vale das Cordas”. A tradição explica que foi a partir desta localidade que surgiu a actual aldeia de Vales, mas pode igualmente levantar-se a hipótese de o povoamento da zona ser ter desenvolvido do castro para esta povoação extinta e depois esta ter dado origem às duas que lhe ficam vizinhas.
    http://www.cm-alfandegadafe.pt/freguesias/33

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  9. Tantas memórias ! E nem todas são boas.
    Tudo o que a Dona Antónia conta passava-se também na Vila de Moncorvo, sobretudo nos arrabaldes - Corredoura, Prado de Cima e de Baixo, Montezinho - lugares onde vivia a arraia miúda, força braçal do trabalho no campo e, como tal , os mais pobres.
    Era uma vila já com as suas pretensões a terra desenvolvida, com luz eléctrica desde o anoitecer até à uma hora da manhã, com Hospital, Casa do Povo, Asilo e um Colégio e uma data de doutores ... Ah, também havia o quartel da Guarda Republicana e depois Polícia e um velho Teatro, depois cinema, um clube dos ricos e a jóia da coroa : a enorme Igreja Matriz .
    Porém, se na vila havia muita pobreza, o que não seria nas aldeias mais distantes, dispersas pelas serranias, caminhos de cabras como acessos, fraguedo por todo o lado !!
    Vida duríssima e miséria tremenda !
    Canja de galinha? Para mulher parida e já com certas posses. Para camponesas era um caldinho de unto, com um miolo de pão. Foi o que a minha avó fez para a minha mãe quando eu nasci.
    Não queremos tais tempos de volta .

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