liberta o pirilampo e liberta a Luz
arruma a ternura e arruma a casa.
E areja o sótão da tua infância.
Quando o Natal chegar
dá música aos surdos
e palavra aos mudos
afaga laranjas nas mãos frias
e figos secos ao luar
e amêndoas de Agosto a quem chegar
e limões, e ácidos limões, em teu lugar.
Quando o Natal chegar
à beira do rio olha a outra margem
cheia de sombras, pedras e perdas
e abre os braços, colunas e pontes
e começa a tocar a alma qual piano
na translúcida mágoa de nada tocar.
Quando o Natal chegar
Jesus já passou sem passar
na barca do tempo, entre margens
sem rio, mas à beira de naufragar.
Quando o Natal chegar
não leves granadas para casa
nem bombas para qualquer lugar.
Caça pombas ao anoitecer, morcegos
da tristeza e olhares cegos de vazios.
Quando o Natal chegar
olha os filhos como se só
então nascessem
e os dias fossem cristais
partindo grãos de romã,
tão sensíveis ao ouvido
mas sem pena nem sentido.
Quando o Natal chegar
adormece à beira dos violinos
com a loucura dos deuses
e a tristeza do Mozart.
Que os deuses devem estar loucos
porque a lareira está-se a apagar.
Quando o Natal chegar
cuida das prendas e ofertas
aos que nunca mais vão chegar.
Entre pedras e perdas
guarda o amor de guardar
que a face da mãe ondeia
e o pai adormece a lacrimejar.
Quando o Natal chegar
a nordeste de tudo, mais vale
encher o saco de Nada
e percorrer a noite, até ao abrigo
dos campos da quimera calcinada.
Com o saco cheio de Nada
visita Iraque e o Afeganistão.
Toca às portas da Palestina
e canta dor às portas da prisão.
Quando o Natal chegar
enche o saco de Nada.
Pode ser que por tanto Nada
algo te queiram dar:
um filho, um sorriso, talvez luar.
Quando o Natal chegar
talvez amor e amar.
Dádiva por dádiva,
aceita, é de aceitar.
Pedro Castelhano
Felicidades
e
um Natal partilhado
Bonito. Outra perspectiva do Natal.
ResponderEliminarDe vez enquanto cruzo com os poemas de Pedro Castelhano. Andam dispersos por vários blogues. Encontrei um em mirandês! Há um dedicada à neta que me comoveu. São de uma beleza ,agreste, lembram-me o verde das azedas nas velhas paredes de xisto. Gostava de os ler de um livro, sublinhar, rabiscar notas, destacar palavras ,levá-lo no bolso ,senti-lo meu!
ResponderEliminarContinue a semear por estes bolgues, não se preocupe com a colheita. Aí entramos nós. À brecha ou ao rebusco não deixamos nenhum no campo.
M.C.
Belo o poema,lindas as fotografias, interessante este último comentário.
ResponderEliminarManeldabila
Felicidades e um Natal partilhado - e para si.Belo poema.
ResponderEliminarObrigada, Rogério, por mais esta pérola.
ResponderEliminarJá nem me atrevo a perguntar para quando a edição em livro ?!!
Um grande abraço em partilha para si , para os seus e para todos os Homens de Boa Vontade (que vão rareando)...
Júlia
Aviso à navegação.
ResponderEliminarPedro Castelhano Américo Monteiro ,Rogério
Rodrigues e César Urbino Rodrigues, são pedranos (Peredo dos Castelhanos)
Sá Gué e Victor Rocha são lapouços (Carviçais)
Maria Carqueija, Carlos Seixas e Adília Fernandes pucareiros (Felgar)
António Júlio Andrade e Isabel Mateus Tchoqueiros (Felgueiras)
Carlos Abreu e Ilda Fernandes são pratas (Maçores)
Virgílio Tavares e Carlos Abreu(é bilingue) são Labregos (lousa)
Nelson Rebanda ,africano (Angola)
Júlio Barros Biló é india (Corredoura)
Quem é da BILA?Quem é paliteiro? ,CATANTCHU?!
Nota de rodapé:...”Os filhos dos senhores que andavam no colégio, muitos nunca foram nada na vida, sabe-se hoje na vila. Apalpavam e também tentavam dormir com as sopeiras”...
excerto de um texto de 1977
H.E.j.
O Campos Monteiro, júlia Biló, Américo Monteiro e irmão, Lucinda Tavares, Constantino rei dos Floristas,Visconde. O Abilio Dengucho foi administrdor do bnu,Guerra foi Vice-governador de Lisboa, Júlio e César Dengucho, advogado e juiz respectivamente etc. Todos eles estudaram no Colégio seu sectário.
ResponderEliminarEu parei agora aqui, e ainda bem que isto me aconteceu.Que maravilha! que beleza de texto ! Rico, pela mensagem que nos deixa; pela forma como o diz! Adivinha-se! Sente-se a voz deste sujeito poético! Há música neste poema!
ResponderEliminarComo é que só agora o vi?!
Coisas destas, não têm ttempo
Arinda Andrés
Olá, Rogério. Bonito poema, como outros que escreves e as belas crónicas e outros textos. Que tenhas saúde e gosto para continuar. Abraço. J. Andrade
ResponderEliminarObrigada ao blogue por nos presentear com este belo poema.
ResponderEliminar"Quando o Natal chegar", é sempre bom sentir, guardar a esperança de um mundo melhor!
Boas Festas para todos !
A.A.
Festas Felizes para o Rogério que nos deu esta maravilha, para todos os blogueiros e para os visitantes, bem como para todos os Homens e Mulheres de BOA VONTADE.
ResponderEliminarUm abraço muito grande.
Júlia
Que maravilha!E as fotos!Obrigada ao Rogério e votos de um Ano Novo e a todos os que passam por aqui,repleto das maiores venturas.Irene
ResponderEliminarÉ um poema com som, imagem, cor, e muito cheiro a nevoeiro de inverno. Obrigada por partilharem tao generosamente as vossas riquezas. Este blog é o cantinho mais terno da minha saudade e ternura que sinto pela minha querida Vila do coração.
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