Em "Giente d’eiqui”, Carlos Lopes
Franco apresenta um conjunto de fotografias em que mais do que o retrato das
pessoas, retrata uma realidade bem enraizada na memória coletiva e individual
das gentes da Terra de Miranda. A (teórica) ausência de cor funciona como um
poderoso filtro de toda a distração que a cor provoca ao observador destacando
assim as sensações que são transmitidas através da sensibilidade do artista em
interpretar aqueles instantes da realidade e não apenas em retratá-los.
Nesta seleção de fotografias, há
estórias, memórias, diversos e diferentes sentimentos contidos em cada uma
delas que Carlos Lopes Franco apresenta através de elementos harmonicamente
contextualizados em cuidadas composições magistralmente enquadradas. Ao longo
desta seleção de fotografias é possível observar essa forte carga emocional
expressa na delicada utilização da luz, no dinamismo dos contrastes, nas
expressivas tonalidades e, sobretudo, essencialmente nas pessoas! Para o autor,
fotografar alguém é entrar no seu mundo, ouvir a sua história, conhecer a sua
vida, e ter a habilidade de ser simples, contudo deixa também espaço a que o
observador construa a sua palete de cores mental num processo interpretativo
pessoal que faz com que a fotografia transcenda o simples conceito da imagem.
Fotografando a singularidade das
pessoas na Terra de Miranda apresenta, pela primeira vez, um conjunto de
imagens que retratam algumas das atividades mais emblemáticas de uma
comunidade, também ela, singular. Delas constam elementos basilares do
património cultural mirandês como os pauliteiros, o burro mirandês ou a gaita
de fole que ainda é presença assídua nas manifestações culturais mirandesas. Em
destaque está também a fogueira do galo que continua a ser uma das tradições
mais mobilizadoras da comunidade mirandesa.
Realizada desde tempos
imemoriáveis, apenas por rapazes solteiros, é uma tradição que se constitui
como uma referência incontornável da identidade e memória coletivas. Estas
atividades refletem também a cristalização e marginalização temporal vivenciada
pela Terra de Miranda por longos períodos da sua história e que aqui marcam
presença através da dimensão atemporal que a ausência de cor indicia. É da
cumplicidade que o autor consegue com as pessoas retratadas que sobressai a
imensa beleza do simples alcançando, com o uso de preto e branco, registos
limpos, fortes, incisivos e plenos de personalidade.
Assim, entre fotos provocantes,
afetivas, impactantes, humanas, impulsivas, belas e profundas fica a certeza de
que cada observador terá uma viagem única e pessoal pelo caminho das memórias,
dos sentimentos e das emoções a percorrer em cada uma das fotografias exibidas
em "Giente d’eiqui” no Museu da Terra de Miranda.
Carlos Lopes Franco (Barras –
Mafra, 1953).
A sua formação académica como
engenheiro mecânico e investigador na área da eficiência energética e ambiente,
contribui em muito para a harmonia e perfeito enquadramento dos elementos que
fotografa. O seu percurso pelo mundo da fotografia inicia-se aos 28 anos e após
um interregno de 25 anos regressa em 2007 à sua paixão pela oitava arte sendo
atualmente considerado um dos mais destacados fotógrafos amadores portugueses
contemporâneos. Enquanto autodidata o seu aperfeiçoamento técnico-teórico é
conseguido através da experimentação fotográfica bem como da observação e estudo
de fotógrafos conceituados.
Autor de dois livros editados,
"Nós, os outros”, 2012 e "5 dias em Paris”, 2014, conta também com
publicações em revistas e outros meios da especialidade de âmbito nacional e
internacional tais como "Phocal Photovisions”, "DNG Photo Magazine”,
"Visão”, "Camerapixo Independent Photography Magazine”, "B&W
Soul Vision – Photography Group” em janeiro de 2015 e convidado da semana do
programa "Fotografia Total” da TVI24 em julho de 2015.
Premiado em vários concursos
fotográficos nacionais, são contudo de destacar a distinção de fotografia
vencedora do mês de abril de 2015 na categoria de Saúde outorgado pelo
Parlamento Europeu, autor do mês de fevereiro de 2015 na revista "SHOT
Magazine”, bem como as 3 distinções como autor do mês conferidas pelo
conceituado e respeitado site nacional de fotografia "Olhares.com”.
Tendo exposto individualmente em
diferentes pontos do país regressa ao Museu da Terra de Miranda, 14 anos após
"Contrastes e Testemunhos da Vida Rural”, contando com um percurso
consolidado e reconhecido artisticamente fruto de uma forte perspetiva pessoal
assente na abnegada dedicação à arte de eternizar situações da vida real.
Fonte: http://culturanorte.pt/pt/noticias/exposicao-de-fotografia-gente-daqui/
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.