O Largo da Corredoura |
Nasci e
cresci num bairro de camponeses, a Corredoura, fonte de mão d'obra barata para os terra-tenentes e os grandes
proprietários de olivais, vinhedo e amendoais. Na sua maioria eram absentistas
que só vinham a Moncorvo no tempo dessas
colheitas.
Na Corredoura,
com três ou quatro excepções, homens e mulheres eram todos analfabetos. Diziam
"semos" em vez de "somos", "mílharas" em vez de
"ovas", incoiratcho" em vez de "nu" e por aí fora. Eu
falava como eles e como a minha avó e a minha mãe, também analfabetas.
O pior foi
na escola e ainda pior no Colégio: levava cada raspanete por dizer "a
mulher do Juiz" em vez de "a esposa do Sr. Doutor Juiz" ; por
dizer "lazeira" em vez de "fome"; "chupão" em vez de "chaminé da
cozinha" ... etc. etc.
E, à minha custa, aprendi que falar
“corredourês” na Vila, junto da gente
fina, era extremamente negativo. Falar "perliquitês" na
Corredoura era motivo de troça.
Durante o dia tinha de mudar várias vezes de
registo . O que, para uma criança, não era sempre fácil !
Era o falar de gente pura ,que trabalhava a terra com carinho e ardor e que deram à luz ,grandes e nobres Senhoras.Bem haja pela sua Grandeza de alma.
ResponderEliminarUm enorme beijo de parabéns!
Irene
Dizer mílharas, lazeira, chupão,.. é sinal de analfabetismo?!?!?!?
ResponderEliminarcurioso, então temos alguns dicionários feitos por analfabetos. :)
Só agora sei que milharas são ovas.Eram tão boas!
ResponderEliminarVou a passar a dizer ovas?! uma ova!
Na bila dizia aloquete,codorno,carago,sombreiro,chuço,peguinho,choqueiro,panasca,..amarelo dos p. e cagado das moscas,catancho,imborrente,ingrunhidobagueiro,bardino,catrunhos,ir à brecha,rebusco...?
Noitibó
Na Bila dizia Vila e não dizia esse chorrilho que o amigo Noitibó aí escarrapachou. Não dizia nada disso, com excepção de "cagado das moscas".
ResponderEliminarMas em "corredourês" dizia o resto todo por aí fora e mais : imbude , zoira, langueiro, langueirão, basculho, reco, gandaia, criqueiro, langróia, bacamarte, ingrilório, pucra, baganau, badanau , peguilho, etc. etc.
Um abraço
Júlia Ribeiro
Muitas dessa palavras tambem se usavam,(e ainda hoje se usam) na minha aldeia que e Larinho.
ResponderEliminarO Larinho é a zona industrial de Moncorvo e um centro antigo em mau estado.O falar transmontano era comum em toda a região.O Abade Tavares fez uma recolha em Poiares e são todos nossos.Claro que na vila ,terra de dótores com picadeiro na Praça, as coisas piavam mais fino.Eram os ares do Porto e não os da serra.Terra de fidalgotes com brazões de falidos e trabalhadores de sol a sol.Aqui é que bate o vinte!Obrigado minha senhora pela lição.Quando foi estudar para Lisboa,Porto ou Coimbra como resolveu ?O sotaque e termos ficaram no Pocinho?Os senhores dos farrapos deviam editar estas coisas.Fazem falta.Venham mais cinco...textos,crónicas,viajens,mas venham.O cagado das moscas não era uma alcunha?O Noitibó tem faltado aos treinos e está desatualizado, cheira-me que é filho da "praça".Um aperto de mão aos dois e à "cambada" em geral..Bô andando.
ResponderEliminarL.A.Guardado.
Olá. amigo Guaidado:
ResponderEliminarTive a sorte de, em Coimbra, ter tido como Professor em Literatutas Inglesa e Alemã o Prof. Paulo Quintela que, por questões políticas, só depois do 25 de Abril acedeu à cátedra e passou a ser Professor, pois antes era apenas contratado. O Prof. Paulo Quintela era de Bragança, tinha orgulho em ser transmontano e no seu modo de falar , e eu pus de lado a vergonha do meu vocabulário transmontano. As minhas provas eram sempre bem classificadas por ele, justamente devido aos termos que eu usava e ainda uso (para espanto de colegas e amigas).
Um abraço amigo L.A. Guardado
Júlia Ribeiro