domingo, 6 de dezembro de 2015

Língua e Línguas,por Júlia Guarda Ribeiro

O Largo da Corredoura
Nasci e cresci num bairro de camponeses, a Corredoura, fonte de mão d'obra  barata para os terra-tenentes e os grandes proprietários de olivais, vinhedo e amendoais. Na sua maioria eram absentistas que só vinham a  Moncorvo no tempo dessas colheitas.
Na Corredoura, com três ou quatro excepções, homens e mulheres eram todos analfabetos. Diziam "semos" em vez de "somos", "mílharas" em vez de "ovas", incoiratcho" em vez de "nu" e por aí fora. Eu falava como eles e como a minha avó e a minha mãe, também analfabetas.
O pior foi na escola e ainda pior no Colégio: levava cada raspanete por dizer "a mulher do Juiz" em vez de "a esposa do Sr. Doutor Juiz" ; por dizer "lazeira" em vez de "fome";  "chupão" em vez de "chaminé da cozinha" ... etc. etc.
 E, à minha custa, aprendi que falar “corredourês”  na Vila, junto da gente fina, era extremamente negativo. Falar "perliquitês" na Corredoura  era motivo de troça.

 Durante o dia tinha de mudar várias vezes de registo . O que, para uma criança, não era sempre fácil !

7 comentários:

  1. Era o falar de gente pura ,que trabalhava a terra com carinho e ardor e que deram à luz ,grandes e nobres Senhoras.Bem haja pela sua Grandeza de alma.
    Um enorme beijo de parabéns!
    Irene

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  2. Dizer mílharas, lazeira, chupão,.. é sinal de analfabetismo?!?!?!?
    curioso, então temos alguns dicionários feitos por analfabetos. :)

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  3. Só agora sei que milharas são ovas.Eram tão boas!
    Vou a passar a dizer ovas?! uma ova!
    Na bila dizia aloquete,codorno,carago,sombreiro,chuço,peguinho,choqueiro,panasca,..amarelo dos p. e cagado das moscas,catancho,imborrente,ingrunhidobagueiro,bardino,catrunhos,ir à brecha,rebusco...?
    Noitibó

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  4. Na Bila dizia Vila e não dizia esse chorrilho que o amigo Noitibó aí escarrapachou. Não dizia nada disso, com excepção de "cagado das moscas".
    Mas em "corredourês" dizia o resto todo por aí fora e mais : imbude , zoira, langueiro, langueirão, basculho, reco, gandaia, criqueiro, langróia, bacamarte, ingrilório, pucra, baganau, badanau , peguilho, etc. etc.

    Um abraço
    Júlia Ribeiro

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  5. Muitas dessa palavras tambem se usavam,(e ainda hoje se usam) na minha aldeia que e Larinho.

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  6. O Larinho é a zona industrial de Moncorvo e um centro antigo em mau estado.O falar transmontano era comum em toda a região.O Abade Tavares fez uma recolha em Poiares e são todos nossos.Claro que na vila ,terra de dótores com picadeiro na Praça, as coisas piavam mais fino.Eram os ares do Porto e não os da serra.Terra de fidalgotes com brazões de falidos e trabalhadores de sol a sol.Aqui é que bate o vinte!Obrigado minha senhora pela lição.Quando foi estudar para Lisboa,Porto ou Coimbra como resolveu ?O sotaque e termos ficaram no Pocinho?Os senhores dos farrapos deviam editar estas coisas.Fazem falta.Venham mais cinco...textos,crónicas,viajens,mas venham.O cagado das moscas não era uma alcunha?O Noitibó tem faltado aos treinos e está desatualizado, cheira-me que é filho da "praça".Um aperto de mão aos dois e à "cambada" em geral..Bô andando.
    L.A.Guardado.

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  7. Olá. amigo Guaidado:
    Tive a sorte de, em Coimbra, ter tido como Professor em Literatutas Inglesa e Alemã o Prof. Paulo Quintela que, por questões políticas, só depois do 25 de Abril acedeu à cátedra e passou a ser Professor, pois antes era apenas contratado. O Prof. Paulo Quintela era de Bragança, tinha orgulho em ser transmontano e no seu modo de falar , e eu pus de lado a vergonha do meu vocabulário transmontano. As minhas provas eram sempre bem classificadas por ele, justamente devido aos termos que eu usava e ainda uso (para espanto de colegas e amigas).

    Um abraço amigo L.A. Guardado
    Júlia Ribeiro

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