08.12.1596 – Grandioso auto de fé da Cruz Verde, o primeiro do género realizado pela Inquisição na cidade do México. Muitos dos 67 réus penitenciados eram originários do Nordeste Trasmontano. Pertenciam a um conjunto de 100 famílias hebreias recrutadas por D. Luís de Carvajal y de la Cueva que com ele embarcaram em 1579 para conquistar e povoar a região Nordeste do México e Sudeste dos USA, ou seja o Novo Reino de Leão onde ele desempenhou o cargo de Governador. Passou à história com o título de El Conquistador, este homem nascido em Mogadouro por 1539 e, para além de Colombo, será um dos portugueses que mais fama ganhou em terras da América Central e do Norte. A ponto de os Mexicanos lhe terem erigido uma imponente estátua equestre na mais importante praça da cidade de Monterrey (a outrora capital de Nova Espanha). Também os Texanos, na comemoração do 4º centenário deste fatídico auto de fé homenagearam Luís de Carvajal e la Cueva com a composição de uma ópera –The Conquistador- apresentada pela orquestra de S. Diego, na qual a figura do Conquistador é interpretada pelo tenor Myron Fink, com libreto de Donald Moreland e a seguinte apresentação: - Dom Luís de Carvajal – Extraordinário conquistador – Fundador da cidade de Monterrey – Defensor dos direitos dos índios – Firme na fé católica – Mas, Maldição! – De ascendência judaica, é, inevitavelmente, vítima da Inquisição mexicana.
O Conquistador morreu na cadeia. Mas naquele auto de fé foram queimados vivos os seguintes membros de sua família:
A irmã Francisca de Carvajal, 57 anos, viúva de Francisco Rodrigues de Matos.
Catarina de Leão, 31 anos, filha da anterior, casada com António Dias de Cáceres, o qual foi também preso 4 dias antes do auto.
Isabel de Andrade, 37 anos, irmã da anterior, casada com Gabriel de Herrera.
Leonor de Carvajal, 24 anos, irmã das anteriores, casada com Jorge Almeida.
Luís de Carvajal, o moço, 30 anos, irmão das anteriores, que tomou o nome de el Lumbroso, o qual continuou afirmando a sua fé mosaica até ser morto na fogueira e é considerado um dos mártires do judaísmo. Também ele foi homenageado no 4º centenário da sua morte com a erecção de uma estátua, na cidade do México.
Miguel Rodrigues Carvajal, o irmão mais novo, foi queimado em efígie porque então já se encontrava em Itália pois fugira quando foram prender sua mãe e seus irmãos. Ele e o irmão mais velho, Baltasar de seu nome.
Outros membros do clã Carvajal foram então condenados em penas espirituais mas viriam também a ser queimados em outros autos de fé celebrados na mesma cidade, como foi o caso de Mariana, a mais brilhante das irmãs que foi queimada nas fogueiras da Inquisição em 1601 e Ana de Leão de Carvajal, a mais nova, igualmente condenada à morte em 1649.
Quando é que esta família de Trasmontanos tão importantes na história da América e ali homenageados, terão a honra de ver a mais modesta celebração na sua terra natal? Nós, os Trasmontanos, seremos assim tão pouco reconhecidos dos nossos antepassados e tão desinteressados da nossa história?
Ver: http://marranosemtrasosmontes.blogspot.com/2010/08/vultos-judaicos-bragancanos-iii.html
08.12.1609 – Relato da viagem de Severim de Faria entre Évora e Miranda do Douro:
- 21ª Jornada, 8 do Mês – De Vila Dala a Mencorvo há 7 léguas nela fizemos de noute. Neste caminho, duas léguas da Vila encontrámos dois lobos ao longo da estrada, um deles tamanho como um pequeno bezerro, que devia ser fêmea por um cachorro pequeno que o seguia. Foi sempre tão seguro que nunca se espantou dos nossos brados. Há nesta terra muitos e são mui daninhos e cada dia crescem mais por o descuido que há nas montarias dos povos e somente se lhe faz algum dano com o prémio que el-Rei manda dar a quem os caça, e desdunha, dando as peles em sinal da morte as quais depois os almoxarifes apresentam em Lisboa nas suas contas.
08.12.1803 – Dia de Nª Sª da Conceição, padroeira de Portugal. A Gazeta de Lisboa dá grande destaque às cerimónias religiosas então realizadas e ao facto de a família Real aparecer vestindo sedas das fábricas trasmontanas.
António Júlio Andrade
Esta história dos Carvajal é tremenda ! O que aquela família sofreu. Bem merecia que Trás-os-Montes lhe prestasse uma merecida homenagem.
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