Tem
85 anos e durante toda a sua vida não conheceu outro ofício senão o trabalho do
campo. Com os dez anos de quem ainda pouco conheceu da vida já guardava vacas,
sozinha, e nunca foi à escola. “Não aprendi sequer a ler, foi trabalho no campo
sempre, a segar, a mondar e a arrancar batatas, a tudo...”. Viveu mais de trinta anos em Freixo de Espada
à Cinta, depois casou, aos 30 anos. Diz com o humor, que pouco se deixa
transparecer, que casou tarde porque não se lembrou mais cedo. Foi casar a Poiares,
onde com o marido sempre viveu das lides do gado.
Também
teceu, por encomenda, “tecia umas mantas com trapos e com algodão e ganhava-se
bem”, mas nunca largou a vida de pastora, pois as dificuldades nunca lho
permitiram.
Ana
Casada é de poucas palavras mas de resposta afiada, “agora aqui estou, não me
morro nem a tiro”, diz, como quem não quer fazer as pazes com a vida. O marido
faleceu recentemente, aos 91 anos, com quem esteve casada mais de meio século. Está
sozinha, “a vida foi muito difícil”, diz, e levou-lhe um filho que não chegou a
conhecer o dia.
É em Poiares, no Centro Social e Paroquial da aldeia, que há
quase dez anos vai passando os seus dias. Agora já não se molha como quando era
menina e tinha que andar com o gado à chuva, “quando chovia metíamo-nos entre
os baldes da água a ampará-la”. Recebia 20 escudos de jeira, metade do que o
homem recebia. Eram os tempos, onde os dias melhores tardavam muito a chegar.
Joana Vargas
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