A minha mãe gostava muito de cinema e quando vinha
no verão matar saudades da filha e dos netos, eu procurava proporcionar-lhe umas
idas ao cinema. De preferência quando corria algum filme português ou
brasileiro, pois a minha mãe não sabia ler. (É a minha maior vergonha, mas isso
seria outra história).
Um dia vi que estava no cine-teatro o filme “Dona
Flor e seus dois maridos”, baseado no romance de Jorge Amado. Eu havia
lido praticamente toda a obra do autor, mas escapara-me a Dona Flor e os seus dois maridos.
Os miúdos ficaram com o pai e a minha mãe e eu fomos
ao cinema. Claro que eu não sabia que o filme continha aquelas cenas eróticas.
(Quem o viu, sabe do que estou a falar).
A certa altura, no meio de uma cena de sexo quase
explícito, esquecendo que havia pessoas à nossa volta, a minha mãe
pergunta em voz alta: “Aquilo é
uma mulher de verdade?”
Eu fiz: “Shiu, mãe, as pessoas querem ver o filme”.
Respondeu, talvez um nadinha mais baixo: “Eu só
perguntei se aquilo é uma mulher a sério”.
“É uma actriz, que está a representar. É tudo a
fingir.”.
“Ah, bem me queria parecer que uma mulher a sério
não se ia pôr “incoiratcha”, naqueles preparos, à frente desta gente toda” .
As gargalhadas estalavam à nossa volta. Eu só
pensava: ”Como é que vai ser quando as luzes acenderem?” Quando as luzes acenderam, eu fiquei muito
quieta, de cabeça baixa, mas a minha mãe olhou de frente para toda a
assistência.
Então, atrás de nós, ouviu-se uma voz masculina:
“Realmente, uma mulher a sério não se ia pôr naqueles preparos à frente de tanta
gente ”.
A minha mãe tocou-me no cotovelo e, muito assertiva,
exclamou: “Tás a ver? Eu tinha razão”.
No
Dia
da Mãe dou sempre comigo a pensar que a
minha própria inocência terminou no dia em que a minha mãe morreu.
Leiria. 4 de Maio de
2013
Júlia Ribeiro
Das outra mães ninguém fala,as que queimam,afogam,despejam nos contentores,abandonam nos carros etc.
ResponderEliminarLer o correio da manhã é um bom exercício para entender as relações mãe e filhos.O pai é igual com a agravante de ás vezes ser pedófilo.
A família é uma invenção da igreja para nos controlar.O sangue não existe,só na cabidela tem algum valor.
Eu provavelmente sou filho de um preservativo roto.
Exposto
Grande mal lhe causou a família para vomitar tanta raiva !!!
ResponderEliminarMeu pai foi a Angola,anos 80, tratar de uns negócios,passaram-se 3 meses,quando regressou soube que a nossa mãe era amante do seu melhor amigo.Divórcio,partilhas e ela que foi toda a vida dona de casa,tratava de nós,eu e mais dois irmãos,levou metade do trabalho de uma vida inteira.Dizem que mãe há só uma.Se é verdade por que me calhou a mim e aos meus irmãos?
ResponderEliminarNão aprendemos nunca,acabo de me divorciar.Mútuo acordo,as gémeas ficaram com ela,ganha bem e neste caso quem meteu a pata na poça fui eu.
Foi um desabafo.O texto tem muita qualidade ,humor e amor.Parabéns.
Anónimo
Já que non foi felix em piqueno , dezejo-lhe muntas felcidades.
ResponderEliminarTamem gostei do escrito da senhora julia.
De Lille mando um abraco para todos e para os Farapos.
Albertina Silva
Uma sena do camargo . Vá contando , ca gente tem de se ir rindo .
ResponderEliminar
ResponderEliminarLinda história para lembrar o dia da Mãe...Eu adorei,
Os meus parabéns, e um obrigado, também sou Mãe...!
Achei muita graça á palavra que aplica quando se está nua,
eu já conhecia, a família de meu marido é transmontana...
Saudações, e um bem haja! Célia Sousa.
Olá, Blogueiros:
ResponderEliminarObrigada a todos os comentadores: aos felizes e aos nem tanto. Em tudo há excepções.É assim a vida.
Mas eu tive uma mãe extraordinária! Até parece que foi escolhida por mim.
Isto é, se me tivesse sido dada a possibilidade de escolher, eu só teria escolhido a minha mãe.
Fui muito afortunada.
Abraços para todos e façam lá o favor de serem felizes.
Júlia Ribeiro
Gostei muito da historia, mas a imagem dos passarinhos e uma ternura ! Que coisa tao linda !
ResponderEliminarEntro as vezes aqui porque tenho muitas saudades do meu Tras-os-Montes.
Elisa Maria
Parabéns à autora,a nossa querida julinha,que com este texto simpático
ResponderEliminarhomenageou a sua querida Mãe.
Estou a ver a filha enternecida e provávelmente envergonhada ao lado da Mãe ao assistir àquelas cenas algo atrevidas,senão muito...A Mãe numa linguagem simpes e típicamente Transmontana,a comentar todo aquele"refustedo"e a imaginar que tudo aquilo era ,de facto,real.
Parabéns minha querida Senhora pela sua nobreza de alma!
Continue a cultivar esse dom,que o Mundo precisa e agradece.
Com um beijo enorme de estima e admiração
Irene
Nota:a foto é uma ternura e simboliza bem o carinho e amor Maternal.
Obrigada Elisa, obrigada Ireninha:
ResponderEliminarPara ambas dois abraços grandes.
Júlia